Crítica | Adoráveis Mulheres (Little Women) [2020]

Nota do Filme:

Mais uma adaptação do romance Mulherzinhas (Little Women) de Louisa May Alcott, Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig (Lady Bird: A Hora de Voar, 2017), abre com uma frase que simboliza o enredo do filme: “passei por dificuldades, então escrevo contos felizes”. A obra acompanha quatro irmãs – Jo (Saoirse Ronan), Amy (Florence Pugh), Meg (Emma Watson) e Beth (Eliza Scanlen) – que amadurecem na virada da adolescência para a vida adulta enquanto os Estados Unidos atravessavam a Guerra Civil. Com personalidades completamente diferentes, elas enfrentam os desafios da vida, nos anos 1860, na Nova Inglaterra.

O longa passeia pelo presente e passado no intuito de seguir a narrativa atual, apresentar a adolescência das jovens e o que sucedeu até ali. Cada uma é determinada a viver conforme seus próprios termos e todas têm espaço para apresentar seus objetivos latentes, mas Jo se sobressai, denotando o protagonismo de Saoirse Ronan no drama. Enquanto esta sonha em engrenar na carreira de escritora, Meg almeja casar e ter filhos, Amy deseja ser uma pintora famosa e Beth quer apenas tocar seu piano e ficar com a família.

As quatro irmãs estão sempre juntas e impera o amor entre elas, até a chegada de Theodore “Laurie” Laurence (Timothée Chalamet), quando ele se junta ao quarteto e dá início a algumas desavenças. Mas, nada que as separe por muito tempo. Não há aqui lugar para discórdia, temperamentos afetados ou drama denso. A trama é simples e a parca complexidade que há se dá ao fato de usar metalinguagem e não ser linear, mesclando passado e presente com pequenos cortes, mas sem confundir o telespectador, que rapidamente se ambienta no tempo em questão, com ajuda da ágil fotografia que muda de cor, facilitando a compreensão temporal.

A história, apesar de simples, não é simplória, e toca em temas relevantes em relação à liberdade feminina e ao comportamento predominantemente machista da época. Uma obra baseada em um livro escrito por uma autora, dirigido por uma cineasta, que conta as histórias de quatro mulheres, não perde a oportunidade de levantar a bandeira do empoderamento do gênero. Discorre sobre o papel da mulher na sociedade durante e após a guerra e trata do quê de fato se busca quando uma personagem feminina é retratada em tela.

A sofisticação fica por conta da direção de arte, que faz um ótimo trabalho. A ambientação, a fotografia, o figurino e o cenário (este último, principalmente, nas cenas do segundo ato que se passam na Europa) estão visualmente incríveis e remetem à época de forma graciosa. As atuações também merecem destaque, sobretudo em relação à Ronan, Pugh, Chalamet e à, sempre excelente, Meryl Streep (Aunt March), apesar do pouco de tempo de tela desta. Porém, Laura Dern (Marmee March) e Bob Odenkirk (Father March) parecem subutilizados em cena.

A beleza do longa está na forma como é contado, que, diga-se de passagem, lembra um conto de fadas, a história não é fascinante, nem possui um roteiro excepcional, entretanto, tem uma leveza e sensibilidade que conseguem encantar o espectador. Alguns conflitos são criados para conferir valor à narrativa e agregar algumas surpresas no decorrer do filme, mas é a delicadeza que projeta a obra. Sem contar no carisma e na ingenuidade encantadora das personagens.

O roteiro é impulsionado para criar um enredo amarrado, com o frescor e a graciosidade da época, além de satisfazer o espectador, mas conta com alguns furos quando avança demais com a história no terceiro ato. As mais de 2 horas podem deixar o público entediado, já que se trata de uma obra monótona, sem acontecimentos impetuosos e com uso excessivo de flashbacks, além de contar com cenas desnecessárias, parecendo fácil uma edição para deixá-lo mais enxuto.

Analisando os arcos em separado corre-se o risco de enfrentar uma trama sem graça e pouco contagiante, como os planos de Meg, que são pusilânimes, falta energia e Watson não consegue empolgar na sua personagem medíocre, mas a ideia como um todo torna o filme agradável e relevante com muita pujança para a atualidade dada a relevância temática da narrativa. Pode não contar com plots twists, mas o final não resiste a uma bela surpresa.

Adoráveis Mulheres estreia em 09 de janeiro de 2020 no cinema.

Direção: Greta Gerwig | Roteiro: Greta Gerwig, Sarah Polley | Ano: 2020 | Duração: 135 minutos | Elenco: Saoirse Ronan, Emma Watson, Florence Pugh, Eliza Scanlen, Laura Dern, Timothée Chalamet, Tracy Letts, Meryl Streep, Bod Odenkirk, Chris Cooper, James Norton, Louis Garrel, Jayne Houdyshell, Rafael Silva, Abby Quinn,, Maryann Plunkett, Hadley Robinson, Ana Kayne, Tom Kemp.