“Irma Vep” (1996), é um filme metalinguístico e talvez seja até mais que isso, já que a obra mostra como o cinema iria mudar nos anos 90,até se tornar a indústria cada vez mais forte que é hoje, fazendo uma análise que vai do cinema mudo até o cinema falado.
Dirigido por Olivier Assayas, acompanhamos Maggie Cheung (interpretando ela própria), no papel de Irma Vep, em um remake de “Os Vampiros”, filme de 1915, dirigido por Louis Feuillade. Por não falar francês, ela enfrenta dificuldades com a equipe e com o diretor, com o acréscimo de que o diretor do filme se perde no trabalho, devido a sua vida pessoal, assim como uma de suas assistentes de produção.
Como dito, Assayas faz uma análise do cinema como indústria, para isso, ele usa a desordem para criar o retrato fílmico que propõe. Os ângulos de câmera são os mais variados, vai de câmera na mão e estática, como em documentários, passa pela câmera parada e distante, predominante no cinema mudo, travellings para os lados, ferramenta do cinema moderno e variação decores em todo o quadro, não apenas como paleta, igual ocorria no cinema mudo, para passar essa mensagem de forma visual.
Neste ponto, é importante notar como a fotografia não vai apenas do colorido para o preto e branco, sendo que este ultimo é usado para mostrar o resultado das filmagens do remake que foram realizadas até aquele momento, mas também vai para os tons azulados, como nos filmes expressionistas alemães nos quais “Os Vampiros” se inspirou e também para tons acinzentados, como alguns dos filmes mudos norte-americanos.
Mas, Assayas usa isso como uma ferramenta para relatar sua história principal. A análise de conjuntura da indústria não é apenas nas mudanças técnicas que surgiram no meio do caminho, mas também em relação as pessoas. O diretor faz com que seus personagens sejam totalmente desinteressados, como se o cinema não fosse um meio de transmitir uma reflexão, mas apenas uma forma de trabalho e com o único objetivo de ganhar dinheiro.
Não que ganhar dinheiro seja ruim, todas as pessoas têm seus desejos e necessidades, o problema é não gostar do que faz e não ter a mentalidade de fazer um trabalho bem feito mesmo sem gostar. Por transmitir isso, Assayas faz um apelo, para que os profissionais gostem do que fazem ou,caso não gostem, que ainda assim façam bem feito, pois o cinema ainda tem muito o que evoluir.
Vendo esse filme agora, o apelo que Assayas fez, mesmo que inconscientemente, funcionou, e o cinema, assim como suas tecnologias, evoluíram e continuam a evoluir, fazendo os filmes serem cada vez melhores tecnicamente e os profissionais serem cada vez mais capacitados.
Logo, “Irma Vep”, consegue traçar um panorama do passado, presente e futuro cinematográficos em 1h38 minutos de duração, sendo um filme inteligente, por usar a melhor ferramenta para falar de cinema: o próprio cinema.
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com