Nota do filme:
Yorgos Lanthimos já havia demonstrado seu talento em obras como O Lagosta (2005) e O Sacrifício do Cervo Sagrado (2017), agora em A Favorita, ele consegue criar uma maravilhosa sátira sobre a realeza, fazendo uso de todo cinismo possível para contar um elaborado jogo de xadrez entre três mulheres na Inglaterra do século XVIII.
O filme conta a história da rainha Anne (Olivia Colman) que, apesar de suas fraquezas e doenças adquiridas por seus distúrbios alimentares, tem em Lady Sarah (Rachel Weisz) sua grande amiga e confidente. As duas se conhecem desde a infância, mas Sarah se utiliza disso para conseguir seus objetivos, manipulando e induzindo as decisões da Rainha. Sarah logo vê essa amizade ficar ameaçada quando sua prima Abigail (Emma Stone), com todo seu carisma, consegue conquistar o carinho e, também, a amizade da rainha, o que causa ciúmes profundos em Sarah. O decorrer disso gera situações inusitadas e uma sucessão de acontecimentos absurdos.
Por se tratar de um filme onde o plano central da história é o relacionamento entre as personagens, podemos destacar que a presença feminina é o maior destaque da trama. Embora a rainha tenha seus problemas de saúde e faça parte da realeza, Lanthimos faz questão de mostrar suas fraquezas, onde nos deparamos com uma Anne sempre carente, assustada com a sua posição de poder – o que é absurdamente bem interpretado por Colman. Já Sarah é uma mulher forte que, apesar da dor, soube amadurecer e conviver com os ensinamentos da vida. Abigail é a moça jovial, ainda inocente, mas que se transforma numa pessoa extremamente manipuladora e fria. Aqui podemos definir que temos 3 tipos de processo no roteiro: Demonstrar o lado frágil da rainha, destacar toda bajulação e manipulação criada entre a realeza – isso pode ser visto nas cenas em que o sexo se torna forçado de forma para agradar a rainha -, e claro, o centro da personagem de Emma Stone: seu processo de amadurecimento. Tocando no ponto de que apesar de parecermos inocentes, podemos nos tornar pessoas extremamente ruins se formos ambiciosos.
Apesar do jogo de xadrez ser o elemento que faz o roteiro do filme funcionar, Lanthimos é competente na medida em que não sustenta o filme apenas com isso. Elementos são criados em torno da obra, que funcionam e prendem completamente o telespectador.
Um deles é a trilha sonora, composta por únicas notas de piano, que são fundamentais para cenas onde o suspense faz parte da trama. Uma delas é a brilhante cena em que Abigail flagra uma relação homoafetiva entre a rainha e sua prima Sarah. A direção do grego realmente está excelente nesse filme, destaca-se não apenas a qualidade dos enquadramentos, como a ótima direção de atores, conseguindo extrair o máximo desempenho das três atrizes – que fazem justiça às indicações ao Oscar.
O design de produção e também o figurino do filme estão impecáveis. Além é claro, da maquiagem. O que faz de A Favorita um filme completo, o que fundamenta suas 10 indicações ao Oscar.
Ama o cinema desde que era uma criança quando, ao brincar com seus gibis da Turma da Mônica, os imaginava como se fossem pequenas fitas VHS de uma locadora de vídeo.
Correspondente das Cabines de Imprensa de Recife-PE.