“Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”: Uma história de escolhas

Imagem: Universal Pictures

“Seja o que for a vida, quando chegamos na parte adulta ela é uma sequência de tristezas e fobias”, como disse Mary, personagem de Kirsten Dunst nesse “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças”. A isso, é possível acrescentar também as frustrações geradas pelas expectativas, no caso, a expectativa exposta no filme é a criada pelo amor, um sentimento que pode ser tão bom quanto ruim.

Até porque, já diria Ernest Hemingway, “A expectativa é a mãe da frustração” e sim, todos nós colocamos expectativas nos nossos relacionamentos, e ainda pior do que isso, nós a nutrimos com outros sentimentos, com vontades e até mesmo sonhos, imaginação, assim como Joel Barish (Jim Carrey) fez.

Dirigido por Michel Gondry, a obra conta a história de Joel, rapaz solitário, frustrado com a vida adulta e querendo algo melhor mesmo que não saia da zona de conforto para conquistar isso, até que Clementine (Kate Winslet) surge e ambos começam a namorar. Após o termino do relacionamento, partindo dela, Joel, sofrendo muito com isso, decide apagar todas as memórias dele com ela, utilizando um processo médico idealizado pelo doutor Howard (Tom Wilkinson) e realizado por Stan (Mark Ruffalo) e Patrick (Elijah Wood).

A projeção usa da inventividade desde o começo, partindo de uma estrutura ousada para contar uma história que tem tudo para se tornar confusa, pois acompanhamos tudo pelo ponto de vista de Joel enquanto as memórias dele estão sendo apagadas, logo, não vemos apenas uma retrospectiva do relacionamento com Clem, vemos todas as lembranças indo embora e ele lutando para que isso não aconteça. Assim sendo, a obra não tem uma ordem cronológica, e muitas vezes a ligação dos fatos cabe ao espectador.

É possível que percebamos isso a partir da fotografia, pois esta permanece ligada a estrutura de montagem do filme. Na medida que as memórias vão sendo apagadas, o ambiente da cena muda, e pode ser uma mudança leve, como um pequeno objeto sumindo, ou algo mais brusco: luzes apagando e cômodos desaparecendo, casas caindo, livros ficando com suas folhas em branco.

Uma das mudanças “leves” que mais chama atenção é a da mudança da atriz em um brevíssimo momento do filme, em determinada discussão entre eles, Clementine (com seu inconfundível casaco laranja) se vira para ir embora, Joel observando isso, e após desviar o olhar, se arrepender e voltar a encará-la, a jovem já está indo em direção a porta, porém, não é o rosto de Winslet que Joel vê, é o de uma outra mulher. Isso ocorre rapidamente, logo quando ele inicia sua jornada de arrependimento.

É esse tipo de coisa que mostra a qualidade do roteiro de Charlie Kaufman, e é isso mostra como o elenco foi escolhido perfeitamente. Winslet está em uma das melhores atuações de sua carreira, Ruffalo, Dunst e Wood conseguem convencer em suas participações secundárias e Carrey é o ator perfeito para encarar um personagem solitário, triste e frustrado como Joel.

Mas, convenhamos, todos nós somos com Joel em alguns momentos, tristes, querendo fazer nossa vida melhorar sem sair do lugar, e também somos como Clementine em outras ocasiões, felizes, impulsivos, mutáveis.

E é justamente isso, o fato de todos nós termos um pouco do casal principal dentro da gente, que faz “Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças” um filme tão intimo e um retrato sobre escolhas, consequências e destinos. Até porque, se pararmos para pensar, quem apagaríamos ou não de nossas vidas?

Nos arrependeríamos disso?