No último dia 12 de novembro, chegou ao fim o X Janela Internacional de Cinema do Recife. O festival trouxe em sua programação longas e curtas-metragens de vários países do mundo e aguardadas produções do cinema nacional, como o elogiado “As Boas Maneiras”, de Juliana Rojas e Marco Dutra. Entre competições de produções inéditas e exibições de cópias restauradas de clássicos, a exemplo de “Suspiria”, de Dario Argento, uma das sessões mais disputadas foi, sem dúvidas, a do festejado “Me Chame Pelo Seu Nome”, longa que vem despontando como um dos favoritos na temporada de premiações 2017/2018 e que teve uma sessão única – lotada – no dia 03 de novembro, ocasião de abertura do Janela.
Baseado na novela homônima de Andre Aciman, o roteiro de “Me Chame Pelo Seu Nome”, assinado pelo veterano James Ivory, entre outros, versa sobre o romance fortuito vivido por Elio e Oliver, interpretados por Timothée Chalamet e Armie Hammer respectivamente. A ação se passa no verão de 1983, quando um estudante de História (Hammer) se hospeda na casa de seu professor (interpretado por Michael Stuhlbarg) para uma temporada de pesquisas em uma pequena cidade costeira italiana. Elio, o filho do professor, irá se apaixonar pelo hóspede, a despeito de uma intempestiva resistência inicial.
A direção é de Luca Guadagnino, do excelente “Um Sonho de Amor”. O cineasta não perde tempo com floreios, ainda que haja uma sofisticação narrativa pulsante, preferindo contar a história que tem em mãos de forma direta, carregando na tensão sexual e flertando com as artes plásticas, demonstrando mais uma vez uma forte inspiração no cinema clássico de Luchino Visconti. Amparado numa fotografia e em um desenho de produção de caráter naturalista, Guadagnino compõe um cenário de rusticidade solar e uma narrativa calorosa e avassaladora, onde não há muito tempo para contemplação.
Se a atuação de Armie Hammer surpreende positivamente, já que o ele nunca havia demonstrado grandes momentos, a de Timothée Chalamet impressiona. O ator de 22 anos compreende o seu personagem de forma revigorante, se distanciando de qualquer estereótipo de adolescente mimado ou entediado. É impossível não se ver projetado ali em vários momentos, seja numa pretensa resistência ao personagem de Hammer e na entrega que se avizinha, seja na encruzilhada emocional em que o seu Elio, inadvertidamente, irá se encontrar. Chalamet nos conduz por essa jornada de autodescoberta e despertar sentimental de forma fascinante e o plano final, um belíssimo exemplo da genialidade do roteiro e da direção, é uma síntese devastadora e inesquecível do seu trabalho.
Por fim, ao longo de 132 minutos, “Me Chame Pelo Seu Nome”, fugindo de qualquer reducionismo, se revela mais do que um romance LGBT, como poderia ser facilmente taxado. Trata-se, na verdade, de um longa de inegável frescor e sofisticação sobre a aurora emocional e sexual de um jovem, onde o que importa de verdade são as consequências dos eventos testemunhados por aquele verão na sua vida. Direção, roteiro e atuações encontram-se alinhadas como o mar, a História e as artes dentro do próprio filme, confluindo para a composição de uma obra-prima excitante, tenra e de valor cinematográfico inquestionável.