Crítica | Ninho de Musaranho (Musarañas) [2014]

Nota do Filme:

Ninho de Musaranho[1] acompanha a vida de Montse (Macarena Gómez), costureira de meia idade agorafóbica[2] e vive em Madrid na década de 50. Desde pequena cuida de sua Irmã[3] (Nadia de Santiago) mais nova, uma vez que a sua mãe morreu durante o parto e o pai (Luis Tosar) as abandonou para lutar na guerra. Todavia, após Carlos (Hugo Silva), seu vizinho, aparecer à sua porta ferido, os segredos que tanto se esforçou para esconder começam a vir à tona.

É sempre interessante quando um filme se propõe a manter o foco da narrativa majoritariamente em um local. Isto porque fica evidente, ao espectador, se tal decisão decorreu de ponto relevante do roteiro ou, na realidade, é simplesmente uma implementação para dar ao longa um aspecto diferenciado.

Felizmente, Ninho de Musaranho se mantém na primeira categoria. A própria proposta da trama, que tem uma protagonista agorafóbica, torna necessária a limitação da ambientação da história. Nesse sentido, a ligação da personagem com o mundo exterior é apenas a sua janela, o que limita não apenas a sua vivência como também a da audiência.

Outrossim, há mais a ser dito acerca do uso do cenário. O excelente trabalho de câmera dos diretores iniciantes Juanfer Andrés e Esteban Roel se propõe a aumentar ao máximo a sensação de claustrofobia pela qual passa o espectador. Rapidamente é estabelecido o pequeno tamanho do local, de modo que esconderijos são praticamente inexistentes.

Ainda, é mantido, no decorrer da obra, uma forte sensação de imprevisibilidade, o que faz com que sempre haja algo a mais a se analisar acerca das ações dos personagens. Assim, a tensão é construída de maneira competente, explorando ao máximo o modo de pensar de sua personagem principal e como as suas ações afetam aqueles ao seu redor.

Importante ressaltar que o roteiro consegue criar uma boa relação de causa e efeito. A protagonista é produto do meio no qual sempre esteve inserida. Há uma razão de ser por trás de sua doença e é impossível não sentir empatia a medida que a sua infância – ou falta de – se revela em tela. É nítido que o seu amadurecimento precoce a afetou profundamente, de modo que sequer consegue notar o quanto a sua irmã cresceu e como, eventualmente, irá trilhar o seu próprio caminho.

Tais pontos são complementados por excelentes performances. Nadia de Santiago e Hugo Silva apresentam trabalhos sólidos, com boa química quando em cena. Todavia, a interpretação de Macarena Gómez acaba por ofuscar os colegas. Isto porque transmite, com facilidade, a constante fragilidade de Montse, ao mesmo tempo em que passa uma forte sensação de perigo. A dualidade aparente exige um equilíbrio perfeito, motivo pelo qual, caso caísse em mãos menos capazes, poderia prejudicar o filme de modo irreparável.

Entretanto, alguns pequenos erros prejudicam o desenrolar da narrativa, sobretudo ao final. Primeiramente, por menores que sejam as cenas fora da residência da protagonista, elas acabam minando o sentimento de claustrofobia tão bem construído pela obra. Um pequeno deslize, mas um deslize ainda assim.

Ademais, há problemas quanto ao desfecho da história uma vez que algumas resoluções são apresentadas de maneira apressada demais. Desse modo, devido à rápida sucessão de eventos, o impacto de pontos relevantes à trama não funciona como deveria, dando a impressão de um encerramento pouco planejado.

Felizmente, a despeito desses pequenos defeitos, o conjunta da obra é positivo. A forte tensão criada pelo intrigante roteiro é complementada pela boa técnica de direção e fantástica atuação de Macarena Gómez, criando um envolvente suspense que, certamente, agradará à maioria dos espectadores.

[1] Também conhecido como Sangre de mi Sangre.

[2] https://pt.wikipedia.org/wiki/Agorafobia

[3] A personagem de Nadia de Santiago jamais é nomeada no decorrer do filme.