Crítica | Um Lugar Silencioso (A Quiet Place) [2018]

Nota do Filme :

Um Lugar Silencioso acompanha um futuro pós-apocalíptico devido ao surgimento de perigosas criaturas. Cegas,  se utilizam do som produzido pela presa para caçá-la. Acompanhamos a história pelo ponto de vista de uma família composta por Evelyn (Emily Blunt), Lee (John Krasinski), Regan (Millicent Simmonds), Marcus (Noah Jupe) e Beau (Cade Woodward)[1].

Uma vez que conta com uma premissa simples, o diferencial do longa é a sua brilhante execução. Não se trata de um filme sobre monstros, mas sim sobre como essa família se adapta às situações adversas. Uma história sobre parentalidade e o dever dos pais de proteger seus filhos.

 

 

Nesse sentido, todas as informações sobre o que são essas criaturas são transmitidas por meros recortes de jornais espalhados pela casa. Inclusive, por vezes sequer são o foco da cena, de modo que é possível assistir à película sem perceber como essa situação se iniciou e esse desconhecimento não afetará a experiência.

Justamente por pela premissa da obra ser a ausência de som por parte dos personagens, a direção tem como foco da imergir o espectador nessa atmosfera. John Krasinski, que também dirige o longa, surpreende ao criar tensão e suspense com diálogos feitos, majoritariamente, em linguagem de sinais.

Outro decisão interessante é, por vezes, focar a perspectiva de Regan, personagem surda[2] . Nessas cenas o áudio é cortado completamente, de modo que percebemos como a personagem está em uma situação mais delicada. Uma vez que não pode ouvir, suas reações são mais lentas e há grandes chances de fazer barulhos acidentais, o que pode alertar as criaturas ao redor.

 

 

Importante elogiar o elenco como um todo por conseguir transmitir tão bem a sensação de desespero pela qual passam apenas com expressões faciais. Esse fator tem especial relevância quando consideramos que o elenco é composto majoritariamente por crianças. É sempre gratificante notar que há atores e atrizes promissores no meio infantil.

O filme também é bastante competente em nos mostrar o sistema que essa família criou para fazer menos barulho. Substituir pratos por folhas, comer com as mãos ao invés de talheres e cobrir o trajeto até a residência com areia para diminuir o som da pisada são ações diárias que servem para mostrar como essa realidade já foi internalizada pela família. Até mesmo um simples jogo de tabuleiro foi adaptado.

Essas pequenas cenas demonstram, ainda, a capacidade do ser humano de se adaptar à situações desfavoráveis. É impossível viver em completo silêncio, mas há medidas que podem mitigar o som e permitir a sobrevivência.

 

 

Não há muito que possa ser dito em desfavor do filme. Geralmente no gênero uma das grandes críticas são algumas decisões evidentemente ruins tomadas pelos personagens, o que acaba por quebrar a credibilidade do longa. Algo nesse sentido de fato ocorre, todavia, uma vez que o agente é uma criança, a ação se torna compreensível.

Na realidade, a parte mais problemática certamente será encontrar uma sala de cinema que compreenda a importância do silêncio para a experiência. Conversas paralelas podem facilmente quebrar a atmosfera cuidadosamente criada pelo diretor.

Com sólidas atuações, inclusive dos atores mirins, John Krasinski segue os passos de Jordan Peele[3] e dirige um suspense extremamente competente que decerto marcará o gênero. Um Lugar Silencioso é um filme que merece ser visto nas grandes telas do cinema.

 

[1] Devido aos poucos diálogos, com exceção do filho mais novo, nunca é dito no filme qual o nome dos personagens, então a busca foi feita junto ao site IMDb.

[2] A atriz Millicent Simmonds, intérprete de Regan, é surda na vida real.

[3] Diretor e roteirista de Corra!https://cinematologia.com.br/cine/and-the-oscars-goes-to-corra/ .