Finalizando a nossa semana do cinema brasileiro nós trazemos um filme que simplesmente é lindo. Mulher, guerreira, brasileira, alagoana, dona de um ideal único, Nise da Silveira é um exemplo para a área da psiquiatria e principalmente ao cuidado humano. Em “Nise, O coração da loucura” encontramos o que é compromisso com os aspectos da dignidade humana.
Recém adicionado no catálogo da Netflix, “Nise, O coração da loucura” não é somente mais um filme biográfico do cinema brasileiro, o filme é a pura essência dos diversos perfis femininos de exemplo de luta que muitos ainda desconhecem. Nise da Silveira foi uma psiquiátrica de referência, perseguida pela ditadura Vargas, presa na mesma cela que Olga Benário, Nise é um mártir que lutou e militou por ideais justos. O autor Artaud nos diz que “ A loucura enuncia para a sociedade, verdades que são insuportáveis.” Nise consegue captar inteiramente esse pensamento e sempre lutou para afirmar que a loucura não era uma doença mental, ela percebeu que pela arte existe tratamento. Nise era uma Outside em meio aos estabelecidos da sociedade, enfrentou militares, ditadura, as técnicas da psiquiatria, a sociedade machista, dona de um amor incondicional a humanidade Nise é interpretada por Glória Pires que da vida a uma mulher extremamente de luta. Passeti ainda nos diz que “Nise da Silveira diante das luzes da psiquiatria, da maioridade atingida com o cartesianismo, nos sugere a emoção de lidar, a liberdade de pensar livremente pela razão do outro. Não há mais doente mental, não há mais o outro, aquele ser que em nossa cultura, para não ser dizimado, precisa aceitar ser subordinado, tornando-se o mesmo de mim.” Afinal de contas quem seriam os loucos e quem seriam os sãs na nossa sociedade contemporaneamente adestrada pelo que dizem ser certo, pelo que dizem ser normal?
No filme, Nise retorna a clinicar depois de sete anos afastada da psiquiatria onde foi presa, subjulgada pela sociedade repressora e pela ditadura. Nise é a representatividade da imagem feminina empoderada, dona de técnicas revolucionarias que constrangia e incomodava uma sociedade de médicos machista, onde Nise encontra na Arte um método de tratar a psiquiatria demonizada pela sociedade, os métodos de Nise são evidenciados a todo momento do filme, e a cada vez que tornam a ser exemplificados nós telespectadores ganhamos uma aula poética dos cuidados aos humanos chegando ao inenarrável. Nise da Silveira não concebia a arte separada da vida, o teatro alheio à existência, a loucura como doença, artista como momento profissional. Louco, artista e terapeuta ocupacional, como ela preferia se chamar, ao lado de bichos, amigos e amorosidades, atentam contra as estabilidades. Um filme nacional que mostra a imparidade de uma mulher nordestina, que pouco calou-se mediante a sociedade machista.
Se caso você ainda não parou para assistir Nise, assista! Este é um daqueles filmes biográficos imortais em diversos aspectos, mas principalmente enquanto brasileiro tem seu valor mais significativo de orgulho, somente em pensar que a Nise é brasileira e foi capaz de uma doçura sem capacidade de mensura com o trato de seus pacientes. Viva o Cinema Brasileiro SEMPRE!!!
Um Historiador, Nerd, futuro roteirista de Quadrinhos e um escritor em desenvolvimento.