Durante os últimos anos, fomos gratificados com a presença de excelentes filmes do gênero de Suspense/Terror, gênero esse que após seus filmes clássicos nos anos 70 e 80, com o passar do tempo se tornaram obras em focar apenas no medo e o susto, quase que esquecendo a necessidade da narrativa e de outros elementos tão importantes da escola de John Carpenter. Corrente do Mal não é apenas um filme a essa escola, como surge como o exemplo positivo daquilo que tantos outros filmes do gênero faz de ruim.
A trama se inicia no subúrbio de Detroit, onde uma vizinhança calma e de ruas vazias, com alguns vizinhos surgindo em tela trazendo suas compras para casa, subitamente, uma das portas de uma dessas casas se abrem e uma garota dispara para fora numa corrida assustadora. O plano aberto não nos revela qual a sua intenção, então fica a pergunta para o telespectador: Por que ela está fugindo? O que está acontecendo?
Escrito e dirigido por David Robert Mitchell – Que aqui não só faz um papel maravilhoso com a caneta como demonstra um enorme talento com a câmera – Corrente do Mal nos mostra a história de uma personagem perseguida por um espírito capaz de tomar a forma de qualquer pessoa e que foi contraída pelo sexo. Isso mesmo, a vítima recebeu a maldição fazendo sexo.
Pode parecer um pouco trash para o leitor saber que a vítima adquiriu isso com o sexo. Mas não só existe uma metáfora em cima disso como a semiótica explica. A metáfora aborda o tema de que o fim da virgindade de uma adolescente, é como uma mácula. Tal mácula que você carrega o peso sob os seus ombros, durante toda a sua vida, já que todos na escola vão saber que você não é mais virgem e você será vítima de comentários maldosos. Já a semiótica nos dá a imagem de um vilão que pode surgir a qualquer momento – E é notável enxergar isso, graças aos enquadramentos de Mitchell, que ao invés de optar por enquadramentos mais fechados, notas de trilha sonora crescente, para causar sustos… Opta (de forma brilhante) por planos mais abertos, dando a oportunidade da vítima aparecer em qualquer local e surpreender quem enxerga (o telespectador) – fazendo uma referência direta a própria morte.
O filme investe numa trilha sonora que utiliza uso de sintetizadores e que fica inevitável não compará-la as trilhas dos filmes de Carpenter. Sem falar da belíssima fotografia, com travelings laterais e zooms tentando gerar angústia.
Corrente do Mal é de 2014 e está no catálogo da Netflix e é a minha sugestão para você assistir nesta semana. Na próxima semana, voltaremos com mais alguma dica.
Bons Filmes.
Ama o cinema desde que era uma criança quando, ao brincar com seus gibis da Turma da Mônica, os imaginava como se fossem pequenas fitas VHS de uma locadora de vídeo.
Correspondente das Cabines de Imprensa de Recife-PE.