Woody Allen, diretor norte-americano, escreveu um artigo chamado “O Percurso Sombrio”, no qual, falava um pouco sobre a autobiografia de Ingmar Bergman, “Lanterna Mágica”. No texto, Allen diz “O que mais se pode querer? Sentido, profundidade, estilo, imagens, beleza visual, tensão, fluência narrativa, velocidade, economia, fecundidade, inovação, um diretor de atores sem igual. Foi isso que eu quis dizer por absolutamente o melhor”.
Encontramos todos esses aspectos citados pelo Sr.Allen em “O Sétimo Selo”. Lançado em 1957, o filme trata de duas das obsessões de Bergman durante sua vida, a religião e as diversas dúvidas que ele teve por conta dela, e a morte, pela qual ele sempre se demonstrou curioso.
Nessa obra, a morte é a personagem principal. Antonius Block, interpretado por Max Von Sydow, é um cavaleiro cruzado que está voltando para a sua casa. No caminho, durante uma parada, a Morte, vivida por Bengt Ekerot, o aborda, dizendo que seu tempo acabou. Block decide desafia-la para um jogo de xadrez, no qual, caso ganhe, ele permanece vivo.
A montagem é essencial para que o público consiga entender a reflexão que o filme gera, através dela, é possível observarmos vários ângulos, cenas de campo e contra campo, mostrando o cotidiano da vila pela qual Block passa. Aliado a isso, está à trilha sonora musical, que ajuda a criar a tensão necessária para a morte agir, digo “morte” em minúsculo, pois, o filme mostra que a Morte que ali está jogando xadrez é uma personificação, mas, ela está presente em todos nós, isso fica bem exposto pela multiplicidade de personagens que temos a oportunidade de conhecer.
Há o guarda que prende a “Bruxa”, há o companheiro de viagem de Antonius, chamado Jons (Gunnar Bjornstrand) que por onde passa, parece disseminar o caos, sempre deixando um rastro de negatividade, há o soldado que joga algo em um ator, enquanto este se encontra trabalhando, os acompanhantes da procissão onde prisioneiros são levados para a fogueira e a mulher que abandona o marido.
Cada um desses citados acima refletem pessoas e segmentos da sociedade atual, e todos eles causam um tipo diferente de morte. Até porque, a morte tem o mesmo fim, mas, nunca tem o mesmo começo, e “O Sétimo Selo” é um filme sobre os começos da morte, das imperfeições e das coisas ruins da vida.
Por conta dessa variedade de personagens, nos flagramos, no decorrer da projeção, sentindo simpatia por eles, e é justamente isso que Bergman demonstra querer. Usando sempre do primeiro plano (quando a câmera está próxima ao ator ou a atriz) quando há algum dialogo, e são muitos diálogos. O diretor quer que a gente entenda que o filme não mostra apenas um conflito entre Luz e Razão na idade média, e sim, que esse conflito permanece, e ainda vai persistir, já que a vida está atrelada a morte e sempre haverá em nossa sociedade, certos questionamentos, que são: “Deus existe?”,” O que é esse vazio interior que sentimos?”.
Os aspectos técnicos citados acima permitem que a projeção tenha fluxo narrativo, e esse ritmo, faz com que as reflexões sejam mais facilmente geradas no espectador. E, elas não são apenas geradas, mas, elas permanecem em nós, o que demonstra a não datação da obra.
Ingmar Bergman conseguiu em “O Sétimo Selo”, unir roteiro e visual com perfeição, nos deixando uma obra rica, cheia de reflexões e que permanece viva pela falta de empatia da sociedade, que insiste em começar o processo de morte diariamente, causando assim, uma sensação de vazio, que, infelizmente, irá permanecer por muito tempo.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com