Nota do filme:
Já faz pouco mais de um mês que a versão live-action de A Pequena Sereia estreou nos cinemas e, desde então, esse universo nunca esteve tão em alta. Quase como uma resposta ao imaginário mitológico criado pela Disney, a Dreamworks Animation leva aos cinemas nesta quinta-feira (29/06) a animação Ruby Marinho: Monstro Adolescente que, intencionalmente ou não, funciona como um perfeito contraponto à história de Ariel e companhia. E já no trailer começamos a entender o porquê.
A protagonista do novo longa dirigido por Kirk DeMicco (de Os Croods) é a adolescente Ruby, uma criatura marinha que, junto com sua família, finge ser uma humana na cidade litorânea de Cabo Fresco. Introvertida e cheia de inseguranças, Ruby não aguenta mais esconder quem realmente é. Por isso a frustração quando vê uma linda novata de longos cabelos ruivos conseguir se enturmar logo no primeiro dia de aula (e que também é uma sereia).
Notou a referência? Tradicionalmente, os contos de fada pintam sereias como criaturas belas e encantadoras. Já monstros marinhos acabam relegados a vilões, seres destruidores e perigosos. Mas em Ruby Marinho os papéis se invertem. Aqui, a protagonista é uma criatura marinha vivendo uma vida de adolescente comum quando descobre, na verdade, ser uma kraken gigante, herdeira direta do trono abandonado por sua mãe quinze anos antes.
Ruby Marinho acerta quando decide subverter o imaginário em torno dos mitos de criaturas marítimas, reinventando os krakens através de uma protagonista carismática, divertida e com boas motivações. No filme, sereias são esnobes, narcisistas e incapazes de qualquer empatia. Em contrapartida, os krakens são protetores do mar e de suas criaturas, os únicos capazes de conter o domínio das perigosas sereias. A temática traz frescor para a história, além de, claro, originalidade.
Mesmo longe de ser um filme inesquecível, Ruby Marinho é uma comédia teen divertida que deve agradar toda a família. Existe aqui uma criação de mundo interessante e bem consistente, com cenários vistosos e muito coloridos. A cidade de Cabo Fresco é bastante simpática e funciona bem como pano de fundo para o desenrolar da história, mas o mesmo não pode ser dito do reino criado para os krakens no fundo do mar, parece que falta um pouco de criatividade e cuidado.
Já em termos de história, é possível que o roteiro tenha dado uma exagerada. O tema central de Ruby Marinho é uma metáfora para a puberdade: a garota, que já se sente a mais deslocada de todas as criaturas, começa a passar por mudanças que nunca imaginou e com as quais não sabe lidar. É quando o filme se concentra nas descobertas de Ruby quanto ao seu corpo e sua família que ele realmente brilha. Mas os assuntos vão se acumulando e uma hora e meia parece pouco para lidar direito com tantas questões.
O roteiro não chega a ser confuso, mas fica claro que poderia ser mais enxuto. Fora a trama principal, temos o conflito entre Ruby e sua mãe Agatha, que escondeu coisas sobre ela a vida toda; a relação da garota com a avó e todo o desenrolar da história que envolve seu status de princesa; sua amizade com a novata Chelsea e a subtrama das sereias; e, por fim, a aceitação de Ruby e sua família como criaturas marinhas em meio aos humanos.
Com uma quantidade considerável de arcos narrativos, fica difícil desenvolver todos de forma satisfatória, é então que o ritmo do filme precisa acelerar para dar conta de tudo. Mas os blocos de história acabam ficando apressados e marcados por uma ordem repetitiva que alterna entre piadas, uma canção pop genérica, uma cena emotiva ou de luta, outra canção pop genérica e por aí vai. Não dá para cobrar muito de um filme que ambiciona apenas divertir crianças e famílias nas férias escolares, mas um esforço a mais recompensaria.
Ruby Marinho: Monstro Adolescente é uma animação divertida que se destaca pela presença e carisma de uma protagonista fora dos padrões. As composições de cenário são coloridas e o humor é bem construído, mas um pouco infantil, o que deve agradar bem mais crianças que adultos. Mas esta não deixa de ser uma ótima pedida para uma tarde com a família quando a intenção é ver algo leve, engraçado e charmoso.
Jornalista viciada em recomendar filmes e revisora de textos recifense que vive escrevendo sobre cinema nas horas vagas.