“Quando as pessoas me perguntam se eu fui a alguma escola de cinema eu digo a eles: Não, eu fui ao cinema” – Quentin Tarantino.
Quem não conhece o estilo único e irreverente de Quentin Tarantino? Famoso pela presença de muito sangue e diálogos ímpares, o diretor acumula diversos sucessos cinematográficos. Escolhemos os três mais marcantes (na nossa singela opinião) levando em consideração vários aspectos. Ou seja, tanto vale a trama em si, como a importância da película na carreira do diretor. Se você ainda não assistiu, leia à vontade, o texto não contém spoilers!
#3 – Cães de Aluguel (Reservouir Dogs)
O nosso top 3 começa com a estreia de Tarantino nas telonas, que ocorreu em 1992. O filme contou um orçamento de apenas 1,5 milhões de dólares, isto é, não foi realizado com muito investimento. Mesmo em seu primeiro filme, já se faz presente o estilo único do diretor e roteirista: muitos diálogos sarcásticos e aleatórios, cultura pop e, claro, violência.
A trama inicia com a prática de um roubo envolvendo os protagonistas que acaba dando errado em função de um delator, obrigando todos a se dirigirem a um armazém, local que seria o ponto de encontro dos seis após o roubo. Curioso que esse armazém acaba sendo o cenário do filme na maior parte do tempo (provavelmente em função também do baixo orçamento).
Mas tantas limitações não são capazes de prejudicar um filme escrito por tamanha genialidade: entre diálogos furiosos e mortes, a trama vai se desenrolando e a atenção do espectador é presa.
Outra característica de Tarantino é o desenrolar dos fatos de forma não-linear. Dessa forma, já de início temos um vislumbre de uma ação futura e, ao final do filme, revela-se o início. Tudo de forma muito original e inteligente.
Na época, a produção não rendeu grandes bilheterias, mas com o posterior boom do seu próximo filme, Pulp Fiction, todos os olhares se voltaram ao primeiro filme do diretor. A revista Empire o classificou como “o maior filme independente da história”.
CURIOSIDADE: O personagem vivido por Michael Madsen chama-se Vic Vega, o qual seria irmão do personagem Vincent Vega vivido por John Travolta em Pulp Fiction. A ideia do diretor era realizar um “spin off” chamado “The Vega Brothers”. Contudo, a ideia não deu certo e ele acabou se dedicando à produção de “Bastardos Inglórios”. Mais vezes em sua filmografia, são vistas referências de seus filmes inseridas uns nos outros.
Portanto, não espere muitos efeitos especiais ou uma mega produção desse filme, até mesmo por se tratar de criação de baixo orçamento, mas assista com a expectativa de muita originalidade e diversão certa.
#2 – DJANGO LIVRE (DJANGO UNCHAINED)
Diferentemente do nosso #Top3, “Django Livre” vem um momento completamente diferente na carreira de Quentin Tarantino. O filme é de 2012 e conta com um elenco surpreendente: Jamie Foxx, Christopher Waltz, Leonardo DiCaprio, Samuel L. Jackson e Kerry Washington estão entre os personagens centrais.
Num cenário de faroeste, o filme tem como protagonista Django (Foxx), um escravo cuja trajetória se cruza com a de um caçador de recompensas, Dr. Schultz, vivido por Christopher Waltz. Durante as viagens da dupla, Django se revela um exímio atirador e planeja resgatar sua esposa Broomhilda (Washington) da mão de um escravocrata sulista que vive em Candyland (DiCaprio).
“Django Livre” é uma história de vingança contra a opressão e não tem nada de politicamente correta. Apesar de mostrar os horrores da escravidão e ter cenas consideravelmente fortes (a classificação indicativa é para maiores de 16 anos), o foco central recai sobre Django e sua jornada impiedosa contra àqueles que lhe infligiram dor e à sua esposa. E nesse ínterim, Django é implacável: quem já lhe feriu, certamente será ferido.
