Nota do Filme:
Quebrando qualquer expectativa que seu título possa criar, A Fera é um longa inofensivo, do tipo que não faz mal nem a uma mosca. Sua chegada aos cinemas nesta quinta-feira (11/08) deve atrair os fãs de ação e aventura e estes, provavelmente, sairão da sala satisfeitos, mas apenas isso. Acaba sendo divertido voltar aos anos 90 em pleno 2022 e assistir um filme mediano para baixo em que o protagonista é perseguido por um animal perigoso e fora de controle. Porém a história não vai muito mais longe e fica a cargo do espectador julgar se a fórmula simplória, por si só, continua interessante.
Em A Fera, acompanhamos Nate Samuels (Idris Elba), um médico que perdeu a esposa recentemente e que está viajando para a reserva na África do Sul, onde a conheceu, junto com as filhas Norah (Leah Jeffrey) e Mare (Iayna Haley). Mas o que começa como uma viagem tranquila, acaba se tornando um pesadelo quando o grupo passa a ser perseguido por um leão vingativo e incrivelmente forte.
A direção é do islandês Baltasar Kormákur, já muito longe de ser um novato no gênero. Em sua filmografia podemos encontrar títulos que misturam ação, policial e thriller como Dose Dupla (2013), Contrabando (2012) e Evereste (2015), sendo este último, talvez, o seu maior sucesso. Seu trabalho em A Fera é honesto e eficiente, mas uma pena que nada o salve de sua própria tolice. Ao longo da narrativa, Kormákur investe em planos-sequência bem ensaiados e até inventivos que ajudam o espectador a imergir na trama, conseguindo somar alguns pontos de interesse ao filme. O ritmo é bom e a duração de 90 minutos é suficiente para que ninguém canse, mas mesmo que não se proponha a ser um novo Tubarão, também não precisava subestimar tanto a inteligência do público.
O grande problema de A Fera é o roteiro pouco inspirado, para não dizer preguiçoso. São muitas facilitações narrativas, um drama raso e desinteressante, além de que, sem as decisões idiotas tomadas pelos personagens, é provável que o filme nem sequer existisse. É verdade que A Fera só quer ser um simples entretenimento, mas porque tanto desinteresse? Por mais batida que seja, a proposta tem potencial narrativo e um diretor disposto a fazer algo diferente. Mas sem o devido esforço, a história nunca realmente engata, fica presa ao pior de todos os limbos: o dos filmes inofensivos, que não ficam na memória.
O nome de Idris Elba foi estrategicamente escolhido para ser o principal chamariz de A Fera. Não fosse ele, talvez o filme passasse direto para os streamings sem muita pompa. O ator faz um bom trabalho, mas nem de longe sua fisicalidade combina com o personagem, que é um médico sem absolutamente nenhuma experiência de selva. Apesar de ter passado a vida inteira na cidade negando as raízes africanas da esposa, Nate demonstra excelente habilidade no manejo de armas e na luta contra o leão enfurecido. Leah Jeffrey e Iayna Haley não se destacam, mas também não atrapalham. Num filme como esse, o que realmente prejudica é a falta de desenvolvimento dos personagens e seus conflitos, concluídos aqui sem nenhum peso narrativo.
Ainda que formulado para o simples entretenimento do público, A Fera merecia um pouco mais de substância para valer o ingresso (cada vez mais caro). A fórmula continua funcionando, mas não parece ser suficiente para produzir qualquer reação digna de nota. É um filme que diverte na medida do possível, porque chega sorrateiro e consegue dar o bote no espectador desavisado (perdão pelo trocadilho ruim) que espera algo, de fato, impactante. Como mencionado, A Fera é um filme inofensivo, que não fere, mas também não chega a agradar. Um gatinho preguiçoso na pele de um leão imponente.
Jornalista viciada em recomendar filmes e revisora de textos recifense que vive escrevendo sobre cinema nas horas vagas.