Cinematologia na Copa – Japão

A Copa do Mundo 2018 chegou ao fim.  Os franceses comemoraram o segundo título diante da Torre Eiffel. Distante dali, os japoneses assistiram a final apenas como espectadores. Estavam fora da competição desde as oitavas de final, após perderem de virada para a Bélgica (seleção que nós também conhecemos bem). Mesmo sem ir muito longe na Rússia, o Japão merece uma dedicatória em nosso especial da Copa do Mundo, pois o país possui um cinema de muita história e conquistas. Vamos conhecer?

O Japão teve contato com o cinema logo após os primeiros experimentos dos irmãos Lumière. Em 1897, o primeiro filme foi exibido no território nipônico, conquistando os anfitriões, que logo trataram de criar uma identidade nacional para a sétima arte, através de produções sobre aventuras de época e histórias de samurais. Além disso, os japoneses criaram um método de dublagem ao vivo, na qual uma pessoa narrava falas de personagens durante as sessões, durante o período do cinema mudo.

A primeira era de ouro do cinema japonês ocorreu na década de 30, através de diretores como kenji Mizoguchi, Yasujiro Ozu e Hiroshi Shimizu. Com a derrota na Segunda Guerra Mundial e a ocupação estadunidense, a terra do sol nascente teve suas produções censuradas pelos norte-americanos, a fim de impor valores liberais e democráticos. Todas produções que foram consideradas ”feudais” foram destruídas, ato que durou até 1950.

Com a chegada da nova década e o fim do controle dos Estados Unidos, o país se reergueu com filmes que se destacaram mundialmente, como Rashomon (1950), do famoso Akira Kurosawa, que conquistou o Leão de Ouro no Festival de Veneza em 1951.  Já em 1953, foi a vez de Yasujiro Ozu chamar a atenção internacional, com Era Uma Vez em Tóquio.

Cena de Rashomon, um dos filmes precursores do gênero samurai:

 

Era Uma Vez em Tóquio, de Yasujiro Ozu, retrata a vida familiar no Japão.

A década de 50 continuou trazendo grandes títulos para o país, como o clássico Os Sete Samurais (1954), também de Kurosawa. Com o novo trabalho, o diretor parece ter se apaixonado de vez pelo gênero, pois depois também produziu obras famosas como Trono Manchado de Sangue (1957), Yojimbo – O Guarda-Costas (1961), Sanjuro (1962) e Kagemusha – A Sombra do Samurai (1980) – todas sobre heróis samurais marginalizados. Muitos de seus filmes inspiraram o faroeste espaguete da Itália durante as décadas de 60 e 70, que adaptava os roteiros para o contexto dos pistoleiros.

Trailer de Os Sete Samurais:

Do final da década de 50 também vale destacar a trilogia Guerra e Humanidade: Não há Amor Maior (1959), Estrada para a Eternidade (1959) e Uma Prece de Soldado (1961), ambos de Masaki Kobayashi. Baseados na série homônima de livros do escritor Junpei Gomikawa,  os três longas contam a vida de Kaji, um japonês pacifista e socialista que tenta sobreviver durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1980,  quando a fórmula do cinema japonês começou a se desgastar, três cineastas do país (Hayao Miyazaki, Isao Takahata e Toshio Suzuki) fundaram, em Tóquio,  o Studio Ghibli, conhecido mundialmente por suas animações. A obra de estreia foi O Castelo no Céu (1986), de Miyazaki. Posteriormente, vieram também os clássicos Meu Vizinho Totoro (1988), O Túmulo dos Vagalumes (1988), O Serviço de Entregas da Kiki (1989) e A Viagem de Chihiro (2001) – vencedor de Melhor Animação no Oscar de 2003. Em geral, os filmes do estúdio discutem o amadurecimento infantil, e também são conhecidos pela imersão do roteiro e trilhas sonoras.

A Viagem de Chihiro, de Hayao Miyazaki, fala sobre o amadurecimento da protagonista.

Trailer de Meu Vizinho Totoro:

Atualmente, o maior destaque do cinema japonês continua sendo o gênero animação. Nos últimos anos, foram indicados ao Oscar os longas O Conto da Princesa Kaguya  (2013), As Memórias de Marnie (2014) e a Tartaruga Vermelha (2016), todas do Studio Ghibli.

Trailer de A Tartaruga Vermelha: