O futebol feminino no Cinema

De 07 de junho a 07 de julho de 2019 será realizada, na França, a 8ª Copa do Mundo de Futebol Feminino, com 24 equipes – incluindo a brasileira – competindo pela taça. Muitos elementos fazem dessa edição especial: pela primeira vez no Brasil a televisão aberta transmitirá os jogos da seleção; as vendas de ingressos quebraram recordes, com entradas para a abertura e as partidas finais esgotadas em menos de 48 horas; foi lançado um álbum de figurinhas para aficionados e aficionadas e várias campanhas têm ampliado a visibilidade do assunto.

Nesse clima de expectativa e euforia, selecionamos* alguns filmes que, de uma forma ou de outra, tratam do universo do futebol feminino. Embora ainda pouco explorado pelos grandes estúdios, algumas obras bem interessantes já foram produzidas sobre o tema. Prepare a torcida, separe a pipoca e aproveite nossa lista nos intervalos entre um jogo e outro.

*Agradecimentos a Ingrid ao Caio e ao Gabriel, que ajudaram nas indicações.

Como Meninos (Comme des garçons) [2018]

Dir: Julien Hallar. FRA. 90 min.

Na cidade de Reims, em 1969, uma despretensiosa partida de exibição, cujo intuito era apenas provocar os editores do periódico local, vai ganhando ares cada vez mais sérios. Após chamar a atenção da imprensa e mexer com os ânimos da população, resulta na criação do primeiro time oficial de futebol feminino da França, sede da Copa 2019. Cinematograficamente falando, o filme deixa a desejar em alguns aspectos, preferindo ser mais uma comédia romântica do que registro factual, carregando consigo velhos clichês e convenções do gênero. Mas vale ser mencionado por ser o relato de uma história pouco conhecida que merece ser contada.

Eu, Jogadora – Um Autorretrato do Futebol Feminino (2017)


Dir: Cristiano Fukuyama, Edson de Lima e Luiz Nascimento. BRA. 19 min.

O futebol feminino contado por quem melhor o entende: as mulheres que o fazem. Esse documentário em curta-metragem ouve cinco importantes figuras da modalidade: Emily Lima, a primeira mulher a ser técnica da seleção brasileira; Nilda Ismael e Roseli de Belo, atletas olímpicas que ajudaram a pavimentar o caminho; Brenda Isadora e Camila Mehler, revelações da modalidade. Experiências, sentimentos e sonhos compõem esse belo autorretrato construído com as vozes de quem vive a realidade do esporte. Está disponível no YouTube.

Driblando o Destino (Bend It Like Beckham) [2002]

Dir: Gurinder Chadha. GRB/ALE. 112 min.

Com 18 anos e morando em Londres, a jovem indiana Jesminder (Parminder Nagra) sonha em ser jogadora, mas para isso precisa enfrentar a resistência de sua família, cujo conservadorismo não vê com bons olhos seu desejo de seguir os passos do ídolo David Beckham. Com uma jovem Keira Knightley no elenco, Driblando o Destino aborda diferenças culturais e choques entre gerações, mostrando como o futebol pode exercer um papel mediador em tais conflitos. Gerou uma peça de teatro em 2015.

Mulheres do Progresso: Muito além da várzea (2018)

Dir: Jamaikah Santarém. BRA. 15 min.

Outro documentário em curta-metragem, nos apresenta a Márcia Piemonte, Sandra Aparecida Pereira, Sindy Rodrigues e Tianinha Santos. Moradoras de diferentes regiões periféricas da cidade de São Paulo, possuem uma relação especial com o futebol de várzea. A expressão “não é só futebol” cai bem aqui, pois o envolvimento dessas mulheres com seus respectivos times extrapola as quatro linhas e influencia o cotidiano e a realidade das comunidades em que vivem.

Ela é o Cara (She’s the Man) [2006]

Dir: Andy Flickman. EUA. 105 min.

Talvez o longa mais popular relacionado ao tema, conta a história de Viola (Amanda Bynes), adolescente que fica inconformada com a extinção do time de sua escola, resolvendo elaborar o plano de se passar por seu irmão gêmeo e jogar na equipe de garotos da escola dele. Apesar do enredo surreal e dos velhos vícios das comédias de colegial, embalou inúmeras tardes da televisão na década passada. Uma curiosidade: o roteiro é inspirado na peça de Shakespeare Noite dos Reis, em que a personagem Viola também se faz passar por homem.  

Futebol Para Melhor ou Para Pior (Football for better or for worse) [2017]

Dir: Inger Molin. SUE. 72 min.

O sueco FC Rosengard é um dos principais times da Europa, além de ter sido a casa de Marta de 2014 a 2017. Porém, no mundo do futebol feminino até as grandes equipes passam por dificuldades, o que é o foco desse documentário que penetra a dura realidade vivida pelo clube durante uma temporada, tentando sobreviver em meio às desigualdades. Disparidade salarial de gênero; estrutura precária; falta de patrocínio e parco investimento nas categorias de base não fazem parte apenas do cenário brasileiro, mas também estão presentes no primeiro mundo.

Gracie (2007)

Dir: Davis Guggenheim. EUA. 95 min.

Em junho de 1972 o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma série de emendas educacionais, entre elas o chamado Title IX, uma lei que proibia que uma pessoa fosse impedida de praticar esportes com base em seu gênero. No longa, que se passa em 1978, a lei será requisitada pela estudante de 15 anos Grace (Carly Schroeder), que, após perder o irmão mais velho em um acidente de carro, decide substituí-lo no time do colégio. Desencorajada por todos ao seu redor – incluindo a própria família –, a garota apela para a lei, conseguindo assim uma vaga. Um fato curioso sobre o filme é que ele é em parte baseado em eventos ocorridos na infância da atriz Elisabeth Shue, que interpreta a mãe de Grace.

