Crítica | Em Chamas (Beoning) [2018]

Nota do Filme:

O fogo é um elemento primordial que acompanha o ser humano desde os tempos mais remotos, auxiliando a evolução humana na forma de se facilitar a vida, servindo para cozinhar, afastar os animais selvagens e até mesmo em rituais. Além disso, pode-se tirar várias metáforas sobre ele, tal como é realizado no longa e é perceptível pela escolha do título.

Com isso, o diretor  Lee Chang-dong, que também assina o roteiro, entrega um filme com uma premissa bem simples, que acaba com uma resolução brutal por conta de um desenvolvimento bem peculiar entre um dos personagens do núcleo, que possuí  um hobby ímpar, o que gera o grande mistério da narrativa.

Imagem: Divulgação

E, vale ainda exaltar a atuação do trio principal. Yoo Ah-in é o protagonista do filme, Jong-su, e consegue transpor a ardência interna de seu fascínio para com o horizonte, deixando claro na cena em que ele se masturba no quarto de sua amiga enquanto olha pela janela, até a sua obsessão tomar conta do segundo para o terceiro ato do filme.  Jeon Jong-seo  encarna a jovem sonhadora Hae-mi, faminta pela resposta ao que seria o sentido da vida, tanto que vai até a Africa para encontrar sua satisfação e incumbe o protagonista de alimentar o seu gato enquanto está fora, o que se tornará um divisor de águas essa ação. E Steven Yeun (The Walking Dead) da vida a Ben, o rico intrigante que sacode a relação dos outros dois personagens e o que irá criar a obsessão no protagonista devido ao seu hobby.

Além disso, o longa se sobressai ainda por conta de sua direção de arte, edição e fotografia. A primeira exterioriza o título ao colocar algum objeto vermelho em quase todas as cenas do filme, podendo ser de forma sútil ou bem escrachada, sempre deixando a cor evidente em algum momento. A segunda consegue ditar o ritmo de forma contínua, sem deixar o espectador cansado ou confuso por conta de algum corte brusco, além de utilizar os recursos de fade in fade out primorosamente, separando indiretamente os atos do filme em capítulos de forma bastante elegante. E a terceira utiliza de uma paleta de cores mais quentes, até mesmo nos momentos mais sombrios ou escuros, sempre expondo essa explosão que os personagens tem dentro de si.

Contudo, apesar da edição estabelecer o compasso temporal, o roteiro acaba por ser um pouco maior do que deveria, podendo ser longo demais em determinado momento, e graças ao mérito da dupla de editores não consegue deixar o filme exaustivo. Todavia, por se tratar de uma adaptação de um livro, os seus 148 minutos merecem o benefício da dúvida, sempre com o pensamento de que poderia ser mais enxuto.

Imagem: Divulgação

No quesito direção, Chang-dong faz um ótimo uso alternando entre a câmera estática e a câmera na mão, conseguindo atingir níveis de dramaticidade sem precisar jogar o zoom na cara dos personagens, sempre deixando no plano introspectivo as dúvidas de cada um, lembrando um pouco a direção de Terrence Malick em alguns momentos, como por exemplo quando os três fumam um baseado de maconha e Hae-mi começa a dançar olhando o horizonte. Vagarosamente, o diretor conduz a audiência de uma leve chama até um incêndio gigantesco que subverte todas as expectativas.

Logo, o filme apresenta diversas camadas, muito por conta da quantidade de metáforas que se pode fazer entre o fogo, seus personagens e conflitos, tanto como pode-se fazer análises interessante sobre o gato de Schrödinger através do famigerado gato autista de Hae-mi, e em como isso pode ser relacionada ao fio condutor da história. Além disso, foi selecionado pela Coreia do Sul como candidado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e dada a sua qualidade é capaz de que apareça na lista final.