Um dos aspectos mais interessantes em filmes sobre artistas plásticos é ver as saídas técnicas que a produção usou para transportar o espectador até o universo de cada um deles. Alguns desses longas vão longe nos recursos de design de produção, por exemplo. As possibilidades são infinitas entre cores, figurino, ambientação e fotografia quando se fala em evocar trabalhos e aspectos da vida e da obra dessas pessoas.
Por outro lado, algumas cinebiografias estão mais preocupadas em trazer para a tela o biografado e sua história, sem muita enrolação. Mas a verdade é que, não importa o caminho que o filme tome, no final a preocupação maior é nos colocar em contato com a vida de alguém que serviu ao mundo de uma das melhores formas possíveis.
E, por esse motivo, preparamos uma lista para você que curte artes plásticas (ou não) com algumas sugestões de longas para conhecer a vida (e também a obra) de cinco artistas bastante diferentes um do outro, mas cujo trabalho foi e continua sendo de grande importância para a história da arte mundial.
1. Frida (2002)
Frida é uma das cinebiografias mais conhecidas sobre grandes artistas mundiais. Tendo rendido a Salma Hayek sua primeira indicação ao Oscar, o filme acompanha a pintora (Hayek) desde sua juventude, quando sofreu o acidente de ônibus que mudaria sua vida, passando por seu casamento conturbado com o também pintor Diego Rivera (Alfred Molina), sua ascensão nas artes, seu relacionamento com Trotsky (Geoffrey Rush) e, por fim, sua morte.
Mesmo que o filme dure mais de duas horas, seu roteiro não é suficiente para abordar todas as vertentes da vida intensa que a pintora teve. Por outro lado, o que o longa faz de melhor é se apropriar bem do universo de cores intensas e figuras surrealistas de Frida Kahlo para fazer desta uma cinebiografia inconfundivelmente sua. É interessante a forma como ele utiliza as pinturas da artista para inspirar determinadas cenas e momentos da história, se conectando ainda mais com sua arte, ao mesmo tempo em que a torna mais próxima do espectador.
Direção: Julie Taymor | Elenco: Salma Hayek, Alfred Molina, Geoffrey Rush, Edward Norton, Antonio Banderas | Onde assistir: Looke (aluguel), Claro Video (aluguel)
2. Renoir (2012)
Ao contrário de outros nomes desta lista, Renoir não pretende ser uma cinebiografia do pintor francês, mas sim mostrar um recorte de sua vida pouco antes dela chegar ao fim. O filme se passa em 1915, quando Renoir (Michel Bouquet) está atormentado pela perda de sua esposa, doenças muito dolorosas e a terrível notícia de que seu filho Jean (Vincent Rottiers) foi ferido em batalha. Até o momento em que Andrée (Christa Theret) chega a sua casa e se torna sua última modelo. Seu espírito selvagem juvenesce a alma não apenas ao pintor, mas também a de Jean, que volta para casa e se vê apaixonado pela moça.
A luz natural usada para compor a fotografia de Renoir é belíssima e faz com que o espectador se sinta em um de seus quadros. O filme faz um belo contraste entre os ambientes internos e externos: dentro da casa do artista está sua doença e a recuperação de Jean; fora dela, está toda a natureza e a vivacidade que o pintor coloca em seus quadros, e é lá onde o filme mais se demora. Mesmo que foque na influência de Andrée sobre a família de Renoir, o que o longa traz de mais bonito é forma como enaltece a paixão do artista por sua arte e sua entrega e dedicação ao belo. Lindíssimo.
Direção: Gilles Bourdos | Elenco: Michel Bouquet, Vincent Rottiers, Christa Theret | Onde assistir: Looke, Apple TV (aluguel)
3. Maudie: Sua Vida e Sua Arte (2016)
Desde sua juventude, Maudie Lewis teve problemas de artrite reumatoide que lhe causaram sérias inflamações e deformações nas articulações de seu corpo. Tendo que lidar com uma saúde debilitada, um casamento problemático e a pobreza, ela encontrou conforto e refúgio em figuras simples e coloridas que, depois de algum tempo, a tornaram uma artista de reconhecimento nacional cujas pinturas são queridas até hoje por milhares de pessoas.
A história de Maudie é retratada aqui com uma delicadeza e sensibilidade encantadoras, ainda que seja possível notar que o filme dê uma certa romanceada em alguns aspectos. Ao sofrer preconceito por sua deficiência física, a canadense se fez ser ouvida através das pinturas coloridas de paisagens que ela via de sua janela, de um mundo que ela nem sempre podia desfrutar. O destaque maior vai para a atriz Sally Hawkins por compor tão bem a fisicalidade e a doçura do sorriso da personagem.
Direção: Aisling Walsh | Elenco: Sally Hawkins, Ethan Hawke | Onde assistir: Apple TV (aluguel), Claro Video (aluguel)
4. Basquiat: Traços de Uma Vida (1996)
A arte de Basquiat é uma mistura sem fim de influências que vão desde a arte de rua até a pop art americana. Chamada de “primitivismo intelectualizado”, ela retrata personagens esqueléticos, rostos apavorados e escritas indecifráveis, sempre em cores fortes e telas grandes com o elemento negro retratado em meio ao caos. Isso diz muito sobre quem era Jean-Michel Basquiat e o que ele tinha a dizer sobre o mundo a sua volta. E para aqueles que não sabem nada sobre sua vida e obra, esse pode ser um bom começo.
Este é o primeiro longa do diretor Julian Schnabel, também artista plástico e amigo do pintor. De forma mais sucinta (e até um pouco problemática), Schnabel retrata os momentos mais importantes da curta vida de Basquiat (Jeffrey Wright), retratando desde a época em que era grafiteiro e assinava como SAMO, passando por sua consagração como artista internacional de vanguarda, quando era amigo de nomes como Andy Warhol (David Bowie) e Albert Milo (Gary Oldman), até sua morte aos 28 anos por overdose de heroína.
Direção: Julian Schnabel | Elenco: Jeffrey Wright, David Bowie, Gary Oldman, Benicio Del Toro, Christopher Walken | Onde assistir: YouTube
5. No Portal da Eternidade (2018)
Depois de Basquiat, Julian Schnabel foi aclamado por O Escafandro e a Borboleta antes de chegar a No Portal da Eternidade. Já tendo consagrado sua câmera subjetiva e o tom poético de seus textos, o filme de 2018 faz um recorte muito específico da vida de Van Gogh: a época em que ficou recluso e melancólico em Arles, na França, tentando decifrar seus pensamentos enquanto pintava Quarto em Arles, um dos quadros mais famosos da história da arte moderna.
Em No Portal, Van Gogh está quase o tempo todo na natureza e a belíssima fotografia do longa faz questão de tentar reproduzir a luz dos quadros do pintor. Não só as cores são intensas, como também os sentimentos do artista, mas toda a luminosidade que ele vê do lado de fora parece extremamente difícil de penetrar em seu espírito assombrado por fantasmas. A atuação de Willem Dafoe é impressionante (uma das melhores de sua carreira) e é uma enorme injustiça que ele tenha perdido o Oscar de 2019 para Remi Malek (Bohemian Rhapsody).
Direção: Julian Schnabel | Elenco: Willem Dafoe, Oscar Isaac, Mads Mikkelsen | Onde assistir: Prime Video
Jornalista viciada em recomendar filmes e revisora de textos recifense que vive escrevendo sobre cinema nas horas vagas.