Minas do Futebol (2017)

Dir: Yugo Hattori. BRA. 50 min.

Em 2016, por não haver um campeonato feminino sub-13, o A. D. Centro Olímpico conseguiu o direito de participar de uma competição masculina, a Copa Moleque Travesso. Como em uma daquelas típicas histórias de Cinema, o time foi avançando até vencer a competição. Foi algo tão extraordinário que poderia virar filme, e virou. Minas do Futebol documenta essa trajetória e como ela contribuiu para a criação do primeiro Campeonato Paulista Sub-17, no ano seguinte. Disponível no YouTube.

Garota Boa de Bola (Her Best Move) [2017]


Dir: Norm Hunter. EUA. 101 min.

Como uma menina que sonha em ser jogadora concilia esse desejo com as dúvidas da adolescência? É essa a proposta de Garota Boa de Bola, em que conhecemos Sara (Leah Pipes), uma estudante de 15 anos e prodígio do futebol. Conforme novas perspectivas de futuro no esporte vão surgindo, novas responsabilidades também passam a fazer parte de sua vida, conturbando uma rotina já muito atarefada.   

Dare to Dream: The Story of the U.S. Women’s Soccer Team (2005)

Rot: Ousie Shapiro. EUA. 77 min.

É muito comum associar futebol feminino com a seleção norte-americana, afinal se trata de uma equipe tricampeã mundial e tetracampeã olímpica. Muito disso se deve à geração praticamente imbatível dos anos 1990, que tem sua trajetória contada nessa produção da HBO Sports, desde os primórdios no fim dos anos 1980 até o ouro olímpico em Atenas em 2004. A deixa para a realização do filme é o jogo de despedida das lendas Mia Hamm, Julie Foudy e Joy Fawcett, em dezembro de 2004. Muito do que a modalidade é hoje passa pelo pioneirismo dessas atletas, que encantaram pelo nível técnico, fizeram o esporte subir de patamar e serviram de inspiração para as gerações seguintes. Além do trio de protagonistas, conta com depoimentos de Brandi Chastain; Michelle Akers; Kristine Lilly; Carla Overback; April Heinrichs e Briana Scurry, além dos técnicos Anson Dorrance e Tony DiCicco.

Onda Nova (1983)

Dir: Ícaro Martins e José Antonio Garcia. BRA. 102 min.

O futebol feminino foi proibido no Brasil a partir de abril de 1941, em função de um decreto-lei que não permitia às mulheres a prática de esportes “incompatíveis com as condições de sua natureza”. Após o fim da proibição em 1979, a regulamentação veio em 1983, no mesmo ano em que Onda Nova era produzido. Bebendo muito na fonte da pornochanchada (e com participações de Casagrande, Regina Casé e Caetano Veloso), o filme trata do Gaivotas Futebol Clube, time criado como um gesto de rebeldia por um grupo de garotas em um manifesto contra os costumes da época. Embora em seus anos finais, a ditadura militar não ignorou o longa, cujas cenas de sexo e consumo de drogas criaram um impasse envolvendo a classificação etária, atrasando seu lançamento para 1984.

Mujeres con pelotas (2014)

Dir: Gabriel Balanovsky e Ginger Gentile. ARG. 75 min.

Talvez você já tenha se perguntado por que a seleção feminina da Argentina não tem o mesmo desempenho ou a tradição do time masculino. Uma das respostas se encontra em Mujeres con pelotas, que retrata essa (complicada) realidade. Preconceito, falta de apoio familiar e quase nenhum incentivo das autoridades tornam muito difícil a carreira de jogadora no país vizinho, resultando em um enorme e lastimável desperdício de potencial, uma vez que as argentinas não deixam a desejar em nada no que se refere à sua paixão pelo esporte.

Geração Peneiras (2019)

Dir: Bárbara Bárcia, Claudia Alves e Fernanda Prestes. BRA. 11 min.

Qual o caminho que uma garota precisa percorrer para se tornar jogadora? No Brasil, as famosas peneiras costumam ser o meio mais usual de inserção no meio, e foi assim que Mariana da Silva (18) e Kamile Pavarin (17) iniciaram suas promissoras carreiras. Com a Copa e o momento de repercussão vivido pela modalidade, a expectativa é que o processo de formação de atletas se amplie e fique mais estruturado. Pode ser conferido no YouTube.

Fora do Jogo (Offside) [2006]

Dir: Jafar Panahi. IRN. 93 min.

O último da lista não é sobre o jogo em si, mas um dos elementos que o tornam apaixonante: o ato (e o direito) de torcer. Notório crítico do regime iraniano, já tendo sido preso e proibido de filmar, o diretor Jafar Panahi traz o conto de seis garotas que se disfarçam de homens para ver uma partida entre Irã e Bahrein, valendo vaga na Copa 2006 (no país as mulheres são proibidas de frequentar estádios e ginásios esportivos). É um cenário essencialmente melancólico, pensar em mulheres que precisam esconder quem são apenas para poder desfrutar de um jogo. Mas Panahi é dotado de sensibilidade o suficiente para criar um filme leve e até cômico em certos momentos, sem contudo sacrificar a seriedade do assunto. E é particularmente tocante quando o motivo de uma das garotas ter ido ao estádio é revelado. Enfim, temos aqui Cinema e futebol unidos na criação de uma narrativa humana.

E aí, curtiu nossa lista? Já viu algum? Sentiu falta de um título que não foi relacionado? Deixe nos comentários!