Cinematologia na Copa – Panamá

O cinema do Panamá está em franca ascensão. Antes responsável por produzir “no máximo” um filme por ano, a indústria cinematográfica do país conseguiu, em 2017, assegurar 10% de tudo o que é exibido nas salas de projeção nacionais. Para comprovar o crescimento cada vez mais constante, pela primeira vez uma produção inteiramente panamenha, conhecida como Historias Del Canal (2014), entrou no catálogo da Netflix, o maior serviço de streaming do planeta. Além disso, apresentou os dois filmes de maior sucesso na América Central garantiu o maior crescimento em bilheteria na região, o que pode ser explicado pela expansão do número de salas de projeção no país. No ano em que o boom de crescimento aconteceu, seis novos cinemas com 31 telas foram inaugurados no território.

As temáticas das obras do Panamá costumam contar histórias sobre assuntos que estão presentes no dia-a-dia de sua população. Documentários sobre o canal do Panamá, obra que impulsionou o crescimento da nação, e a retratação da vida de boxeadores – heróis nacionais como os jogadores de futebol são no Brasil – são os principais conteúdos. A classificação heroica e inédita para a Copa do Mundo da Rússia, inclusive, também virou material fonte para novos trabalhos dos diretores panamenhos como Alberto Serra, que está trabalhando em alguns projetos relacionados ao tema.

Serra foi um dos destaques do Festival Internacional de Cine de Panama (IFF Panamá), evento que comprovou para o mundo a importância da sétima arte no país de quase quatro milhões de habitantes. Fundado em 2012, o evento vem crescendo a cada ano. Em 2017, alguns artistas conhecidos por aqui marcaram presença: Geraldine Chaplin, filha do grande Charles Chaplin e indicada a três Globos de Ouro e a um BAFTA, lançou o seu novo filme, Tierra Firme (2017); Daniela Vega, protagonista do vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, Una mujer fantástica (2017); e Bruna Linzmeyer, atriz brasileira que estrelou O Filme da Minha Vida (2017).

Quando o assunto é indicações ao Oscar, o cinema do Panamá começou a enviar películas para a competição de maneira muito recente, apenas no ano de 2014. Até o momento, são quatro filmes enviados e nenhum pré-selecionado para a lista final. Os destaques aqui ficam com os filmes Mas que Hermanos (2017), vencedor de quatro prêmios no Festival de Cinema de Los Angeles (LAFA May Award); e o documentário Invasión (2014), premiado em festivais da França, Costa Rica, EUA e Espanha.

Nesse texto, que faz parte do especial do Cinematologia para a Copa do Mundo da Rússia, vamos procurar indicar alguns filmes, além de comentar sobre o principal diretor e a principal atriz do país eliminado na fase de grupos da competição.

Abner Benaim

Nascido na cidade do Panamá, Benaim é considerado o maior diretor do país. Depois de estudar cinema em Israel, fundou a produtora Apertura Films, especializada em filmes independentes de ficção e em documentários. Em 2005, dirigiu uma série documental de 11 episódios chamada El Otro Lado (2005), que venceu o prêmio no Festival de Televisão de Nova Iorque como melhor documentário, além de ser mencionado pela revista Rolling Stone – América Latina como uma das 100 melhores séries de TV de todos os tempos.

No quesito prêmios, Abner já venceu como melhor documentário nos Festivais de Biarritz (França), Málaga (Espanha) e de Miami (EUA), com o filme Invasión (2004); o prêmio de melhor filme com Chance: Los Trapos Se Lavan En Casa (2009), no festival Skip City International D-Cinema Festival (Japão); além de ganhar a premiação da audiência no SXSW Film Festival (EUA), com o documentário Ruben Blade Is Not My Name (2018).

Filmes de destaque da carreira de Abner Benaim:
  • Secuestro a Domicilio (2009)
  • Empleadas y Patrones (2010)
  • Historias Del Canal (2014) – segmento 1977
  •  Invasión (2014)
  • Ruben Blade Is Not My Name (2018).

Jordana Brewster

É uma atriz e modelo panamenha, nascida na Cidade do Panamá. Filha de mãe brasileira e pai americano, Jordana se mudou do Panamá com apenas dois meses. Morou em Londres e no Rio de Janeiro, onde aprendeu a falar português fluentemente. Na sua adolescência, se mudou para os Estados Unidos para fazer faculdade. Sua estreia como atriz aconteceu em novelas da televisão americana, onde trabalhou por alguns anos. No cinema, debutou no filme de ficção científica Prova Final (The Faculty) (1998), dirigido por Robert Rodriguez.

Foi indicada a prêmios da televisão norte-americana, seis vezes ao Teen Choice Awards e uma vez ao People’s Choice Awards, mas não venceu nenhuma vez. Ficou famosa ao interpretar a personagem Mia na franquia Velozes e Furiosos. Fez parte do primeiro longa, além do 4º, 5º,6º e 7º de uma das séries de filmes de maior bilheteria do cinema ao redor do planeta.

Filmes de destaque da carreira de Jordana Brewster:
  • Prova Final (The Faculty) (1998)
  • Uma História a Três (The Invisible Circus) (2001)
  • Velozes e Furiosos (The Fast and the Furious) (2001)
  •  O Massacre da Serra Elétrica: O Início (The Texas Chainsaw Massacre: The Beginning) (2006)
  • O Último Golpe (American Heist) (2014).

Chance: Los Trapos Se Lavan En Casa (2009)

Toña (Rosa Isabel Lorenzo) e Paquita (Aida Morales) são as empregadas domésticas da família González-Dubois, uma das mais famosas e influentes do Panamá. Após anos de mau tratamento e atraso de salários, as duas decidem se rebelar contra seus chefes, que esbanjam dólares e bens, enquanto que se recusam a pagar em dia o que devem à seus funcionários. Enquanto a família se prepara para mais uma viagem a Miami (EUA), a dupla faz um plano para sequestras os patrões e tomar o controle da mansão até que todos os débitos sejam acertados.

O filme é dirigido por Abner Benaim e conta uma história de comédia ácida, que facilmente poderia se passar em qualquer outro país da América. Enquanto os poderosos ostentam seus pertences, os trabalhadores sofrem para pagar o básico, como por exemplo, a escola de seus filhos. A trama se desenrola de uma maneira leve e equilibrada, fazendo uma crítica social ao capitalismo e ao mesmo tempo ao “American Way of Life”. Mesmo com um plot twist um pouco óbvio, a obra entretêm e vale a pena.