Crítica | Com Amor, Simon (Love, Simon) [2018]

Nota do Filme:

Com Amor, Simon acompanha a vida de Simon Spier (Nick Robinson), rapaz prestes a se formar no ensino médio. Todavia, guarda um grande segredo de sua família e amigos: é gay. Após um colega de classe se assumir – sob o pseudônimo Blue – em um blog do colégio, Simon passa a trocar e-mails com essa pessoa – sob o pseudônimo Jacques. Ao desenvolver sentimentos por Blue, Simon tenta descobrir sua identidade, ao mesmo tempo em que deve guardar o seu segredo.

Temos aqui mais um clássico coming of age, baseado no livro da escritora Becky Albertalli. Conta, porém, com uma pequena mas importante alteração: a orientação sexual do protagonista. É verdade que já tivemos retratações reais e com menos estereótipos em filmes do gênero – Lady Bird e As Vantagens de ser Invisível são bons exemplos. Entretanto, a regra para isso é que o personagem seja coadjuvante[1].

Nesse sentido, a mera criação de um filme que busca tratar tal tema de maneira humanizada, bem como levar à uma audiência convencional o conflito interno pelo qual incontáveis adolescentes passam, é digna de congratulações. Ainda mais porque o gênero (coming of age) escolhido deixa evidente que essa alteração na narrativa não altera a trama em si.

Isto é, a mudança na abordagem da história mostrou que não há diferenciação palpável no estrutura em si. A orientação sexual serve, de fato, como motor para certas tramas. Entretanto, o arquétipo de um personagem com um grande segredo nesse gênero não é novidade, de modo que apenas se alterou o conteúdo do dito segredo, sem prejuízo à narrativa da obra.

Nessa linha, não temos um personagem principal recluso, com constante temor em ter a sua sexualidade descoberta. Ao contrário, ele possui uma boa relação com a sua família, seus pais, Emily (Jennifer Garner) e Jack (Josh Duhamel) e sua irmã de Nora (Talitha Bateman).

Passa o tempo livre na companhia de seus amigos Leah (Katherine Langford), Nick (Jorge Lendeborg Jr.) e Abby (Alexandra Shipp). Juntos, todos passam por todas as inseguranças comuns à idade. Nesse sentido, o longa se torna relacionável a qualquer um que já passou por situações de dificuldade no colégio, o que significa, falando mais claramente, que é relacionável à qualquer um.

As qualidades do filme, porém, não são apenas a mensagem que passa. Temos aqui um roteiro competente, que verdadeiramente passa a sensação de transcorrer no ensino médio. Longas do gênero costumam ter dificuldades em criar diálogos realistas, coisa que Com Amor, Simon realiza da maneira mais natural possível.

A atuação do protagonista também impressiona. Nick Robinson transmite um forte carisma, de modo que é impossível não torcer pela sua felicidade. Na mesma seara, o elenco coadjuvante fornece o suporte necessário de maneira sempre eficiente. Cada um conta com os seus próprios problemas, e vemos o desenrolar dessas tramas serem concluídos de maneira satisfatória.

Há, todavia, problemas, sobretudo próximo ao final do filme. Os dois primeiros atos são extremamente felizes em estabelecer situações mas, por vezes, a conclusão se mostra pouco satisfatória. Inclusive em situação específica é nítido que houve dificuldade do roteiro em construir certos confrontos de maneira mais orgânica.

Além disso, certas situações danosas e evidentemente dramáticas são, por vezes, aliviadas, de modo a manter um clima mais leve no longa. Essa é uma escolha narrativa válida, mas é, sem dúvidas, uma chance de aprofundamento perdida, sobretudo se considerarmos a coragem que o roteiro tinha até então.

O saldo, porém, é positivo. A obra nos mostra que, por mais clássico que seja o tema, sempre há espaço para alterações. Uma mera variação no ponto de vista da história foi responsável por uma simples, mas importante, mudança.

Ainda, ao fugir de clichês acerca da retratação da orientação sexual de seu personagem, ocorreu uma oxigenação da história. Essas alterações, somadas às atuações competentes e a um roteiro orgânico faz com que Com Amor, Simon se torne uma excelente opção aos fãs do gênero.

[1] Em 2017 também foi lançado o longa Me Chame pelo seu Nome (https://cinematologia.com.br/cine/me-chame-pelo-seu-nome/), outra história do gênero com um protagonista homossexual. Contudo, em Com Amor, Simon, temos um coming of age mais tradicional, território ainda não explorado, ao menos não por grandes estúdios