Crítica | Coringa (Joker) [2019]

Nota do Filme :

Depois do fiasco do Coringa de Jared Leto, as expectativas baixaram um pouco. Em Esquadrão Suicida não havia espaço para um personagem tão complexo. Mas, o objetivo desse texto não é comparar as atuações ou o mérito de cada filme. Até porque as referências do diretor Todd Phillips para Coringa (2019), não estão somente nos filmes de herói, nem mesmo nos quadrinhos. Em entrevista ao IMDB, disse que queria algo mais parecido com os filmes do Scorsese dos anos 70 e 80, como Taxi Driver (1976), O Rei da Comédia (1982), ou Touro Indomável (1980). Por isso, o que vemos é um mergulho na insanidade e a tragédia pessoal de um homem em seu despertar como psicopata. O personagem provoca empatia e ainda arranca risadas no cinema, e isso é assustador. 

Joaquin Phoenix é Arthur Fleck, o palhaço desiludido que sonha em ser comediante de stand-up. A atuação de Phoenix foi bem recebida no festival de Veneza, no que a imprensa afirmou que o filme foi aplaudido por 8 minutos seguidos. Esse é o tipo de notícia que aumenta as expectativas, e com toda razão. Coringa é tão perturbador que nos faz segurar a respiração e contorcer o rosto de aflição enquanto assistimos. E, ao mesmo tempo, é extremamente humano e parece um espelho que reflete nosso lado mais obscuro. 

Em uma entrevista, Joaquin Phoenix contou que perdeu 24 quilos para dar vida ao personagem. Segundo ele “quando se perde essa quantidade de peso em pouco tempo, você começa a ficar meio louco”. Entende-se o porquê; o corpo do Coringa também comunica sua melancolia. Desde a magreza e a maneira como ele se contorce quando se movimenta,  até o som de sua risada que se traduz em puro sofrimento e amargura.

A evolução de Arthur Fleck para se tornar o lendário vilão é gradativa. Em determinada cena,  além de pintar o próprio rosto como palhaço, ele também pinta a língua, como se estivesse internalizado aquilo que era uma fantasia,  tornando-a parte de si. A atuação quase teatral de Phoenix, junto com as metáforas visuais, montam o quebra-cabeça que constitui a complexidade da mensagem transmitida. 

Por outro lado, a trilha sonora do longa não só aumenta o suspense e a tensão das cenas, mas é, também, um ruído latejante que somente o próprio Coringa pode escutar. Na medida que ouvimos e reagimos à música, a impressão é de que estamos dentro da mente de um louco. A fotografia com cores saturadas mesmo em ambientes escuros e os enquadramentos em close, escancarando a emoção dos personagens, criam a atmosfera caótica.  Em mais uma cena genial do filme, Todd Phillips, sutilmente, quebra a quarta parede, a partir deste momento somos parte da história, e é impossível não querer saber como ela termina.