Crítica | Brooklin sem Pai nem Mãe (Motherless Brooklin) [2019]

Nota do Filme:

Brooklin sem Pai nem Mãe é um filme neo-noir dirigido, escrito, produzido e estrelado por Edward Norton baseado no romance homônimo de Jonathan Lethem, publicado em 1999. A história se situa em Nova York na década de 50 e segue um solitário detetive particular, com síndrome de Tourette, Lionel Essrog (Norton), que está determinado a resolver o assassinato de seu mentor e grande amigo, Frank Minna (Bruce Willis). Antes de morrer, Minna deixa um caso enigmático sem solução e, mesmo sem muitas pistas, Lionel decide ir em busca de desvendar o fato e conhecer os culpados pela morte do amigo.

O que começa com uma investigação de homicídio com parcas pistas ganha maiores proporções e acaba se transformando em um jogo de perseguição envolto em raízes políticas e questões sociais. Logo, Lionel se vê em uma trama complexa, diante de reivindicações sociais e conflitos entre o povo e as autoridades do governo devido ao processo de revitalização urbana nos bairros mais pobres. Ele tenta associar tais fatos ao assassinato de Frank, mas fica cada vez mais perdido. Ocorre que a motivação inicial do protagonista cede espaço ao fenômeno da gentrificação, a qual assume o foco central da narrativa e as investigações do detetive trilham novo rumo.

O bairro do Harlem, onde se passam as manifestações no longa, tem sofrido com transformações estruturais e essas alterações, que afetam as áreas mais pobres da cidade, intensificaram-se a partir de 1994, quando Rudolph Giuliani assumiu a Prefeitura de Nova York. Coincidência ou não, o personagem de Alec Baldwin, um político corrupto e infrator, que está a frente do processo de gentrificação é chamado de Moses Randolph. O tema é válido e importante ponto a ser discutido, tendo em vista que é objeto de controvérsias e posicionamentos díspares, mas não consegue segurar como foco do filme.

O longa é ambicioso, conta com uma bela fotografia e um elenco primoroso, com nomes como Bruce Willis, William Dafoe, Bobby Cannavale e o próprio Edward Norton, o “cabeça” da obra, além de situá-la na década de 50 a fim de conferir um clima noir ou, talvez, mascarar o alvo que se quer atingir com a temática em cena. Mas, esses artifícios ainda não foram suficientes para cumprir o prometido. O roteiro é confuso, conta com conveniências para facilitar a narrativa e deixa alguns furos no ar. Exemplo disso é que o vilão poderia ter resolvido o imbróglio desde o início, não fazendo sentido buscar a solução para o problema só depois que o herói desvenda o mistério.

Permeado de sobretudos e ambientado no inverno, o filme carrega os ingredientes do gênero noirfemme fatale, detetive pitoresco, pessoas suspeitas, mistério a ser solvido – e essa atmosfera é forçada para se prender ao estilo, com ambientação soturna, cores frias e música remetendo à categoria. Contudo, não são só os elementos figurados que fazem uma projeção atingir um gênero com sucesso. Falta em Brooklin Sem Pai Nem Mãe uma boa história, revelações convincentes, reviravoltas clássicas, habilidades que fizeram o noir ter o reconhecimento que merece.

As atuações são refinadas – os cacoetes de Norton devido à síndrome são verossímeis, mas essa condição não interfere em nada na história – e a direção de arte é competente e cumpre bem o seu papel. Destaque, também, para a trilha sonora que define o tom e é fácil de apreciar, além de que o filme apresenta uma bela música original escrita e executada por Thom Yorke. No entanto, a história não se sustenta, o desfecho não é consistente e em um passar de olhos é fácil desconstruir o roteiro falho e ineficaz. Longa demais, a narrativa se arrasta e entrega uma conclusão decepcionante para a saga, que apesar de possuir um tema interessante, é caótica na tentativa de ser mirabolante.

Brooklin sem Pai nem Mãe estreia em 05 de dezembro nos cinemas.

Direção: Edward Norton | Roteiro: Edward Norton | Ano: 2019 | Duração: 144 minutos | Elenco: Edward Norton, Bruce Willis, Gugu Mbatha-Raw, Alec Baldwin, Willem Dafoe, Bobby Cannavale, Cherry Jones, Michael Kenneth Williams, Leslie Mann, Ethan Suplee, Dallas Roberts, Josh Pais, Robert Ray Wisdom, Fisher Stevens, Radu Spinghel, Peter Lewis, Nelson Avidon.