Crítica | A Autópsia (The Autopsy) [2016]

Nota do Filme:

No meio do redemoinho de filmes do gênero que saíram em 2016, o teaser e depois o trailer de A Autópsia me chamaram e muito a atenção. O terror é um gênero inexplorado no campo criativo salvo algumas obras que cavaram fundo para mostrar algo que realmente criasse raízes. Todos esses exemplos, sem exceção, buscaram pelo diferente, e é isso que acontece no filme. O tamanho do cenário não acompanha a ambição do filme que, mesmo sendo tão curto e feito para quem gosta do estilo, não deixa de decepcionar para quem do outro lado compartilhou do promissor.

A trama resume bem a personalidade de cada um dos três personagens mais importantes aqui. Os Tilden têm uma relação gostosa de ver em cena em seus diálogos iniciais. Pai e filho exibem bem ao grande público visões paralelas de experiência e ceticismo, indagação e superstição. Não é um recurso usado ontem no cinema de terror e suspense que quer, como um livro, aprofundar personagens, embora use da maneira mais rasa e visual possível para isso. Afinal, somos nós, espectadores, refletidos naquelas cascas. Cada uma não foge de se identificar um pouco com cada um de nós.

O filme cita sem disfarce a metodologia narrativa de Clive Baker. Embora quando as manifestações presentes no trailer passem a acontecer, as correntes do bom roteiro se quebram. O diretor simplesmente quer entregar tudo da metade para o final do filme. Quer de uma maneira ou de outra lhe dar respostas definitivas que se confirmam com as ações dos personagens no cenário. Aqui, pelo menos para mim, foi perdida a chance de criar um filme realmente misterioso com um suspense profundo e que me deixasse se perguntando sobre quem diabos foi Jane Doe em vida. Houve uma escolha errada em tentar saturar o suspense ao ponto de borrar o terror por completo e torná-lo tão previsível em algumas partes.

A personagem de Ophelia Lovibond pode ser colocada em debate sobre a sua real necessidade de estar ali. Talvez o gancho de sua morte pudesse de alguma forma aumentar a profundidade de Austin Tilden. A cena do elevador foi confusa para mim. Um misto de boa atuação por parte dos Tilden (principalmente do pai) com um grau de clichê de perda e questionamento sobre como aquilo aconteceu na sequência da cena em si. Além de previsível e aparentemente gratuito. A colocação do personagem no filme deixa bem óbvio que a garota vai morrer desde sempre. O tal golpe de machado fica bem confuso para quem assiste pela primeira vez.

A Autópsia não é uma tragédia ou uma confusão de direção. O filme é bem feito e traz uma inovação no gênero que até naquele ano só se resumiu a sustos. Salvo aqueles que, como Invocação do Mal, apelam para uma história expandida e bem produzida por trás. Há um caráter de conto no filme que o prende durante muito tempo sem que você sequer perceba que já se passaram noventa minutos. Não me decepcionei com a trama. Valeu muito a pena assistir. Não é um filme do gênero para ser ignorado. O diretor e o roteiro até bem feito mereciam uma nova chance em uma continuação, embora seja improvável que chegue tão perto de ser promissora quanto essa foi.