Sinceramente nunca falamos aqui de Reality Show, muitos desses entretenimentos acabam ganhando a característica de seriados sem ao menos o público perceber. A cada novo capítulo dessa novela da vida real apresenta-se conceitos, dramas, comédias e entre outras infinidades de características que marcam determinados programas destes gêneros. Como não lembrar de What We Do in the Shadows (2014) onde no longa metragem a vida de cinco vampiros é relatada neste formato, ou das animações Total Drama Island e Drawn Together que em meio a provas do líder e eliminações mostravam personagens inusitados em suas desventuras em seus Realitys. Não diferente deste formato e deste contexto encontra-se Rupaul’s Drag Race, e agora, vamos falar deste Reality.
Criado pela Drag Queen Rupaul, o Reality Rupaul’s Drag Race foi ao ar primeiramente pela MTV Estadunidense no ano de 2009, com baixo custo de orçamento e público muito seletivo o reality tem como objetivo promover uma nova Super Star Drag Queen, onde esta seja a mistura perfeita entre atuar, dançar, desfilar, cantar, estilizar, enfim, sendo uma Drag Queen impecável. Atualmente encontra-se com sua nona temporada encerrada e renovada para a décima temporada, tendo índices de audiência mundiais chegando aos trend topics do mundo diversas vezes, Rupaul’s Drag Race está ampliando cada vez mais o seu público alcançando esferas que nem eram propostas em 2009.
Mas, qual o segredo do sucesso deste reality com gosto de seriado? Seriam o festival de baixarias e barracos que acontecem a todo instante por causa das disputas de ego? Ou talvez pelo alivio cômico que encontramos nas Drags caricatas? Talvez seja pelo excesso de luxo e glamour que as personagens apresentam e inovam a cada temporada? Ou simplesmente tudo isso e muito mais? Nossa sociedade vive cercada por uma estrutura patriarcal, onde nomeia-se de dentro do ventre da mãe o que vem ser coisas de menino e coisas de menina, questões como gênero, sexualidade, orientação sexual sempre seguiram a lógica de uma sociedade plenamente ligada a heteronormatividade e temos que compreender que nenhuma sociedade está cristalizada no tempo, culturas e identidades elas são liquidas, elas estarão em constantes mudanças e Rupaul’s Drag Race vêm para afirmar isso. Discutir sexualidade, gênero, orientação sexual não deve ser um tabu, deve ser algo fluído, e a principal característica que encontramos neste reality/série é o drama dos participantes que viveram a pressão de uma sociedade heteronormativa. Temos que ver está produção como uma enorme quebra de tabus, onde a visibilidade para a comunidade LGBT nos dar, com muito louvor, uma lição poderosíssima chamada respeito. Carisma, Singularidade, Coragem e Talento são as principais características de uma Drag Queen que Rupaul nos apresenta, em troca simplesmente do nosso respeito. Simone de Beauvoir em seu livro “O Segundo Sexo” tem uma frase que nos ajuda a entender muito em o conceito do reality show “ não se nasce mulher, torna-se mulher.”, claro que a finalidade desta citação para a autora não representa isso, mas, é totalmente aplicável uma vez que gênero refere-se a construção social do sexo anatômico, todavia culturalmente ser homem ou ser mulher está além da anatomia humana.
Rupaul’s Drag Race vêm desenvolvendo um trabalho social digno, mostrando para comunidade mundial que ser Drag Queen está além dos estereótipos ligados a homens que se vestem de mulher para se prostituir, ser Drag é ser bela, é ser carismática, é ter coragem neste mundo ainda doente para as minorias. Então se você ainda não viu assista, na Netflix estão disponíveis da segunda até a oitava temporada. E encerramos com uma das lições mais impactantes e verdadeiras que Rupaul ensina ao longo das nove temporadas “Se você não consegue amar a si mesmo, como você vai amar outra pessoa? Amém?”
Um Historiador, Nerd, futuro roteirista de Quadrinhos e um escritor em desenvolvimento.