Crítica | Bem-Vinda a Quixeramobim (2022)

Nota do filme:

Bem-Vinda a Quixeramobim é uma divertida comédia do cearense Halder Gomes, que possui no currículo filmes no mesmo estilo, como Cine Holliúdy (2013) e O Shaolin do Sertão (2016). Estrelado por um elenco majoritariamente nordestino, o longa apela para piadas regionais e linguagem popular local. A obra segue Aimée (Monique Alfradique), uma influencer com muitos seguidores, que mora com o pai, Olavo (Arthur Kohl), em uma mansão em São Paulo até ele ser preso por corrupção.

Vivendo sempre no luxo, de repente a protagonista se encontra com suas contas e seus bens bloqueados pela Justiça. É quando ela descobre uma antiga casa de sua mãe, em Quixeramobim, no Ceará e parte para o nordeste com o fim de vender a residência, única disponível, para tirar algum lucro com a operação. Lá ela se hospeda em uma pousada peculiar, onde conhece Genésia Gilda (Valéria Vitoriano), Shirleyanny (Chandelly Braz) e Eri (Max Petterson) e aos poucos vai se tornando amiga deles e se familiarizando com os trejeitos locais.

Halder Gomes conduz o projeto com muito afinco, explorando o regionalismo e exaltando as belas paisagens do Ceará. Ele faz questão de mostrar as belezas locais, mas conecta as imagens do Estado com espontaneidade, sem parecer forçado, aproveitando a natureza do lugar e ainda fazendo uma crítica à sociedade da era digital, onde muitos fazem questão de mostrar uma existência fictícia para o apelo de curtidas e engajamento nas redes sociais.

O elenco é muito afinado, todos parecem ter realmente se divertido nas gravações, mas a leveza do roteiro e a disposição dos atores devem ter contribuído para essa impressão. Contudo, a naturalidade deles em cena transmite realidade à produção. A direção de arte é muito caprichada e junto com o figurino e a trilha sonora fazem um excelente trabalho em contribuir para a imersão no filme, ajudam a fazer o espectador acreditar ainda mais que o conteúdo na tela é real.

O cuidado com o figurino é muito especial, como se nota nas roupas de Aimée, que vão mudando gradativamente à medida que ela se afeiçoa ao local e à comunidade em sua volta. O elenco todo tem chance de brilhar, em um momento ou outro alguém faz uma participação de destaque, mas quem rouba as cenas é Max Petterson. Em seu primeiro longa ele é capaz de mostrar o grande potencial. Chandelly Braz também está estreando no cinema e não faz feio, tampouco fica atrás dos veteranos.

Seguindo o padrão das outras obras do diretor, este também esbanja nas piadas escatológicas e no vocabulário regional e a maioria funciona bem. Entretanto, o filme perde força e começa a se arrastar a partir do segundo ato. A comicidade está mais estampada no início e depois a película tenta se concentrar na jornada do povo contra o sistema, mas isso não é bem construído. Além de que a reviravolta esperada termina acontecendo por força diversa da que estava se desenhando até então e, assim, acaba por esvaziar uma trajetória que vinha se formando.

Muito embora feitas tais considerações, a produção não deixa de tecer válidas críticas sociais, mas se apoia no velho conceito “rico mau x pobre injustiçado”, sendo que o pobre, no caso, não tem força para modificar sua situação e essa vulnerabilidade é exposta de forma gratuita. Não há uma guinada que compense o desequilíbrio entre as partes. O desfecho termina sendo apressado e apesar de criar uma sensação de esperança para o povo, esta não é proporcionada da forma aguardada, preferindo optar por uma solução mirabolante, com o toque do acaso e deixando, portanto, a conclusão forçada.

A química do elenco, as piadas assertivas e o belo cenário são suficientes para entreter e divertir o público e deve funcionar com todos os fãs dos filmes anteriores de Gomes, mas não são o bastante para fazer o espectador fechar os olhos e deixar de ver o roteiro frágil e mal finalizado, cujo desfecho é açodado e resolvido com um descarado Deus ex Machina. No entanto, vale a ida ao cinema, porque a leveza e a descontração tomam conta da produção e contagiam o público, que precisa e merece valorizar o cinema nacional.

Bem-Vinda a Quixeramobimestreia em 13 de outubro de 2022 nos cinemas.

Direção: Halder Gomes | Roteiro: L. G. Bayão, Márcio Wilson, Marina Novais, Halder Gomes | Ano: 2022 | Duração: 106min | Elenco: Monique Alfradique, Edmilson Filho, Max Petterson, Chandelly Braz, Valéria Vitoriano, Arthur Kohl, Falcão, Haroldo Guimarães, Silvero Pereira, Luis Miranda, Araci Breckenfeld, Carri Costa, Roberta Wermont, João Guilherme Cavalcante, Mateus Honori, Titela, Bolachinha, Fêi Que Dói, Victor Alen, Adaildo Neres, Mara Nivea.