Elizabeth II, a atual monarca do Reino Unido, continua a conquistar público e crítica. Com a estreia da segunda temporada de “The Crown”, série original da Netflix, vemos como o foco do programa mudou, indo de uma fotografia excelente e um drama sobre a transição de membro da família real para rainha, para ser um retrato da intimidade de sua personagem principal.
Claro, para essa mudança ser bem-sucedida, é essencial que Claire Foy (Elizabeth) tenha novamente uma excelente atuação, pois todos os acontecimentos são vistos pelo ponto de vista dela, seja esse certo ou errado, o espectador é obrigado a acompanhar a história partindo do olhar da comandante da família Windsor.
Estrelada por Foy, Matt Smith (Philip, o Duque de Edimburgo) e Vanessa Kirby (Margaret, irmã mais nova da rainha), “The Crown” nessa segunda temporada foca mais nos relacionamentos intrapessoais e nas decisões familiares e politicas que serão tomadas pela rainha no período de 1955 a 1964.
Os três primeiros episódios assumem a estrutura de um grande flashback, onde o assunto dominante é um possível adultério cometido por Philip. Nessa trinca inicial, vemos como a fotografia (do ótimo Adriano Goldman) é um pouco mais escura do que o habitual na série, isso indica como estão os sentimentos da rainha neste momento, ela está desconfiada, insegura, triste e principalmente, se sentindo sozinha.
A partir do quarto episódio, a série assume uma estrutura mais ousada, unindo o tempo atual a flashbacks de diversos personagens e a acontecimentos reais reproduzidos de maneira fiel. Em relação aos flashbacks, é possível através deles, se aprofundar mais nos personagens principais da trama, como Philip, que tem toda a sua história de vida apresentada e ligada ao momento de educação do filho Charles, em um episódio belíssimo, e Margaret, focando em como a solidão causada pela proibição do casamento com Pete Townsend (que aconteceu na segunda metade da primeira temporada) a mudou como pessoa.
Claro, com essa mudança após o terceiro episódio, a fotografia também muda, indo do escuro para o claro e investindo em enquadrar os personagens no contraluz, principalmente usando luz natural que entra em cômodos pelas janelas dos castelos e emoldura os personagens enquadrados. Além disso, a mudança na iluminação mostra como Elizabeth está mais confiante como monarca, esposa e mãe.
Essas variações nos sentimentos da rainha fazem a atuação de Claire Foy novamente ser a melhor coisa da série. Ela muda de expressão ou denota sentimentos com apenas um olhar, em várias cenas nas quais uma conversa com o marido está acontecendo, ela vai de carinhosa para firme com um olhar, principalmente em momentos nos quais ela quer que ele faça algo, ou, nas situações em que há imposição de alguma coisa vindo da coroa.
Agora, Elizabeth consegue transitar com segurança entre esposa, mãe e filha, para rainha, cumprindo os deveres que lhe foram designados e sentindo o peso da Coroa, porém, sabendo lidar com as obrigações e separar a família da política, os negócios do prazer, e ainda, não afeta a vida de ninguém com suas decisões.
Logo, a segunda temporada de The Crown vai deixar saudades e bom, resta esperar pela terceira temporada.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com