Com o ‘O Despertar da Força’ tivemos o renascimento da saga “Star Wars”. ‘Os Últimos Jedi’ dá continuidade à trama com algumas ações inovadoras, porém ousando pouco em certas áreas.
O longa se inicia exatamente no final do último filme. Após sua batalha com Kylo Ren (Adam Driver), Rey (Daisy Ridley) se encontra Luke Skywalker (Mark Hammil) e vê no Jedi um possível mestre. Enquanto isso a Resistência, liderada pela General Leia Organa (Carrie Fischer), enfrenta dificuldades em lidar com o poderio militar da Primeira Ordem.
Após tantos filmes é inevitável notarmos certos hábitos da franquia. Não foi à toa que a obra anterior foi tão comparada à ‘Uma Nova Esperança’. Apesar de termos ainda certas semelhanças com outros longas da saga há espaço para certa originalidade, principalmente no modo que diz respeito ao desenvolvimento das relações entre os personagens.
A figura do herói solitário disposto a desobedecer seus superiores para salvar o dia sempre foi abraçada pela franquia. Neste longa, porém, ocorre de maneira diferente. Boas intenções e estar disposto a se sacrificar não é mais o bastante. Ao contrário, o sacrifício excessivo não é conduta admirável.
Se a Primeira Ordem é uma ameaça à paz na galáxia, a mera sobrevivência da Resistência é uma vitória. Mais do que isso, é imprescindível. Com essa premissa, temos um dos pontos altos do filme. Poe Dameron (Oscar Isaac), piloto de confiança de Leia que pouco havia até então, é desenvolvido de maneira extremamente satisfatória.
Ser o melhor piloto não o isenta de críticas. Ao contrário, devido às suas ações inconsequentes sua General o rebaixa, algo pouco comum aos protagonistas da franquia. Dessa forma notamos uma evolução da saga que, de maneira orgânica, conseguiu inserir maiores consequências às ações de seus personagens.
Outro ponto no qual o filme se destaca é em seu o visual. A batalha no Planeta Crait é impressionante. A luta contra a Guarda Pretoriana de Snoke (Andy Serkis) é um combate com sabres de luz ao mesmo tempo lindo e brutal.
Ainda, Kylo Ren se mostra um vilão cuidadosamente construído. Há um conflito interno em seu personagem que o torna extremamente interessante e relacionável. Ele parece real, e esse é o maior elogio que pode ser feito a um personagem fictício.
Entretanto, não se trata de um filme perfeito. Apesar de fugir de certas tradições da série, acaba por não aprofundar a complexidade de sua personagem principal, o que fica evidente quando colocada em contraste com o seu rival.
Rey conta com uma construção mais simplista. Apesar de tentada pelo Lado Negro isso não chega a ser bem desenvolvido, o que faz com que nunca cometa erros e permaneça uma protagonista imaculada e inalcançável.
Essa carência por parte da personagem faz com que ela se torne menos relacionável em comparação, por exemplo, ao Luke da trilogia original (IV, V e VI). Há uma falta de ousadia do roteiro em seu arco.
Graças ao carisma que Daisy Ridley a personagem não se torna desagradável, mas a diferença com o desenvolvimento de seu antagonista é evidente
Ainda, dois outros pontos negativos que devem ser abordados. O primeiro é o uso excessivo de humor. Essa técnica como forma de quebra da tensão de uma cena é algo válido e serve para suavizar certos momentos. Ocorre que, em excesso, acaba diminuindo a seriedade do longa como um todo.
O segundo é, basicamente, todo o arco pelo qual passam os personagens Finn (John Boyega) e Rose (Kelly Marie Tran). A trama destoa por completo do resto da obra. Toda a sensação de urgência que havia até então se perde na sequência. Isso faz com o telespectador sinta o passar do tempo, algo terrível para uma experiência cinematográfica.
Sendo assim, é uma obra competente tecnicamente, principalmente quanto aos aspectos visuais. Temos aqui uma sólida experiência cinematográfica, com saldo positivo. Entretanto, alguns poucos defeitos e a falta de ousadia em pontos do roteiro podem deixar uma sensação amarga ao final da sessão.
Carioca, advogado e apaixonado por cinema. Busco compartilhar um pouco desse sentimento.