Durante os dias 18 e 31 de outubro ocorreu em São Paulo, a 42ª Mostra Internacional de Cinema. Além das tradicionais competições de Novos Diretores, Mostra Brasil e Perspectiva Internacional, o evento contou também com três homenagens a grandes nomes que contribuíram de alguma forma para o cinema mundial.
O médico e escritor paulistano, Drauzio Varella, foi o grande vencedor do Prêmio Humanidade por incentivar o debate sobre temas urgentes ligados à saúde e por sua contribuição social e cultural ao Brasil. Como parte da mostra, o curta-metragem Conversa com Ele (2018) foi exibido. Nele, a diretora Bárbara Paz cria um diálogo hipotético entre o doutor e seu amigo Héctor Babenco, famoso diretor falecido em 2016.
O iraniano Jafar Panahi foi mais um dos homenageados da Mostra. Além de exibir a sua mais nova obra, o longa 3 Faces (2018), o diretor recebeu o troféu Leon Cakoff por seu cinema, no qual a observação singela e crítica da realidade, e o direito à liberdade de expressão são pilares irrevogáveis.
Por fim, o diretor japonês Hirokazu Kore-Eda também foi escolhido para receber o Prêmio Humanidade por sua habilidade em contar histórias tocantes e fortes, e por seu cinema esteticamente coeso. Além disso, seu mais novo filme, Shoplifters (Assunto de Família) (2018), foi exibido no festival.
**Vale lembrar que os filmes citados a seguir contém um pré-selecionado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, além de vencedores em festivais internacionais como Sundance (EUA), Cannes (França) e SXSW (EUA).
The Guilty (Culpa) (2018)
Nota do Filme :
Em uma delegacia de polícia na Dinamarca, o policial Asger Holm (Jakob Cedergren) está encarregado de cuidar das chamadas de emergências durante o período noturno. No final de seu turno, o telefone toca. Do outro lado da linha está uma mulher ofegante que acabou de ser sequestrada. Com apenas o telefone como ferramenta, Asger corre contra o tempo para salvar a mulher em perigo.
Dirigido por Gustav Möller, o longa dinamarquês que é um dos pré-selecionados ao Oscar de melhor filme estrangeiro, acabou sendo uma das maiores surpresas da Mostra Internacional. Vivido inteiramente no cenário da delegacia – no melhor estilo Locke (2013) – o filme vai se mostrando cada vez mais tenso e sufocante. A claustrofobia óbvia do cenário é reforçada cada vez mais pela urgência e desespero da situação. Durante a maior parte dos 85 minutos de duração, você ficará na ponta da cadeira.
Diamantino (2018)
Nota do filme:
Diamantino (Carloto Cotta), o melhor jogador de futebol do mundo, perde seu talento e encerra sua carreira após disputar a final da Copa do Mundo. Buscando um novo propósito na vida, a estrela internacional confronta o fascismo, a crise de refugiados e a busca pela origem de seu dom.
Com uma das sinopses mais curiosas da Mostra, a co-produção entre Portugal, França e Brasil é também um dos filmes mais divertidos da competição. Dirigido por Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, Diamantino (2018) é um filme político travestido de uma comédia nonsense com elementos de ficção científica e espionagem. Com uma clara inspiração em Cristiano Ronaldo para a criação do personagem principal e com uma boa dose de homenagem à franquia 007, a obra é uma boa pedida para aqueles que gostam de ideias extremamente originais.
Thunder Road (2018)
Nota do filme:
Jimmy Arnaud (Jim Cummings), é um policial de uma pequena cidade do Texas que se vê obrigado a lidar com o luto após a morte de sua mãe. Para piorar, o seu relacionamento com sua esposa parece rumar para um caminho sem volta, sua filha se distancia cada dia mais e a sua falta de noção o prejudica de formas irreversíveis na delegacia em que trabalha.
O ponto mais positivo aqui tem nome e sobrenome: Jim Cumming. Não só o ator principal do longa, ele é também o diretor e o roteirista – e desempenha todos os papéis muito bem. Curioso do começo ao fim, Thunder Road (2018) é um filme sobre família, amizade e luto. Por mais que possa parecer uma “comédia de vergonha alheia” nos primeiros minutos, a trama vai se encaminhando para um desenvolvimento denso e parece caminhar cada vez mais para uma tragédia inevitável.
Leto (Verão) (2018)
Nota do filme:
Leningrado, verão de 1980. O rock underground está em alta na cidade à frente da Perestroika. Em meio a esse cenário, um curioso triângulo amoroso é formado entre Mayk (Roman Bilyk), sua esposa Natasha (Irina Starshenbaum) e Viktor (Teo Yoo), um jovem ansioso para fazer seu nome no cenário musical. Juntamente com seus amigos, eles irão mudar completamente o destino do rock’n’roll na União Soviética.
Leto (2018) é uma boa prova da força do cinema russo. A capacidade de prender a atenção do público mesmo com um assunto tão específico – convenhamos, não existem muitos fãs do rock soviético por aqui – é um dos principais trunfos da obra dirigida por Kirill Serebrennikov. Com um visual inventivo, dinâmico e que casa perfeitamente com a trilha sonora, o longa é uma experiência interessante e satisfatória.
Hotel By the River (O Hotel às Margens do Rio) (2018)
Um velho poeta se hospeda em um hotel às margens de um rio. Ele convoca a presença dos dois filhos, com quem tem uma relação bastante distante, porque sente, sem razão aparente, que está morrendo. Ao mesmo tempo, após ser traída pelo parceiro, uma jovem se instala no mesmo local com uma amiga em busca de descanso e de um recomeço.
Mais uma vez, o sul-coreano Hong Sang-Soo colocou um de seus filmes na pauta dos críticos e do público de festivais pelo mundo. Após os muito elogiados On the Beach at Night Alone (Na Praia à Noite Sozinha) (2017) e Right Now, Wrong Then (Certo Agora, Errado Antes) (2015), o diretor, que também é o roteirista por aqui, criou uma obra autorreferencial e intimista. Na há um grande conflito ou uma situação extremamente curiosa. O longa trata de pessoas e seu cotidiano. Por mais que possa ter um ritmo um pouco mais cansativo e parcimonioso, sem dúvidas Hotel By the River é um cinema que precisa ser visto e apreciado.