Crítica | Capitão Fantástico (Captain Fantastic) [2016]

Nota do filme:

Capitão Fantástico aborda a vida de uma família que decide abdicar da vida na sociedade moderna. Ben (Viggo Mortensen) e Leslie (Trin Miller) criam seus seis filhos, Bodevan (George MacKay), Kielyr (Samantha Isler), Vespyr (Annalise Basso), Rellian (Nicholas Hamilton), Zaja (Shree Crooks) e Nai (Charlie Shotwell) na floresta, sob um rígido sistema de desenvolvimento físico/intelectual.

Todavia, o suicídio de Leslie, portadora de transtorno afetivo bipolar[1], faz com que a família retorne à civilização e lide com o desafio de se adaptar (ainda que temporariamente) a um estilo de vida diferente.

 

 

Há, por parte da direção de Matt Ross[2], um cuidado em transportar o telespectador ao universo no qual a família vive, justamente por se tratar de um estilo de vida tão diferente ao que estamos acostumados.

Nesse sentido, na cena de abertura nos é apresentado um tipo de rito de passagem, indicando o amadurecimento de Bodevan, filho primogênito. Após, somos rapidamente levados à rotina familiar.

 

 

Trata-se de um sistema eficaz de docência, com ensino de línguas estrangeiras, história, física, bem como treinamento físico, que envolve desde corridas e aulas de defesa pessoal à caça de animais.

Assim sendo, por mais que seja uma realidade tão distante, conseguimos nos relacionar aos personagens, em especial a certos problemas que Ben enfrenta quanto à criação de seus filhos, dentre eles a curiosidade exacerbada de crianças pequenas, o ímpeto rebelde de seu filho adolescente e, ainda, lidar com o fato que o processo de amadurecimento é indissociável a partida do seio familiar.

Por mais que os pais tenham conseguido transmitir conhecimento aos filhos e treiná-los para que atingissem aptidão física, essa escolha de criação afeta fortemente seus trajetos sociais. O isolamento da civilização impede que tenham acesso a conhecimentos básicos da convivência, tornando difícil qualquer tentativa de socialização.

Desse modo, não é a intenção do longa indicar que esse estilo de vida seja a prova de falha. Aborda-se de maneira competente as problemáticas referentes a confiar apenas em saberes acadêmicos.

 

 

Bodevan, principalmente, sofre com essa ausência cultural. Tendo atingido a maioridade recentemente, jamais se relacionou com uma mulher e, quando tenta, a dificuldade é palpável. Assim, por mais que seja leal ao pai, anseia por uma vida tradicional envolvendo, inclusive, um ensino acadêmico universitário regular.

A atuação do elenco é extremamente competente. Pelo papel, Viggo Mortensen concorreu ao Oscar de melhor ator principal em 2017. Ainda, George MacKay entrega uma performance apaixonada, sendo o responsável por uma das melhores cenas da película.

Sendo assim, temos um filme que aborda questões problemáticas do clássico american way of life, como consumismo excessivo e sedentarismo. Há um evidente viés anticapitalista na obra, o que não deve impedir ninguém de apreciá-la. Com forte foco na parte dramática, há, ao final, uma bela mensagem de união familiar.

[1] https://pt.wikipedia.org/wiki/Transtorno_bipolar

[2] Matt Ross também é o responsável pelo roteiro.