Crítica | Divaldo: O Mensageiro da Paz (2019)

Nota do filme:

“Deus é Aquele que me testa, Aquele que me faz evoluir, Deus é você!” Divaldo Franco (Bruno Garcia)

Divaldo: O Mensageiro da Paz é dirigido por Clóvis Mello e baseado no livro “Divaldo Franco: A Trajetória de Um dos Maiores Médiuns de Todos os Tempos”, escrito por Ana Landi. Trata-se de uma obra biográfica, e, portanto, acompanha a trajetória de Divaldo (João Bravo/Guilherme Lobo/Bruno Garcia), o espírita que acolheu centenas de crianças e passou sua vida a dedicar-se aos menos favorecidos. Desde o início, o longa já mostra a convivência do protagonista com a mediunidade, dom que despertou na infância.

A relação com os pais é pouco explorada, mas nota-se maior envolvimento emocional com a mãe D. Ana (Laila Garin), uma jovem protetora dos filhos. O pai, Francisco (Caco Monteiro), não ganha muito destaque, mas percebe-se que era incapaz de entender o dom espiritual do filho. A aptidão de Divaldo de ver os mortos é encarada com zombaria pelas outras crianças e, em alguns momentos, serve de alívio cômico, conferindo bom-humor à trama. A irmã, querida pelo protagonista, se mata e isso é a motivação para a mãe dele se afastar da Igreja, uma vez que o Padre Carmelo (Nelson Baskerville) se recusa a rezar a missa em intenção da suicida.

O longa não se furta em criticar a Igreja Católica, retratando o pai de Divaldo como um católico intolerante e rabugento e até mesmo o espírito do mal (Marcos Veras), que persegue o médium, apóia-se, estranhamente, no catolicismo. Culmina com o Padre Carmelo se rendendo ao intuito do protagonista de visitar o Centro Espírita, permitindo que ele vá, em uma cena que põe em xeque a crença do religioso. Até a confissão não escapa de um julgamento depreciativo.

A história se passa na Bahia e nos minutos iniciais o sotaque nordestino é preservado, mas depois se perde e não se ouve mais o acento baiano, embora a direção de arte atenda de maneira exemplar os aspectos da produção. Laila Garin e Regiane Alves se destacam em suas atuações e cumprem bem seus papéis de mãe zelosa e guia espiritual, respectivamente. Já a Guilherme Lobo parece que faltou mais entrosamento à trama devido à sua performance mais tímida.

A produção do filme merece notoriedade, sobretudo no quesito maquiagem: os traços carregados pela velhice de D. Ana no decorrer do tempo impressionam, além de que Laila Garin rouba a cena. Ambientação, cenário e figurino também são dignos de nota, o trem e a estação remetem à época, demonstrando grande zelo com a obra. Embora as tomadas da cidade serem sempre curtas, em planos fechados, a direção de arte fez um belo trabalho, mostrando uma Salvador no final da década de 40 bem convincente. Os ângulos e os closes favorecem o cuidado na apresentação da capital baiana de outrora.

Divaldo Franco foi um homem que abriu mão de sua vida pessoal para dedicar-se à caridade, mas o longa não vai muito além. Não houve preocupação em relatar a convivência dele com os parentes próximos ou mesmo com os amigos. A trama não desenvolve qualquer relacionamento pessoal do médium, tão somente explora as conversas com os espíritos, principalmente com sua guia Joanna de Ângelis (Regiane Alves), que permeiam toda a película. O filme conta como as mudanças ocorreram na vida de Franco, mas não mostra o que significaram para ele. Ele se deixa levar pelas orientações da guia, faltando-lhe mais personalidade em suas atitudes e ações.

Alguns conceitos da doutrina espírita são apresentados logo de início e servem como um didatismo oportuno e bem vindo para ajudar a entender a doutrina seguida pelo personagem principal. Termos como passe, obsessão e obsessor não são apenas mencionados, mas, de certa forma, explicados para o espectador de maneira que facilita o entendimento da obra e ajuda na imersão da história. Se a proposta era mostrar a vida de Divaldo, o enredo peca por se apressar e apenas pincelar suas conquistas de maneira superficial, sem se alongar nas motivações e relações pessoais.

No entanto, se o propósito era transmitir mensagens de paz, caridade, fé, amor e perdão, o filme se supera e cumpre o prometido. A passagem que melhor retrata isso é: “a morte do corpo é uma libertação. […] uma provação, que se encarada com resignação e sem revolta se transforma em evolução. A felicidade não é a ausência da dor, é a real compreensão de sua finalidade” dita pelo médium mais importante de todos os tempos. A película é do tipo que tem um público específico, mas emociona e satisfaz a todos que procuram ensinamentos cristãos.

Divaldo: O Mensageiro da Paz estreia em 12 de setembro nos cinemas.

Direção: Clovis Mello | Roteiro: Clovis Mello | Ano: 2019 | Duração: 120 minutos | Elenco: Guilherme Lobo, Bruno Garcia, Regiane Alves, Marcos Veras, Laila Garin, Caco Monteiro, Ana Cecília Costa, Bruno Suzano, Osvaldo Mil, João Bravo, Álamo Facó.