Em algum momento da vida, seremos atingidos por dúvidas, incertezas, frustrações e abandonos. É como lidamos com eles que acaba por definir tanto nós como pessoas, quanto como vemos o outro, o mundo e afins.
É justamente uma pessoa lidando com as dúvidas e frustrações que é a personagem principal de “O Abismo Prateado”. Lançado em 2011, com direção de Karim Ainouz, o filme conta a história de Violeta, interpretado por Alessandra Negrini, que, ao ser abandonada pelo marido, começa uma busca por si própria nas ruas do Rio de Janeiro.
A obra é inteligente ao iniciar de forma desfocada, na apresentação de seu titulo, pois, assim, vemos como a mulher ficará após o abandono do marido, e essa falta de profundidade de campo, esse desfoque, é predominante durante toda a projeção e com o sumiço gradual dele, percebemos a evolução da personagem, o amadurecimento e a maturidade.
Junto com a fotografia, há o uso da cor, que é escura mesmo em ambientes externos e em lugares mais claros, o que mostra como a vida da moça mudaria rapidamente (pois, desde o começo, as sombras predominam), e como essa virada na vida dela se concretiza. Logo, a cor é uma pista que o público tem em relação à personagem e ao o que irá acontecer dali para frente.
O filme é muito bem ritmado, o que se deve ao tempo certo que cada plano dura e a montagem, que, sem tentar inventar demais, sendo direta assim como o roteiro, criou uma história concisa, com uma duração muito boa de uma hora e meia aproximadamente. Logo, se os planos onde ela está com o filho duram pouco, indicando uma possível crise no relacionamento entre os dois, os planos onde ela está sozinha ou onde a solidão é dominante (como na linda cena onde a personagem dança “Maniac” em uma balada), expõe que, caso ela permita, a solidão vai dominar a vida dela o mais rapidamente possível.
Para percebermos tudo isso é essencial uma boa atuação da atriz principal, que é justamente o que temos de Alessandra Negrini, inteligente ao usar um olhar baixo na maioria das cenas nas quais está acompanhada ( com exceção das ultimas), a interprete consegue expor perfeitamente a solidão em que se encontra e como aqueles machucados que carrega ao longo do filme não são apenas físicos, e sim, principalmente, psicológicos – destaco também que a cicatrização desses ferimentos foi algo inteligente do design de produção, pois essa cura é física e mental.
Levando empatia ao espectador ao usar a bela música “Olhos nos Olhos” de Chico Buarque em um momento crucial da projeção (e é nela que o filme se baseia), “O Abismo Prateado” expõe muito bem aquilo que é o abismo que a solidão traz, como nós facilmente podemos cair nele a qualquer momento e como, mesmo depois da queda, a ascensão se torna possível, se tivermos a força e o companheirismo o suficientes para nos levantarmos.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com