Repleto de plot twists e muita pólvora, Django Livre é divertido, chocante e encantador. A produção do filme é grandiosa, o que rendeu cinco indicações ao Oscar, incluindo melhor filme. Efetivamente, Tarantino acabou levando o Oscar de Melhor Roteiro Original e Christopher Waltz recebeu o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
CURIOSIDADE: Na cena em que o Monsieur Candy (DiCaprio) está negociando a liberdade de Broomhilda, o ator, com em um movimento brusco, quebra um copo e acaba cortando sua mão. A cena prossegue apesar do machucado do ator, que até utiliza magistralmente o sangue como elemento na cena.
Diante de todos esses aspectos, Django Livre é certamente um dos filmes que você precisa assistir.
#1 – PULP FICTION: TEMPO DE VIOLÊNCIA
A grande obra de arte de Tarantino é seguramente Pulp Fiction. É original, emocionante e incrivelmente popular.
Nesse filme, o diretor usa e abusa das tramas não-lineares, dividindo as cenas em capítulos que são entrelaçados entre si. A questão é que a ordem dos capítulos não é esclarecida, o que serve apenas para instigar o espectador a refletir acerca da real sequência dos fatos (genial!).
O filme conta com um elenco incrível, vamos a eles: Samuel L. Jackson, John Travolta, Bruce Willis, Uma Thurman, Christopher Walken, Tim Roth e Harvey Keitel. Já em seu segundo filme, percebe-se que Tarantino gosta de cultivar seus atores preferidos, tendo em vista que escalou Keitel e Roth, que trabalharam com ele em seu filme de estreia (Cães de Aluguel). Posteriormente, Uma Thurman será sua musa em Kill Bill (vol. 1 e 2).
Pulp Fiction foi indicado ao Oscar de 1995 nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (John Travolta), Melhor Ator (Samuel L. Jackson) e Atriz Coadjuvante (Uma Thurman), Melhor Edição e Melhor Roteiro Original, tendo vencido apenas o último. Porém, o filme foi vitorioso em outras premiações, destaque para Cannes, onde levou Melhor Filme.
Certamente Pulp Fiction tornou-se um ícone dos filmes independentes. Suas tramas não são nada tradicionais, já que a história ocorre em meio a criminalidade, drogas e muita violência. Os diálogos, novamente, são outro positivo, pois apesar de consideravelmente corriqueiros,são tremendamente divertidos. É um filme que já completou vinte anos, porém soa extremamente atual e, necessário dizer, um clássico do cinema, deixando seu legado. Breaking Bad, por exemplo, possui inúmeras referências a Pulp Fiction.
Por fim, a trilha sonora é apaixonante, novamente fazendo referências à cultura pop da época. As canções vão de “Misirlou” a “You never can tell” (do imortal Chuck Berry) e “Girl, you’ll be a woman soon”. É só colocar a playlist (disponível no YouTube) e se deliciar! A cena a seguir é um dos pontos altos do filme, onde Mia Wallace (Thurman) e Vincent Vega (Travolta) dançam um twist:
MENÇÕES HONROSAS
Fazer um top 3 desse gigante do cinema foi extremamente difícil, então considerei mencionar alguns outros grandes trabalhos do diretor que, igualmente merecem destaque. Entre eles, o excepcional “Bastardos Inglórios” que concretiza o sonho de muitos em dar um fim ao nazismo; “Kill Bill” também merece ênfase, tratando-se de mais uma jornada de vingança de uma mulher que perdeu sua filha e volta-se contra os seus antigos parceiros de crime e “Um drink no inferno”, para os amantes de filme trash, no qual Tarantino dá sua contribuição como roteirista, direção de Robert Rodriguez, estrelado por George Clooney e Harvey Keitel, que nada mais é do que uma caça a vampiros muito sangrenta.
Creio que o legado maior de Tarantino é sua originalidade. Ao assistir esses filmes tenha apenas uma certeza: você nunca assistiu nada igual! Por vezes, as críticas recaem sobre o diretor por sua ousadia; suas tramas são obtusas e nada corretas, à exemplo do uso constante da violência (e muito sangue). O diretor rebate: “Sempre pensei que o cinema fosse para mostrar gente se beijando e se matando”.
E você, concorda com a nossa lista? Deixe seu comentário com a sua opinião ou com o seu #Top3!