Crítica | Aves de Rapina – Arlequina e Sua Emancipação Fantabulosa (Birds of Prey – And The Fantabulous Emancipation Of One Harley Quinn) [2020]

Nota do Filme:

Em época de empoderamento feminino Aves de Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa vem a favor da corrente e prova que um filme de super-herói (uma anti-heroína, no caso) com mulheres no poder é capaz de divertir e satisfazer o público em geral. O quinteto formado por Arlequina (Margot Robbie), Dinah Lance/Canário Negro (Jurnee Smollett), Helena Bertinelli/Caçadora (Mary Elizabeth Winstead), Cassandra Cain (Ella Jay Basco) e a policial Renée Montoya (Rosie Perez) formam um grupo inusitado de heroínas.

A reunião da equipe foi construída aos poucos e de forma natural, sendo apresentada cada uma em separado. Todas tem seu momento para brilhar e a história contada em pequenas passagens, mas suficientes para o espectador conhecer um pouco sobre cada uma e alimentar a vontade de saber mais. Margot Robbie está mais uma vez no papel da Harley Quinn/Arlequina e sua atuação continua primorosa, convincente e vivaz. Isto é, a Arlequina mantém seu modo desequilibrado e frenético que encantou os espectadores do fraquíssimo Esquadrão Suicida (dirigido por David Ayer em 2016).

Além de demonstrar energia nas cenas de luta, Robbie mostra seu potencial cantando em uma espécie de número musical na sua mente conturbada, provando que não é apenas bela, mas uma grande atriz. As outras igualmente entregam atuações convincentes, com destaque para Smollett, que também contribui com uma belíssima voz. A trilha sonora merece destaque, anima e engrandece a história.

A Gotham City apesar de ser mostrada às claras, com muitas cenas diurnas, não perde o tom caótico, com tiroteios, mortes e fugas de carro pela cidade. Como o título sugere, a trama gira em torno da emancipação da protagonista, que busca dar um ponto final em sua relação com o Mr. J. (o Joker interpretado por Jared Leto), fazendo desta obra uma continuação de Esquadrão Suicida. Contudo, esse é somente o pontapé inicial da trama, tendo continuidade com a busca dos personagens por um valioso diamante, que nada mais é que o McGuffin da película.

Ewan McGregor (Roman Sionis/Máscara Negra) interpreta, de maneira vigorosa, o vilão do longa, um sádico criminoso à procura da mencionada pedra preciosa, que conta com a ajuda da Arlequina e de alguns aliados para obter seu objeto de valor. Ocorre que a protagonista se vê forçada a proteger uma pré-adolescente, Cassandra Cain, para conseguir o diamante. A interação entre ambas é bem abordada e rende mais carisma à desequilibrada Quinn.

Aproxima a Arlequina do público quando a mostra vulnerável e triste pelo fim de um relacionamento amoroso. Após essa fase, a personagem principal ganha força e aos poucos deixa aparecer suas camadas em meio a contornos psicóticos e desequilíbrio emocional. A busca pela independência vai deixando-a cada vez mais forte. A obra diverte com cenas dinâmicas de ação, um estilo arrojado e muitas cores. Com contornos definidos estabelece uma base para uma provável e bem-vinda sequência.

Contudo, o roteiro possui algumas fragilidades e conveniências narrativas, como na passagem em que Harley copia cena do Exterminador do Futuro (James Cameron, 1985) e, sozinha, com uma arma lenta, consegue adentrar em um departamento repleto de policiais e sair ilesa. Não sendo apenas esta a problemática do plano. Aparecem mercenários no mesmo lugar, sem explicação de como conseguiram passar pelos policiais, que já deveriam estar fortemente armados e em busca da delinquente, quando, na verdade, só surge a detetive, rival da protagonista, para contornar o ocorrido.

O empoderamento feminino é fortemente promovido no filme, mas chama a atenção pela forma como é tratado, sem forçar situações ou exaltar os casos de machismo mostrados, como na passagem em que a detetive Montoya realiza um trabalho, mas é o policial Tim Monroe (Derek Wilson) que recebe os créditos. Esse fato é contado de forma natural, apenas como uma situação corriqueira que deixa os homens em vantagem em prejuízo à mulher, real merecedora dos louros do caso.

As mulheres impressionam pela vitalidade, força, determinação e acertam, sobretudo, pela vontade de ajudar umas às outras, como nas vezes em que Lance se arrisca para livrar a Arlequina de uma situação de perigo ou em que tenta consolar a Cassandra em um momento difícil. Além de que a reunião do grupo é fruto da sororidade entre elas, que se mantém unidas em prol da empatia de umas às outras.

Escrito e dirigido por mulheres o longa faz uma bela abordagem sobre machismo e diferença de gênero. Não é que o filme levante a bandeira do feminismo e force uma exposição de circunstâncias machistas para valorizar a mulher, os fatos ocorrem de forma orgânica e são mencionados naturalmente. Ademais, deve-se levar em consideração que é narrado pela Arlequina, uma mulher em conflito que está em busca de sua independência e emancipação fantabulosa. 

Aves de Rapina estreia em 06 de fevereiro de 2020 nos cinemas (possui cena pós crédito).

Direção: Cathy Ian | Roteiro: Christina Hodson| Ano: 2020 | Duração: 109 minutos | Elenco: Margot Robbie, Rosie Perez, Mary Elizabeth Winstead, Jurnee Smollett-Bell, Ewan McGregor, Ella Jay Basco, Chris Messina, Ali Wong, David Ury, Sara Montez, Isabel Pakzad, Daniel Bernhardt, KC Strubbe, Jacky Shu, Paloma Rabinov, Derek Wilson.