Crítica | As Vantagens de Ser Invisível (The Perks of Being a Wallflower) [2012]

Nota do Filme :

As Vantagens de Ser Invisível segue a vida de Charlie (Logan Lerman), jovem introvertido que sonha ser escritor. Após o suicídio de Michael, seu único amigo, ingressa no primeiro ano do ensino médio e conhece Patrick (Ezra Miller) e Sam (Emma Watson). O filme é baseado no livro de mesmo nome e há muito mais na obra que apenas um coming of age movie.

Nesse sentido, a cena de abertura é extremamente feliz ao nos apresentar o personagem principal. Sozinho em seu quarto, escrevendo uma carta narrando os seus receios quanto à escola, não temos dificuldade em acreditar que Charlie é um rapaz tímido e recluso.

Desde o começo percebemos um enorme cuidado da obra no desenvolvimento da história e de seus personagens. A grande sensibilidade por parte da direção é evidente. Assim, não é uma surpresa o fato do diretor Stephen Chbosky ser o responsável não apenas pelo roteiro do filme como também pelo livro em si.

O tema central abordado é o modo como relacionamentos – em especial a amizade – podem afetar indivíduos com traumas pessoais. E isso é feito de maneira exemplar. A interação entre os personagens e o modo como cada um lida com a sua carga emocional faz com que seja difícil não se relacionar, ainda que minimamente, a algum deles.

 

 

O trio de protagonistas conta com Patrick, cujo namorado tem dificuldades em lidar com a própria sexualidade. Sam, sua irmã, sofreu abusos nas mãos do chefe de seu pai quando tinha onze anos e, posteriormente, de alunos mais velhos, que a embebedavam para terem vantagens.

Charlie, em especial, recebe um tratamento mais delicado. Os acontecimentos de seu passado possuem relação intrínseca com a sua razão de ser no presente. Suas dúvidas e inseguranças não são aquelas de um adolescente comum. A culpa que sente acaba por mascarar circunstâncias traumáticas do seu passado, com o qual não sabe lidar de maneira correta.

Sua introversão decorre de seu trauma, sendo o seu mecanismo de defesa a tantos problemas. Nesse sentido, sua relação com os extrovertidos Sam e Patrick – e, posteriormente, todo o grupo – trazem a tona certos temas pouco abordados em filmes do gênero, como depressão, suicídio e abusos sexuais, o que reforça o caráter diferenciado do filme. Ainda, o realismo das cenas em que esses tópicos são retratados impressiona, especialmente no último ato do filme.

 

 

Válido ressaltar o elenco de suporte que, apesar de pouco aparecer, é competente. Dylan McDermott e Kate Walsh, como pais de Charlie, Nina Dobrev, como Candace. Paul Rudd, conhecido por seus papéis cômicos, entrega uma performance pequena, mas significativa como Mr. Anderson, professor de Literatura Inglesa de Charlie. Conta, ainda, com um dos diálogos mais lembrados do longa:

 

 

O trabalho do roteiro é extremamente competente, sobretudo nos diálogos que são não apenas críveis como instigantes. Há uma grande fluidez, com cenas inicialmente cômicas transformadas em cenas carregadas de dramaticidade. Tudo isso com uma admirável naturalidade e rapidez. Em momento algum essa transição parece forçada.

O resultado final é uma obra marcante do gênero, que aborda a adolescência – momento conturbado na vida de todos – com extrema sensatez e sensibilidade. Se aventura, ainda, em temas considerados tabu e faz um desenvolvimento extremamente competente, acompanhado de sólidas performances do elenco.