Nota do Filme :
Criado pelo desenhista Bob Kane e pelo escritor Bill Finger, Batman saiu dos quadrinhos e ganha vida no universo do audiovisual há décadas, em filmes e séries, tornando-se conhecido e querido por muitos fãs de super-heróis. O atual longa, dirigido por Matt Reeves, é a mais recente fonte do herói na telona. Reeves adere à atmosfera sombria e entrega um excelente trabalho. Estrelado por Robert Pattinson, o Homem-Morcego retorna às origens do personagem como detetive vigilante e sai em busca de solucionar as pistas deixadas por uma maníaco psicopata, que mata pessoas e deixa charadas direcionadas ao protagonista.
Dirigir um filme com um personagem tão amado por fãs do mundo todo e com tantas mídias contando sua história certamente não é tarefa fácil. Este era um longa esperado e repleto de expectativas, contudo, a produção foi desempenhada com muita competência e não deve decepcionar nem mesmo os espectadores mais exigentes. Sem piadas e focado no drama, Batman de Reeves se assemelha mais ao estilo Nolan (Batman Begins, O Cavaleiro das Trevas e Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge), mas com uma abordagem própria, realçando as características investigativas do personagem.
A obra defende a alcunha do Batman de Detetive das Sombras ao colocá-lo na pele daquele que soluciona enigmas e vai de pista em pista atrás do assassino. Não se delonga mostrando a origem do protagonista, até porque depois de tantas mídias exibindo sua história, seria desnecessário contar mais uma vez como o recluso bilionário Bruce Wayne tornou-se o vigilante mascarado de Gotham City. Muito bem retratada por sinal, a cidade ganhou os devidos contornos de sombras e o tom soturno que exige a ambientação para o universo do personagem.
Com a narrativa fluida, a película consegue manter o interesse do público nos mistérios a serem desvendados e nem mesmo a longa duração é uma questão a ser reparada. O tempo é usado de forma eficaz, sem perdas ou preenchimentos desnecessários, otimizando o potencial para trazer o espectador para dentro da tela. A fotografia se destaca e ajuda na imersão, percebendo-se o esmero em todas as cenas e o respeito aos aspectos do universo do herói.
Com o tom sombrio do início ao fim, o filme não poupa nem a família do protagonista. Bruce tem que seguir as dicas que levam ao assassino e também lidar com questões pessoais, quando até a moralidade de Thomas Wayne é posta à prova. Corrupção, tráfico, mortes: a obra não mede esforços para manter a atmosfera sóbria de uma cidade decadente e caótica, que urge por um vigilante que possa agir com a imediatidade e a liberdade de formalismos que o local requer. Assim, justifica-se a tolerância e amizade entre Jim Gordon (Jeffrey Wright) e o mascarado.
Apenas com dois anos de luta contra o crime, o longa não deixa de ser sobre a jornada do herói e leva ao público uma mensagem de enfrentamento, amadurecimento e desapego a antigos conceitos. Já foi comprovado que Robert Pattinson é um ótimo ator e o astro não decepciona no papel do protagonista. Tenso, focado e vulnerável, o Batman de Pattinson desconstrói a imagem do super-herói infalível para viver um personagem que experimenta o sofrimento, erra e aprende com isso. A dor costuma transformar a pessoa para o bem ou para o mal e ele precisa amadurecer para fazer sua escolha e se distanciar dos inimigos.
Usado como instrumento pelo Charada (Paul Dano), nota-se que Pattinson vive um Batman suscetível e a vulnerabilidade do personagem auxilia na empatia do espectador e aproxima o herói do público. Há uma cena em que o protagonista quase cai de um prédio e ele fica aterrorizado com a possibilidade de cair sem os apetrechos tecnológicos estarem ativos. Apesar de ser um breve instante, foi significativo e permitiu exibir não apenas a inexperiência do vigilante, mas sua humanidade também, com o medo da morte.
Esses momentos fazem de Bruce Wayne um ser incrível. Sem poderes sobrenaturais e contando apenas com força física, inteligência e incrementos tecnológicos é um herói humano, falível, sofrido, com uma história de vida triste, solitária e que aprende a deixar a vaidade de lado para ajudar o próximo, confiando nos próprios impulsos para trazer a tão distante paz a Gotham, mesmo com a desilusão em sua volta. A obra é taciturna e carregada de melancolia, mas parece ser a primeira a mostrar a verdadeira crueza do âmago do Homem-Morcego.
