Crítica | A Vigilante do Amanhã (Ghost in the Shell) [2017]

O live-action A Vigilante do Amanhã de Rupert Sanders (Branca de Neve e o Caçador) é baseado na versão animada de O Fantasma do Futuro (1995) e ligeiramente em Fantasma do Futuro 2: Inocência (2004), ambas com direção de Mamoru Oshii, desenvolvidos a partir da série de mangás Kōkaku Kidōtai, escrito e ilustrado por Masamune Shirow.

Em 2029, o mundo se tornou um local altamente informatizado. Seres humanos modificados podem acessar extensas redes de informação com seus cybers-cérebro. Major (Scarlett Johansson) é a líder da unidade de serviço secreto do Esquadrão de Elite do governo Contra-terrorismo: a Seção 9. A mente e a alma de Major foram extraídas, preservadas e re-inseridas em um corpo cibernético desenvolvido tecnologicamente para aprimorar suas habilidades originais, a fim de combater os ataques de ciberterrorismo à tecnologia de inteligência artificial da Hanka Robotic.

A produção manteve fidelidade as cenas icônicas do clássico de 1995, com direção de Mamoru Oshii, do desenvolvimento do corpo da Major até a luta contra o robô “Spider Tank”.
A ambientação em “New Port City”, uma espécie de megalópole asiática, é extremamente futurista, com enormes hologramas e luminosos, que se misturam num cinza emaranhado de fios e cabos. Os efeitos visuais são impressionantes.

A versão de Sanders não segue exatamente a mesma seqüência da animação. Com roteiro de Jonathan Herman e Jamie Moss, alguns personagens novos são desenvolvidos, como a Dra. Ouelet (Juliette Binoche) – que tem um amor “materno” por Major; outros personagens são simplificados ou unificados.

O longa possui 30 minutos a mais do que a versão animada, além de alguns elementos adicionados à trama. Antes, a perceptível melancolia e filosofia existencial da Major apresentada na animação com simples gestos, pensamentos, ou diálogos com Batou (Pilou Asbæk), como: “Às vezes suspeito que não sou quem acho que sou. É como se eu tivesse morrido há muito tempo, e alguém tivesse pego meu cérebro e colocado nesse corpo. Talvez nunca tenha existido um verdadeiro ‘eu’.” Agora, tiveram de ser necessariamente reproduzidas em cena.
Como grande parte do live-action é gerado em computador, com a finalidade de ser visualmente um espetáculo robótico com explosões, truques visuais e hologramas, o tom sombrio e filosófico que a animação possui foi perdido, dando lugar a uma tipica jornada em busca de aceitação própria.

A atuação de Scarlett Johansson não decepciona. A atriz consegue passar a angustia sem expressão característica da ciborgue Major, em meio a uma crise existencial não sabendo definir-se como ser humano ou máquina.
Takeshi Kitano, Pilou Asbæk, Juliette Binoche também tiveram atuações louváveis.

Kuzo (Michael Pitt), vilão do filme, é um personagem novo com referencias do mangá, é alguém que faz parte do passado de Motoko, e a incentiva na busca por lembranças adormecidas, Kuzo é um clichê de criatura contra criador.

Sobre Whitewashing (pode conter spoiler)
Mamoru Oshii, diretor da adaptação original do anime de Ghost in the Shell, afirmou que não vê problema algum com Scarlett Johansson, atriz com traços ocidentais, desempenhando um papel que muitos assimilam ser uma mulher asiática.
“Major é um ciborgue e sua forma física é totalmente assumida. Então não há base para dizer que uma atriz asiática deve retratá-la”, disse ele ao IGN via e-mail.
Esta afirmação é parcialmente derrubada (sobre não haver base) quando, no próprio filme, algumas lembranças de Major retornam, representando-a quando era humana por uma atriz asiática. Boa parte da declaração de Oshii pode ser aceita, partindo do principio de que Major é apenas um “fantasma” de Motoko dentro de uma “concha”* desenvolvida para preservar não uma etnia, mas um cérebro, uma alma.
A ciborgue de Scarlett Johansson leva apenas o nome ‘Major’ durante o filme, evitando a identidade asiática de sua versão humana, Motoko Kusanagi.
Tratando-se de um mundo quase pós-apocalíptico, altamente globalizado, é de se esperar a diversidade entre os personagens, o elenco conta com o dinamarquês Pilou Asbæk como Batou, o japonês Takeshi Kitano como Aramaki, e os atores de ascendência curda e polonesa, Danusia Samal como Ladryia e Lasarus Ratuere como Ishikawa.
*Ghost in The Shell em tradução livre é ‘Fantasma na Concha’.

A Vigilante do Amanhã: Ghost in the Shell estreia em 30 de março nos cinemas brasileiros. É um incrível espetáculo visual, com boas atuações, bom desenvolvimento no geral, que respeita a história e referencias visuais da icônica animação que se propôs a adaptar sem deixar a originalidade.