Crítica | América Armada (2018)

Nota do Filme:

O Documentário América Armada apresenta de forma rica a realidade brutal da violência de Estado na América Latina. Apesar de entregar uma produção rica, respeitosa e sensível, ela falha em apresentar a discussão e os debates a respeito do tema enquanto deixa de lado uma parte importante do próprio debate: os agentes do Estado.

O documentário dirigido e escrito por Alice Lanari e Pedro Asberg apresenta a realidade da violência de Estado na América Latina a partir das lentes de três ativistas na região da América Latina: México, Colômbia e Brasil. Similar a documentários do mesmo tema, a produção segue uma linha baseada nos relatos narrados pelos ativistas e na relação dos mesmos com os jornalistas.

O que torna o documentário uma obra de bastante riqueza é na forma crua e sensível de apresentar a dor, a perda e a violação dos direitos que mancham a vida daqueles que foram vítimas da ação brutal do Estado. A fotografia do documentário é bem executada e expressa essa normalização da violência e seus efeitos no cotidiano da vida daqueles que vivem nas margens.

“A paz virá ainda nesta vida” – Procurando a origem das balas perdidas.

Apesar do documentário lidar de forma bem superficial com o conceito de “capitalismo criminoso” ele falha em apresentar com riqueza o debate político relacionada ao abuso de poder do Estado. O que pode proporcionar uma experiência pouco reflexiva para o telespectador e reduzir o poder de alcance da mensagem compartilhada pelos ativistas.

Ademais, apesar de o foco da produção ser o ativismo, é possível sentir a falta do outro lado da discussão. O documentário teria se beneficiado da produção de depoimentos de agentes do Estado em diversas esferas, isto produziria uma narrativa mais complexa, maior dimensão sobre os obstáculos do próprio ativismo contra a violência estatal e reduziria conclusões maniqueístas sobre um debate complexo.