Não é de hoje que a Netflix produz um conteúdo original de qualidade: series, filmes, cartoons, animes, animações, documentários, enfim, costumamos dizer que a Netflix ainda está se organizando em termos de catalogo original, por isso que muitas produções ainda apresentam muitos conteúdos vazios e sem tanta expressão. Porém, já podemos considerar algumas destas criações originais como clássicos midiáticos. É impossível não achar maquiavélico Francis Underwood de House of Cards, ficar apreensivo com as vivencias das meninas de Orange is The New Black, ou o que o futuro pode nos guardar em Black Mirror, enfim, essas são algumas series originais Netflix que já nasceram prontas para serem clássicas, e daqui para o fim desta matéria apresentaremos argumentos para que Bojack Horseman entre nessa lista de clássicos.
Estamos falando de uma proposta conteudista muito interessante para o público adulto. Bojack Horseman surge em 2014 num meio onde a produção de “adult animation” está em alta. Diferente do humor “escarro” de Family Guy, The Cleaveland Show, American Dad, entre outros, Bojack apresenta perspectivas satíricas e filosóficas a respeito da vida das celebridades numa vertente totalmente icônica. Provavelmente é impossível você sair de um episódio sem rir, e também sem refletir sobre a proposta filosófica deste seriado. A animação adulta criada por Raphael Bob-Waksberg já está na sua terceira temporada e com nota de 8,4 pelo site IMDb. Trazendo atores como: Will Arnett de Uma aventura Lego (2014), Jonah Hex (2010), Arrested Development (2003), como o personagem principal da série Bojack Horseman; Aaron Paul de Olho do Mal (2008), Breaking Bad (2008), Pais e Filhas (2015) sendo o amigo de Bojack, Todd; Amy Sedaris de Seis dias, Sete noites (1998), Escola do Rock (2003), Gato de Botas (2011) como a empresaria do Bojack, Princesa Caroline; Alison Brie de Hannah Montana (2006), Mad Men (2007), Como ser solteira (2016), como Diane Nguyen a ghost writer de Bojack, e grande elenco.
Bojack Horseman apresenta sátiras totalmente ácidas a vida das celebridades, okay, isso já não é uma novidade. Falar da decadência das celebridades tonou-se um clichê nos muitos seriados já existentes, então porque defender Bojack Horseman como um seriado clássico? Pelo simples fato de (re)inventar o sentido destas sátiras clichês. Não é de hoje que temos celebridades com síndrome de deuses fazendo suas excentricidades, tão pouco atores decadentes que estão envolvidos em escândalos de sexo, drogas e prostitutas (os), ou mendigando papeis medíocres de fim de carreira. Todavia, nunca antes fez tanto sentido tocar neste assunto como agora, estamos rodeados de celebridades fracassadas! E Bojack Horseman apresenta isso num nível de humor muito sagaz. Também é muito importante compreender o real sentido do seriado Bojack Horseman, não é somente a história de um ator dos anos 90 que caiu no esquecimento, tão pouco a história de um ator que busca os holofotes da fama mais uma vez, não é só isso. Bojack Horseman é um seriado de drama, é comédia, porém, antes de tudo, é um seriado que fala de depressão. Bojack é solitário, egocêntrico, depressivo é cheio do dinheiro, porém a que custo? Ele é inexpressivo, ele grita por atenção, o seu humor trágico retrata o perfil que muitos se identificam, não estamos falando somente de celebridades decadentes, mas como a depressão nos leva a decadência. Reflitam acerca da própria abertura do seriado, ele é inexpressivo, a vida dele passa aos seus olhos, ele somente coexiste em sua própria vida, fracassadamente só coexiste. A câmera acompanha fixamente a sua face, mostrando festas, convivências, amores, trabalhos, mas sua face continua a mesma, inexpressiva. E vai finalizando sempre da mesma forma, caindo da sacada de sua casa e afundando dentro de sua piscina, somente com a abertura já é apresentado um contexto filosófico incrível, digno de reflexão.
A série não é estática, pensamos assim como este sendo seu maior diferencial, os personagens apresentam dramas e evoluem no decorrer da série, é claro que o foco total é o Bojack, mas nem por isso deixamos de nos identificar com os demais personagens e seus respectivos dramas. Nesta serie temos que quebrar alguns paradigmas lógico para compreende-la, primeiro pela própria construção dos personagens de forma zoomórficas ou antropomórficas (como preferirem chamar) e isso ao passo que, coexistem com humanos tendo relacionamentos livres entre si. Segundo, como a indústria cinematográfica e midiática muitas vezes tratam de seus artistas/produtores/diretores, todos são produto de mercado, logo, se não deu e/ou dá lucro é descartável para o mercado. E terceiro que ser celebridade é antes de mais nada, ser um humano como todo outro, cheio de mazelas das quais podem tornar-se a nossa destruição.
O roteiro é um dos principais pontos positivos. Repleto de críticas ácidas ao universo midiático os roteiristas sentem-se mais à vontade para tocar em determinados assuntos por terem como principais atores desenhos, o que suaviza a crítica sem desconstruí-la. Outro ponto positivo é a trilha sonora, ela vicia, ela rememora os anos 80 e 90, ela é psicodélica, ele é excelente, tanto a abertura de Patrick Carney, como a música de encerramento da banda Grouplove vale a pena conferir.
“Back in the ‘90s, I was in a very famous Tv show, I’m Bojack the horse, Bojack” essa música vicia rsrsrs.
Por se tratar de uma animação, parece que torna-se mais fácil falar de alguns assuntos. Talvez Bojack Horseman deveria ser uma live-action com o retrato de alguns atores verdadeiros narrando suas vidas. Talvez precisaria debruçar-se em outras temáticas menos/mais populares. E quem sabe construir cenários inimagináveis. Não senhores e senhoras, não precisa de nada disso, a Netflix acertou brilhantemente com Bojack Horseman em sua total excelência, da construção de roteiro continuados, passando pela elaboração, criação e evolução dos personagens, enredos e técnicas de uso da imagem, construção histórica do seriado, enfim, critérios para um clássico pronto. E olhe que estamos deixando aspectos individuais de lado nessa análise, se levássemos isto em consideração a credibilidade da série aumentaria e muito. Pois bem, se você ainda não assistiu Bojack Horseman vale muito a pena assistir, se assistiu comenta aí o que você achou da série, no mais é só isso por hoje.
Um Historiador, Nerd, futuro roteirista de Quadrinhos e um escritor em desenvolvimento.