Crítica | As Rainhas da Torcida (Poms) [2019]

Nota do filme:

Quando foi lançada, em 2015, a série Grace and Frankie proporcionou interessantes discussões sobre a representação da terceira idade, sobretudo feminina, algo que, ainda hoje, permanece escasso, uma vez que podemos contar nos dedos com que frequência pessoas idosas costumam ter suas histórias, seus dramas e dilemas retratados nas telas. Assim, é duplamente curioso notar que em 2019 ao menos duas comédias – claro, ainda é pouco – já decidiram focar nesse tema: A Última Gargalhada, lançado no início do ano, e As Rainhas da Torcida, primeiro longa de ficção da diretora Zara Hayes (caso tenha gostado de A Guerra dos Sexos, estrelado por Emma Stone e Steve Carell, vale conferir o documentário da cineasta sobre o episódio).

É duplamente curioso porque, além do referido protagonismo, ambos retratam personagens com dificuldades em aceitar e encarar essa fase da vida, somente acatando a própria condição após passarem a morar em localidades específicas para suas idades. Se no primeiro caso, Chevy Chase e Richard Dreyfuss saem da casa de repouso que habitam para cair na estrada, aqui, Martha (Diane Keaton) passa a morar em um condomínio destinado a aposentados no sul dos Estados Unidos. Relutando viver como uma senhorinha pacata, ela decide montar um grupo de cheerleaders (todas as moradoras do local precisam se inscrever em um clube de atividades, podendo criar um próprio caso tenham a ideia) para participar de um show de talentos.

Daí para frente, o filme segue à risca as convenções do estilo “montar uma equipe peculiar para participar de uma competição/apresentação”, algo muito bem feito no brilhante Ou Tudo ou Nada, passando pela praticamente obrigatória cena de audição e seleção das integrantes. Não causa surpresa, portanto, que o roteiro escrito por Hayes e Shane Atkinson – baseado em uma iniciativa real – busque extrair humor no inusitado da situação. A contrapartida é que, com essa decisão, as coadjuvantes são pouco desenvolvidas e só chegamos a nos aproximar de fato de Martha e da colega Sheryl (Jacki Weaver). 

Weaver, por sinal, é o grande destaque da produção. Com seu rosto expressivo e boas tiradas, é a responsável pela maior parte dos momentos engraçados. Keaton, por sua vez, confere a sutileza e o peso dramático permitidos em uma comédia, o que leva a perguntar se a veterana era a melhor escolha para o papel. Embora dotada de inegável talento e grande carisma, é preciso admitir que timing cômico nunca foi muito o seu forte (sua Annie Hall despertava bem mais doçura que riso), algo que fica patente quando o humor físico é exigido. Temos então um contraste pouco eficiente entre as cenas em que, apenas com uma mudança nas linhas do rosto, a atriz expressa uma gama de sentimentos, e as cenas que pedem maior comicidade por meio de gestos simples.  

Mencionado acima, o roteiro merece crédito por evitar ser demasiado expositivo, optando, junto à direção, por mostrar certos elementos que por si só já dizem alguma coisa. Dessa forma, quando vemos Martha manobrar um carro em um estacionamento repleto de carrinhos de golfe, entendemos o quanto ela quer se distanciar daquele estilo de vida e, mais do que isso, manter consigo traços de sua juventude ativa. Ou então, quando determinada propaganda surge na televisão, a mera reação da protagonista explicita o que isso significa, sem que ela precise falar.

No geral, As Rainhas da Torcida cresceria consideravelmente caso fosse mais ambicioso e desenvolvesse seu potencial narrativo e o talento de suas atrizes, preferindo, em vez disso, se ater a uma proposta mais modesta e entregar um resultado leve que dificilmente será classificado como memorável. No entanto, reafirma a noção de que pessoas idosas também possuem histórias a serem contadas, e o Cinema pode possuir um importante papel em contribuir com essa visibilidade.