O elenco de estrelas contribuem para o primoroso resultado: além de Robert Pattinson, Zoë Kravitz (Selina Kyle) incorpora uma Mulher-Gato charmosa, destemida e enigmática que deixa o espectador na vontade de saber mais sobre ela. Compõem ainda o longa nomes como: Colin Farrell (Oz/Pinguim), Paul Dano (Edward Nashton/Charada), Andy Serkis (Alfred Pennyworth), Peter Sarsgaard (Gil Colson), Jeffrey Wright (Jim Gordon) e John Turturro (Carmine Falcone). Todos entenderam bem seus papéis e merecem destaque nas performances realizadas. Farrell está irreconhecível e seu Pinguim podia ter ganhado mais relevância.
A química entre Batman e Selina criou um clima atraente e ao mesmo tempo tenso e que poderia soar desnecessário, mas a relação entre eles comunga com o universo criado. Conseguiram incorporar a atmosfera ao redor e jogar na interação entre os dois. Assim também é o relacionamento de Bruce e Alfred, palpável e sem pieguices. Apesar do tom seco e vazio do rapaz com o mordomo, este não se intimida e busca entendê-lo, como em uma relação familiar. Eles não se tratam como pai e filho, mas fica óbvio que a relação é terna e que um é tudo que o outro possui.
Os vilões também auxiliaram para trazer autenticidade à produção. Eles trocaram as profundezas do esgoto por um local de igual podridão e corrupção, mas muito mais palatável para os dias de hoje. Eles ainda vivem no submundo de sujeira e imoralidade, mas os vãos subterrâneos de Gotham cederam espaço a boates clandestinas, as quais compõem o palco para a rede de crimes da cidade. Com aparência de nerd, pálido, com óculos, sem músculo, Paul Dano reúne características que contribuem para o Charada de Reeves. Absorto e entregue ao papel, ele fez um ótimo antagonista.
A parte técnica, com nomes brilhantes no processo, é irretocável. Conforme trecho extraído do site da Warner Bros: “a equipe criativa do diretor nos bastidores incluiu o diretor de fotografia indicado ao Oscar, Greig Fraser (Duna, Lion: Uma Jornada para Casa); o designer de produção de Reeves em Planeta dos Macacos, James Chinlund, e o editor William Hoy; editor Tyler Nelson (A Máquina de Lembranças); e a figurinista vencedora do Oscar, Jacqueline Durran (1917, Adoráveis Mulheres, Anna Karenina). A música é do compositor ganhador do Oscar, Michael Giacchino (os atuais filmes Homem-Aranha, Jurassic World e Star Wars, Up – Altas Aventuras) ”. 1
O Cavaleiro das Trevas já foi interpretado por vários astros na telona: Michael Keaton, Val Kilmer, George Clooney, Christian Bale e Ben Affleck. E cada fã tem seu Batman favorito, mas o topo da ordem de preferência dificilmente passará incólume com a presença de Pattinson incrementando a lista. Corajoso e eficiente, Batman de Reeves tem muito a acrescentar e enriquecer o rol de filmes de super-herói e deve agradar aos fãs de quadrinhos, de investigação policial, de drama e de Cinema.
Batman estreia em 03 de março de 2022 nos cinemas.
Direção: Matt Reeves | Roteiro: Matt Reeves, Peter Craig, Mattson Tomlin | Ano: 2022 | Duração: 175 minutos | Elenco: Robert Pattinson, Zoë Kravitz, Jeffrey Wright, Colin Farrell, Paul Dano, John Turturro, Andy Serkis, Peter Sarsgaard, Barry Keoghan, Jayme Lawson, Alex Ferns, Gil Perez-Abraham, Peter McDonald, Con O´Neill, Rupert Penry-Jones, Kosha Engler, Archie Barnes, Hana Hrzic.
1Parágrafo extraído do portal da Warner Bros. Pictures em 28/02/2022: https://ingressos.batmanfilme.com.br/?synopsis&campaign=WBPortal
Apaixonada por filmes e séries, queria transformar o mundo em um lugar melhor, deitada na minha cama, ligada na TV.
“Sou só uma garota ferrada procurando pela minha paz de espírito.” Kruczynski, Clementine (Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças).