Há vários filmes que usam o esporte como pano de fundo, uma das modalidades que mais cria histórias é o boxe. No passado, grandes clássicos surgiram a partir de obras que abordavam essa modalidade, “Rocky” e “Touro Indomavel” foram sem dúvida alguma, projeções que influenciaram esse “Nocaute”.
Dirigido por Antoine Fuqua, popular por seus filmes de ação, a obra traz a história de Billy Hope, interpretado por Jake Gyllenhaal, boxeador que como muitos esportistas, veio de uma infância pobre em uma vizinhança pobre. O homem é casado com Maureen, representada por Rachel McAdams, e tem uma filha. Após um evento de caridade e de uma provocação de um lutador querendo arranjar uma luta, uma briga ocorre e a esposa de Hope vem a falecer. Assim se inicia a jornada de volta a vida do homem, já que ele perdeu tudo por ter perdido a cabeça por conta do ocorrido.
Vimos por essa sinopse uma referencia a Rocky, não que a superação feita por Stallone no filme tenha iniciado por conta de um acontecimento trágico, mas, ambas as caminhadas tem certos pontos em comum, como por exemplo, se passarem em um bairro pobre de uma cidade grande dos Estados Unidos – Filadelfia no caso de Rocky e Nova York no caso de Hope – ambos tem uma relação forte com o treinador e os dois tem um amor pelo qual lutar.
Se o amor de Rocky reside na figura de Talia Shire e sua personagem Adrian, aqui, a filha de Hope é que da a ele a motivação, e isso fica claro não apenas por ele lutar pela guarda da menina durante quase todo o filme, mas também por mudar suas atitudes em relação ao boxe e em relação à vida.
Essas mudanças, em um ator mais limitado, teriam sido prejudiciais a obra, causando a sensação de clichê já conhecida do público, mas, nas mãos de um interprete acima da média como Jake Gyllenhaal, a projeção ganha na construção de um homem multifacetado, que ao mesmo tempo em que sabe da necessidade de trabalhar para viver, não quer trabalhar em um serviço que considera ruim, que tem vontade de beber, mesmo sabendo que não pode consumir álcool, e que faz de toda a vida dele uma luta, como se as ruas da cidade em que vive fossem um ringue.
E isso explica o porquê de a câmera estar tão próxima dos personagens, tanto nas cenas de luta quanto nas que não tem luta. A aproximação da câmera é algo arriscado em um filme de boxe, mas, que se for bem feito, se torna uma decisão acertada, além de elegante, por mostrar as lutas de forma mais próxima. “Nocaute” ousa nesse aspecto, já que além de usar o que já foi citado, ainda usa em certos momentos o ponto de vista subjetivo, e a subjetividade é bem encaixada, já que a cada soco a câmera balança, cai para os lados e para trás, fazendo dessa forma o público perceber com efetividade a intensidade de uma luta de boxe.
Assim como a montagem, que permite que as cenas de luta tenham a duração necessária para que percebamos várias coisas, entre elas está o fato da mudança física de Gyllenhaal, que está forte e com um porte físico de um atleta, além de que não há duble nas cenas de ação, e isso fica exposto pela proximidade da câmera em relação aos atores, é o próprio Jake quem realiza todas aquelas coreografias de luta.
Sendo um filme que agrada a todos os tipos de público, “Nocaute” é um exercício de linguagem ao mesmo tempo em que é estudo de personagem, isso graças a decisões acertadas de seu diretor e de um ator que sabe o que faz com o seu papel, tornando um filme que poderia ser bobo e mais do mesmo, em uma projeção completa em todos os aspectos.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com