A Guerra da Síria é um conflito que assola o mundo há muitos anos. E é nessa conjuntura que se passa o documentário “Os capacetes brancos” (The White Helmets) com direção de Orlando von Einsiedel e Joana Natasegara, produzido pela Netflix no ano de 2016.
Não há complexidade no documentário filmado em Aleppo; as imagens são um retrato nu e cru do cotidiano de alguns civis que se reuniram voluntariamente para salvar vítimas da guerra. São mecânicos, construtores – pessoas como eu e você – que dedicam suas vidas em prol dos outros.
A produção é contundente e necessária, principalmente por ser um retrato praticamente isento de posicionamentos políticos ou questões ideológicas. O que se apresenta no curta é justamente a consequência de um conflito constante, patrocinado por grandes potências mundiais, não havendo preocupação em abordar as questões complexas que envolvem aquele contexto. A mensagem é um tanto simples, assim como o filme em si.
Em meio a escombros e praticamente apenas ruínas da cidade, os capacetes brancos já são conhecidos e respeitados perante a sociedade. Aviões bomba já são comuns e, em certo momento do filme um deles revela que já sabe distinguir o som de um avião civil dos aviões bélicos. Dentre as cenas que mais chamam a atenção, destaca-se a que um bebê é resgatado dos destroços de um prédio após 16 horas soterrado. Fica difícil segurar a emoção, já que no vídeo o voluntário que o resgata revela que sente como se estivesse salvando o seu próprio filho.
Outro aspecto que chama a atenção é que durante o documentário, os capacetes brancos viajam para a Turquia para realizar um treinamento de resgate. Diante do fato de lá não haver guerra, o cinegrafista captura a imagem de um deles vislumbrando o céu. Céu este que não traz bombas, não traz aviões de guerra e é quieto e tranquilo.
Creio ser simplesmente destruidor conhecer uma realidade tão dolorosa e que, conforme sabe-se, não tem perspectiva de fim próximo. Diversas vezes durante a película vemos que cada um deles já teve perdas em suas família, tamanho o número das vítimas da guerra. Porém, para aqueles que pensam que esses homens, que veem diariamente tanta morte e sofrimento possam se tornar pessimistas ou “calejados”, enganam-se.
A mensagem que fica é de solidariedade, amor ao próximo e de muita, muita fé. De algo tão terrível como a guerra, podem surgir iniciativas que servem de exemplo para todos. Durante as entrevistas, todos expressam sua gratidão por participarem daquela organização. Igualmente, eles têm sonhos e muitos planos para seus filhos e anseiam por dias melhores. Vale a assistida: seja para valorizar o lugar ao qual estamos, seja pela reflexão ou para um choque de realidade.
“Os capacetes brancos” foi vencedor do Oscar de Melhor Documentário de Curta Metragem de 2017. Desde 2013, já houve mais de 130 capacetes brancos mortos. Em contrapartida, a organização ajudou a salvar mais de 58.000 vidas, segundo dados do filme.
“Salvar uma vida é salvar toda a humanidade”.