Cinematologia na Copa – Espanha

Touradas, flamenco, Real Madrid e Barcelona são algumas das coisas que vem a cabeça na hora que se pensa na Espanha, por mais estereotipadas que sejam elas, o inegável é: a riqueza cultural do país é imensa, e isso inclui quaisquer outros tipos de manifestações artísticas, dentro delas, o cinema.

Apesar de não ter ocorrido um movimento cinematográfico de grande expressão dentro do país, como foi a Nouvelle Vague na França ou o Cinema Novo no Brasil, há uma gama de profissionais que se destacaram e ainda se destacam, como é o caso do excelente Pedro Almodóvar, talvez o maior nome do cinema espanhol da atualidade. Além disso, é impossível não associar o cinema espanhol aos seus dois atores mais conhecidos do momento: Javier Bardem e Penélope Cruz.

E, sem falar que o cinema espanhol não começou se destacando por agora. Antes desses grandes nomes, vale a pena ressaltar alguns aclamados anteriormente: Luís Buñuel, um dos maiores cineastas da história; Néstor Almendros, um diretor de fotografia oscarizado por Days of Heaven (1979), além de ser conhecido pela sua grande colaboração com Eric Rohmer e François Truffaut; Gil Parrondo, um diretor de arte oscarizado por Patton (1970) e Nicholas and Alexandra (1971); Carlos Saura, apelidado graciosamente de Bergman espanhol. Enfim, são muitas personalidades para serem conhecidas em um cinema tão rico, porém pouco difundido.

Com isso, vale ressaltar um momento interessante para o cinema espanhol de que durante os anos 60 alguns cineastas surgiram com ideias para renovar o cinema espanhol, ainda mais por conta da decadência do franquismo, criando margem para uma nova abordagem sobre o cinema, tendo seu ápice com a morte de Francisco Franco em 1975, não sendo uma tendência revolucionária  no meio cinematográfico, porém culminando na criação de uma liberdade artística interna maior para os cineastas espanhóis, resultando ainda na criação do prêmio Goya, uma espécie de Oscar espanhol, no final da década de 80.

Enfim, não há forma melhor de adentrar a esse universo cinematográfico espanhol do que parar para assistir os filmes, e aqui vão algumas indicações para iniciar a jornada dentro desse meio:

Viridiana (1961) – Luis Buñuel

Imagem: Divulgação

A noviça Viridiana faz uma visita ao seu tio moribundo, atendendo a um pedido do próprio. O pervertido homem, obcecado pela beleza da jovem, tenta seduzi-la de todas as formas. Ele morre e Viridiana decide não mais voltar ao convento. Em contrapartida transforma a antiga casa do tio num abrigo para necessitados e moradores de rua.

Viridiana é um filme que vale assistir só por ser de Luis Buñuel. Além de ter ganho a Palma de Ouro no mesmo ano, é um longa reconhecido por toda a polêmica em volta dele pois o nome da protagonista é o mesmo de uma santa católica do século XIII, sendo repudiado pelo papa na época de seu lançamento, além de ter sido proibida a sua exibição na Espanha franquista da época.

Cria Cuervos (1976) – Carlos Saura

Imagem: Divulgação

Ana é uma mulher de tristes lembranças. Duas décadas antes, quando tinha nove anos, ela acreditava ter em suas mãos um misterioso poder sobre a vida e a morte de seus familiares. Assim teria causado a morte inesperada do pai, o militar franquista Anselmo, logo após o doloroso martírio da mãe.

Carlos Saura é um daqueles diretores que quando ocorre o primeiro contato, você irá se perguntar: “porque não assisti isso antes?”. E nada melhor do que começar sua filmografia com uma de suas obras mais aclamadas.

Todo sobre mi madre (1999) – Pedro Almodóvar

Imagem: Divulgação

No dia de seu aniversário, Esteban ganha de presente da mãe, Manuela, um ingresso para a nova montagem da peça “Um bonde chamado desejo”, estrelada por Huma Rojo. Após o espetáculo, ao tentar pegar um autógrafo de Huma, Esteban é atropelado e morre. Manuela resolve então ir até o pai do menino, que vive em Barcelona, para dar a notícia. No caminho, ela encontra o travesti Agrado, a freira Rosa e a própria Huma Rojo.

Têm-se aqui um dos melhores filmes da carreira do diretor, na qual ele narra a odisseia da mãe do menino em busca de seu pai, culminando numa jornada existencialista em que são debatidos temas como a AIDS e religião, com aquela marca almodovaresca já conhecida por suas personagens femininas complexas e intensas, sem falar que é interessante ver Penélope Cruz no começo de carreira.

Mar Adentro (2004) –  Alejandro Amenábar

Imagem: Divulgação

Ramón Sampedro é um homem que luta para ter o direito de pôr fim à sua própria vida. Na juventude ele sofreu um acidente, que o deixou tetraplégico e preso a uma cama por 28 anos. Lúcido e extremamente inteligente, Ramón decide lutar na justiça pelo direito de decidir sobre sua própria vida, o que lhe gera problemas com a igreja, a sociedade e até mesmo seus familiares.

Amenábar é mais um dos diretores espanhóis que se destacam no meio cinematográfico, sem falar que nesse seu filme é levantado o debate da eutanásia, com uma performance forte de Javier Bardem. Um pouco denso, porém excelente para conhecer o trabalho desses dois astros.