Crítica | Ad Astra: Rumo às Estrelas (Ad Astra) [2019]

Nota do filme:

O conflito existencial do ser humano frente a vastidão do universo já foi e é bastante abordado no cinema, se tornando um subgênero dentro da ficção científica, com cada longa analisado sob uma ótica diferente, demonstrando, assim, uma gama de questionamentos acerca do mesmo tema.

“Roy McBride (Brad Pitt) é um engenheiro espacial que decide empreender a maior jornada de sua vida: viajar para o espaço, cruzar a galáxia e tentar descobrir o que aconteceu com seu pai, um astronauta que se perdeu há vinte anos no caminho para Netuno.”

Com Rodrigo Teixeira (Me Chame Pelo Seu Nome) entre os produtores no novo filme de James Gray (A Cidade Perdida de Z), e com Brad Pitt escalado como protagonista, a experiência se torna no mínimo curiosa e, assim, se transforma no que pode ser o melhor longa da filmografia do diretor.

Isso ocorre porque, diferente dos outros filmes de James Gray, neste ele tem mais controle sobre todos os elementos e sabe onde e como quer chegar no seu objetivo, apesar de repetir alguns erros dos seus longas anteriores, como a falta de ritmo em certos momentos e um roteiro que soa piegas às vezes.

Contudo, James Gray tem todo o mérito por fazer Ad Astra um ótimo filme, visto que a direção realizada por ele é leve, precisa e, quando necessária, intensa. Assim, a câmera possui um cuidado ao, por exemplo, mostrar as cenas sem gravidade, na qual ela flutua como se estivesse sendo afetada pelo ambiente, ou então quando os personagens estão dentro das estações ou nas cidades espaciais, em que o diretor utiliza a câmera na mão para provocar essa imersão no ambiente.

No mais, a importância do roteiro, que também é assinado pelo diretor, tem seu papel ao dissecar toda a relação entre pai e filho, demonstrar a evolução tecnológica e científica sem esquecer o instinto animalesco dos humanos, além de fazer questionamentos pertinentes à solidão, trauma e amor, mesmo que as resoluções das tramas apelem para um sentimentalismo plausível, porém bobo. Ademais, o recurso da narração em off realizado pelo protagonista se torna importante como uma maneira de explicar o contexto para o espectador, sem que soe forçado.

Além disso, diferente de longas como Gravidade ou Interstellar, a direção de fotografia executada por Hoyte Van Hoytema (Dunkirk) não foca na ambientação externa do espaço sideral, apesar de que, quando necessário, faz um trabalho vistoso, porém sem o mesmo apelo visual de, por exemplo, Emmanuel Lubezki. Todavia, o trunfo da fotografia do longa é no ambiente interno, seja dentro das cápsulas espaciais ou das estações, na qual utiliza o vermelho para exteriorizar a raiva do personagem de Pitt em relação ao seu pai, ou o amarelo com variações para o laranja, demonstrando a evolução da insanidade que toma o protagonista aos poucos até transformá-la na ira da mágoa de sua relação paterna.

Ainda, a direção de arte possui função vital para o longa funcionar, pois é através dela que o questionamento da expansão humana interplanetária face à solidão do indivíduo é ressaltada. A ambientação se torna componente primordial para evitar que o roteiro precise ressaltar a angústia do protagonista em relação à capitalização universal, sendo demonstrado, por exemplo, com uma placa de uma franquia de restaurantes popular na estação lunar.

Entretanto, o que se destaca na produção é a trilha sonora e o som, que, em certos momentos, se fundem em perfeita sincronia, além de conseguir criar a sensação de perigo em relação ao espaço, com a cautela de abafar o som quando o vácuo é colocado em perspectiva.

Em relação a Brad Pitt, ele entrega uma excelente performance ao retratar um astronauta melancólico e nervoso, no qual o destaque está nos seus olhares e questionamentos. Por conta disso, a atuação contida do personagem é similar, dadas as devidas proporções, ao que Casey Affleck faz em Manchester A Beira-Mar, entregando um personagem que prefere utilizar o olhar ao invés de vociferações, ou poucas palavras profundas no lugar de grandes monólogos.

Portanto, Ad Astra se mostra como um ótimo filme que corresponde ao que se propõe, mesmo que haja problemas em relação ao ritmo e um sentimentalismo barato, mas que, no geral, é satisfatório, além de trazer mais uma grande atuação de Brad Pitt.