Crítica | Boleiros: Era Uma Vez o Futebol… (1998)

Nota do Filme:

“Por natureza e qualquer que seja o resultado, todo torcedor está condenado à amargura, à decepção.”

– Nick Hornby

O que exatamente torna o futebol, talvez, o mais apaixonante dos esportes? A multiplicidade de respostas a essa pergunta já é um bom indício do interesse que o mesmo desperta: alguns dirão que é sua imprevisibilidade, a impossibilidade de cravar o resultado de uma partida; uns podem defender que é a emoção envolvida; para outros, trata-se do divertimento puro. Ou quiçá seja tudo isso junto e ao mesmo tempo. O que é inegável é que a modalidade é fonte inesgotável de histórias das mais diferentes naturezas, do prosaico ao hilário, do emocionante ao inacreditável. Pois é essa característica explorada com maestria por Boleiros: Era Uma Vez o Futebol…, uma pequena joia do Cinema Nacional.

Amigos de longa data, o ex-jogadores Otávio (Adriano Stuart), Naldinho (Flávio Migliaccio), Ari (João Acaiabe), o ex-atleta e agora técnico Tito (Oswaldo Campozana), o profissional em vias de se aposentar, Mamamá (César Negro) e um ex-árbitro (Rogério Cardoso) se reúnem regularmente em um bar paulistano para botar a conversa em dia e, invariavelmente, relembrar causos do mundo da bola. A partir dessa premissa, o longa segue uma narrativa episódica que nos apresenta seis pequenos contos que, embora não estejam relacionados, seguem uma lógica fluida e orgânica que faz com que o espectador se sinta parte daquela conversa.

A direção de Ugo Giorgetti é competente por ser discreta e deixar que a antologia se narre por conta própria, assim como seu roteiro é eficiente por – com o perdão do trocadilho – não fazer muita firula, indo direto ao ponto. Já o elenco principal é coeso e vende bem a ideia de que aquele grupo pertence ao universo futebolístico. O elenco de apoio, por sua vez, oferece personagens marcantes, em especial Otávio Augusto com o seu icônico Virgílio Pênalti. Mas é mesmo Flávio Migliaccio, com seu comovente monólogo no encerramento da produção, quem mais se destaca.

Outro mérito do projeto reside na sua atemporalidade. Embora, no momento em que esse texto é escrito, Boleiros já tenha mais de vinte anos desde seu lançamento, ele permanece atual, uma vez que emprega muito bem a linguagem universal do esporte, podendo ser desfrutado em pleno 2019 sem o menor risco de soar datado (algo que, aliás, também se aplica à sua sequência, de 2006). Igualmente notável é o trânsito realizado entre diferentes gêneros: ora comédia, ora drama, a história proporciona – como uma partida de noventa minutos – um misto de sensações e experiências.  

Podendo ser atraente até para os que não são aficionados pelo que ocorre dentro das quatro linhas, já que seus relatos são facilmente identificáveis e entender o jogo não é condição para compreender o que é visto, Boleiros é, como o futebol, uma jornada empolgante, repleta de fascínio e emoção. E de quebra evidencia o talento infinito do Cinema brasileiro.