Desafio alguém que não tenha visto, nem que seja superficialmente, o Cartoon do Coragem o Cão Covarde. Criado por John R. Dilworth e exibido pela Cartoon Network, o Cartoon conta as aventuras vividas pelo cachorro chamado Coragem, sua dona Muriel e seu esposo Eustácio na cidade de Lugar Nenhum, local palco de diversos acontecimentos sobrenaturais dos quais Coragem sempre tende a salvar em especial sua querida Muriel, acabando por enfrentar seres psicopatas, extraplanetários, monstros, zumbis e tantas e tantas categorias de criaturas que chega a ser não catalogável. Porém Coragem o Cão covarde deveria ser um produto para crianças correto? Bem, vamos aprofundar os discursos dentro das narrativas dele e vamos olhar com novos olhos e ver se continuemos a afirmar que este é mais um Cartoon somente para crianças.
Sendo inicialmente um curta metragem, e entrando na grade da programação da Cartoon Network em 1999, Coragem o Cão Covarde rendeu um total de 52 episódios, divididos em 4 temporadas. Com um enredo aterrorizante, porém com uma vertente no humor ácido, as aventuras do cãozinho corajoso na cidade de Lugar Nenhum renderam aventuras e tantas para salvar em todos os casos a sua família. O constante bordão de Coragem é “As coisas que faço por amor”, amor a quem ou o que? Coragem como todo bom cão que se preze tem uma devoção aqueles dos quais o protege, dar carinho e o alimenta, neste caso em especifico essa devoção maior é a Muriel. Esta que o resgatou e o trouxe para dentro de sua casa e lhe deu toda proteção de um lar, este é um primeiro motivo para com que o Coragem seja tão fidedigno aos seus donos, por maior que seja seu medo a necessidade de proteção é quase que uma dívida kármica do Coragem aos seus donos. Por isso que em todos os casos o medo é somente substancial devido as circunstanciais das quais o cão vive, o valor da proteção é maior que o medo, como dizia Eleonor Roosevelt “Você ganha força, coragem e confiança através de cada experiência em que você realmente para e encara o medo de frente.”, a cada episódio Coragem enfrenta o sobrenatural das maneiras mais inusitadas possíveis, mas a cada enfrentamento ele torna-se forte ou simplesmente corajoso, pois chega a ser motivacional já que a cada termino de episódio o que lhe sobra é o colo carinhoso e afetuoso de sua dona amada Muriel. Por não ser uma história sequencial, todos os episódios são únicos, tendo seu fim anunciado em cada novo episódio. Os personagens são também algo bastante peculiar de serem analisados, primeiro a própria figura do personagem Coragem que carrega um nome que muitas vezes não condiz com sua primeira reação, mas acaba se tornando a própria reação de seu nome, uma vez que o que seria ser corajoso e medroso? Se não é a coragem um ato de devoção de amor. Temos em segundo plano os donos do Coragem a sua dona amada Muriel e seu esposo Eustácio, aqui temos duas personalidades distintas uma primeira a figura apaziguadora do caos e medo, que mostra-se solicita as adversidades, a personificação da bondade que é a Muriel, de um outro lado a própria avareza, ódio, e ranzinzamento que é o Eustácio, que fica a todo instante dizendo “Cachorro idiota!”, isto não é um mero xingamento podemos interpretar aqui como uma metáfora para aqueles que agem com coragem que são idiotas. São figuras opostas em personalidade, onde o elo muitas vezes são os monstros que figurariam os reflexos psicológicos de uma sociedade da qual é uma realidade de certa forma, uma vez que entendamos nossos medos como a principal causa de nossas adversidades ou de nossa força de vontade. Outro personagem que faço destaque é o computador do Coragem, primeiro que sistema operacional é aquele gente? rsrsrs, sério, aquele computador é uns 1000 google com inteligência artificial! Mas esse computador funciona quase que como a própria consciência do Coragem, guiando o mesmo a conseguir muitas de suas façanhas.
Toda a trama do cãozinho é contada com uma dose exagerada de terror e/ou horror, não é superexagero, é sério! Tem vilões que beiram o terror seja em suas aparências ou seja pela construção psicológica, porém fica a percepção de que estes seres sobrenaturais são na verdade o reflexo de algo maior, ora uma interpretação voltada ao subconsciente da personalidade humana, ora os vilões são uma forma de como Coragem ver o mundo. Não basta o Cartoon ter uma construção imagética ligada ao medo, mas também toda a trilha sonora foi exclusivamente criada para o Cartoon, e olhe que a trilha sonora não deixa por menos a nenhum filme de terror.
Coragem o cão covarde é mais que simplesmente um Cartoon, entendamos a perspectiva dos conflitos que ali estão, ódio e amor, o sobrenatural e o natural, o irreal e real, bondade e maldade, são alguns dos aspectos filosóficos que ajudam a compreender os conflitos subliminares que estão na trama. Outro ponto também é o próprio local do qual a trama se passa uma cidade chamada simplesmente de “Lugar Nenhum”, um local que está totalmente fora de uma realidade física do espaço-tempo, simplesmente não existe no real, mas e no imaginário? Não sabemos qual perspectiva que o criador quis dá ao local da trama, mas sabemos que John R. Dilworth foi além das expectativas infantis e nos presenteou com um Cartoon cheio de conceitos e questionamentos sobre o quanto a coragem se sobressai diante do medo, e de como vencemos o medo mediante a força do amor. Esse é Coragem o cão que não é covarde, mas sim que ama.
Um Historiador, Nerd, futuro roteirista de Quadrinhos e um escritor em desenvolvimento.