Nota do filme:
“Deus é Aquele que me testa, Aquele que me faz evoluir, Deus é você!” Divaldo Franco (Bruno Garcia)
Divaldo: O Mensageiro da Paz é dirigido por Clóvis Mello e baseado no livro “Divaldo Franco: A Trajetória de Um dos Maiores Médiuns de Todos os Tempos”, escrito por Ana Landi. Trata-se de uma obra biográfica, e, portanto, acompanha a trajetória de Divaldo (João Bravo/Guilherme Lobo/Bruno Garcia), o espírita que acolheu centenas de crianças e passou sua vida a dedicar-se aos menos favorecidos. Desde o início, o longa já mostra a convivência do protagonista com a mediunidade, dom que despertou na infância.
A relação com os pais é pouco explorada, mas nota-se maior envolvimento emocional com a mãe D. Ana (Laila Garin), uma jovem protetora dos filhos. O pai, Francisco (Caco Monteiro), não ganha muito destaque, mas percebe-se que era incapaz de entender o dom espiritual do filho. A aptidão de Divaldo de ver os mortos é encarada com zombaria pelas outras crianças e, em alguns momentos, serve de alívio cômico, conferindo bom-humor à trama. A irmã, querida pelo protagonista, se mata e isso é a motivação para a mãe dele se afastar da Igreja, uma vez que o Padre Carmelo (Nelson Baskerville) se recusa a rezar a missa em intenção da suicida.
O longa não se furta em criticar a Igreja Católica, retratando o pai de Divaldo como um católico intolerante e rabugento e até mesmo o espírito do mal (Marcos Veras), que persegue o médium, apóia-se, estranhamente, no catolicismo. Culmina com o Padre Carmelo se rendendo ao intuito do protagonista de visitar o Centro Espírita, permitindo que ele vá, em uma cena que põe em xeque a crença do religioso. Até a confissão não escapa de um julgamento depreciativo.
A história se passa na Bahia e nos minutos iniciais o sotaque nordestino é preservado, mas depois se perde e não se ouve mais o acento baiano, embora a direção de arte atenda de maneira exemplar os aspectos da produção. Laila Garin e Regiane Alves se destacam em suas atuações e cumprem bem seus papéis de mãe zelosa e guia espiritual, respectivamente. Já a Guilherme Lobo parece que faltou mais entrosamento à trama devido à sua performance mais tímida.
A produção do filme merece notoriedade, sobretudo no quesito maquiagem: os traços carregados pela velhice de D. Ana no decorrer do tempo impressionam, além de que Laila Garin rouba a cena. Ambientação, cenário e figurino também são dignos de nota, o trem e a estação remetem à época, demonstrando grande zelo com a obra. Embora as tomadas da cidade serem sempre curtas, em planos fechados, a direção de arte fez um belo trabalho, mostrando uma Salvador no final da década de 40 bem convincente. Os ângulos e os closes favorecem o cuidado na apresentação da capital baiana de outrora.
Divaldo Franco foi um homem que abriu mão de sua vida pessoal para dedicar-se à caridade, mas o longa não vai muito além. Não houve preocupação em relatar a convivência dele com os parentes próximos ou mesmo com os amigos. A trama não desenvolve qualquer relacionamento pessoal do médium, tão somente explora as conversas com os espíritos, principalmente com sua guia Joanna de Ângelis (Regiane Alves), que permeiam toda a película. O filme conta como as mudanças ocorreram na vida de Franco, mas não mostra o que significaram para ele. Ele se deixa levar pelas orientações da guia, faltando-lhe mais personalidade em suas atitudes e ações.
Alguns conceitos da doutrina espírita são apresentados logo de início e servem como um didatismo oportuno e bem vindo para ajudar a entender a doutrina seguida pelo personagem principal. Termos como passe, obsessão e obsessor não são apenas mencionados, mas, de certa forma, explicados para o espectador de maneira que facilita o entendimento da obra e ajuda na imersão da história. Se a proposta era mostrar a vida de Divaldo, o enredo peca por se apressar e apenas pincelar suas conquistas de maneira superficial, sem se alongar nas motivações e relações pessoais.
No entanto, se o propósito era transmitir mensagens de paz, caridade, fé, amor e perdão, o filme se supera e cumpre o prometido. A passagem que melhor retrata isso é: “a morte do corpo é uma libertação. […] uma provação, que se encarada com resignação e sem revolta se transforma em evolução. A felicidade não é a ausência da dor, é a real compreensão de sua finalidade” dita pelo médium mais importante de todos os tempos. A película é do tipo que tem um público específico, mas emociona e satisfaz a todos que procuram ensinamentos cristãos.
Divaldo: O Mensageiro da Paz estreia em 12 de setembro nos cinemas.
Direção: Clovis Mello | Roteiro: Clovis Mello | Ano: 2019 | Duração: 120 minutos | Elenco: Guilherme Lobo, Bruno Garcia, Regiane Alves, Marcos Veras, Laila Garin, Caco Monteiro, Ana Cecília Costa, Bruno Suzano, Osvaldo Mil, João Bravo, Álamo Facó.
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).