Crítica | Bruxa de Blair (Blair Witch) [2016]

‘A Bruxa de Blair’, de 1999, foi um marco nos filmes de terror. Na época em que a cultura da internet ainda gatinhava, os rumores sobre a veracidade da história eram fortes (muito por conta da técnica found footage). Lendas sobre bruxas em florestas escuras ganharam espaço no imaginário da população (e não estamos falando da Idade Média). A febre foi tanta que o custo-benefício do longa também causou arrepios, pois apesar do baixíssimo orçamento de 35 mil dólares, houve um faturamento de 248 milhões em bilheteria.

Com o sucesso comercial, um ano depois foi lançado ‘A Bruxa de Blair 2: O Livro das Sombras’, que caminhou no sentido oposto, sendo um fracasso com o público e crítica.

Em busca da redenção da franquia, o estúdio Vertigo anunciou mais uma continuação, lançada em 2016, sob a direção de Adam Wingard, conhecido no gênero por ‘Você é o Próximo (2011) e ‘V/H/S’ (2012) . Além de apostar em um cineasta já conhecido no meio, a produção também optou por retomar o estilo found footage.

O plot da nova obra tem ligação direta com o desfecho do clássico de 1999. Após um vídeo ser colocado por um estranho no Youtube, onde supostamente aparece Heather (a personagem do primeiro filme) dentro da cabana da floresta, seu irmão (James) decide ir até o local em mais uma tentativa de encontrá-la com vida.

Como forma de atualizar a narrativa, o enredo adiciona novas tecnologias aos membros da busca, que agora utilizam GPS, walk talk, minicâmeras e um drone. A tática ajuda a mostrar que mesmo mais preparados, a floresta continua sendo uma grande ameaça (o que permite que o local mostre novas “armadilhas”). A construção do primeiro ato flui muito bem, com exceção de um diálogo no qual o morador local tenta explicar como funciona a “maldição” da bruxa. A resposta é totalmente desnecessária, visto que depois a questão é respondida de forma muito mais orgânica.

Quanto à elaboração do misticismo da trama, alguns elementos são acrescentados, como o uso de voodo e a aparição de uma criatura presente em contos sobre bruxaria. No entanto, este segundo item é mal explicado pelo roteiro, pois em certos momentos deixa a entender que essa figura é a própria personificação da bruxa, causando confusão no espectador.

Os atores, pouco conhecidos, não comprometem o clima de tensão, apesar de algumas tentativas de piadas forçadas nos primeiros minutos (como quando um personagem foge gritando de outro). Quando seus personagens começam a se separar, são por motivos que fazem sentido, assim como a maioria de suas ações.

A respeito dos sustos, não há muito o que reclamar. Eles acontecem. Em alguns casos, mais influenciados pelo som do que pelo visual (uma das técnicas mais clichês). Uma pitada de efeito especial também está na fórmula, invadindo a tela em ocasiões pontuais. O diretor tenta intensificar a experiência de imersão na segunda parte do filme, através do aumento de close-up’s  nos rostos dos personagens, deixando o público sem saber o que se passa ao redor deles. Há também o uso do plano fechado em uma passagem apertada, a fim de agravar a sensação de claustrofobia, mas a ideia, apesar de funcionar, é muito semelhante a outro longa do gênero, chamado ‘Ghoul’ (2015).

Outro grande artifício utilizado na linha de tensão diz respeito a uma anomalia no espaço/tempo, que embora contribua para dramatizar a narrativa,  acaba soando um pouco exagerado, além de também já ter sido explorado em outros títulos do terror.

O novo ‘Bruxa de Blair’  assusta e consegue ser melhor que o segundo filme da franquia, no entanto não traz nenhuma novidade para o gênero. Quando os créditos sobem na tela preta, o espectador logo percebe que é apenas mais um título na prateleira, onde será esquecido em pouco tempo.