No ano de 1992, o primeiro filme de Quentin Tarantino estreava. “Cães de Aluguel” conta a história de ladrões que foram contratados para um roubo de diamantes, que não dá certo, e eles passam a investigar qual deles cometeu a traição, esta que levou ao mal sucedido empreendimento.
Em 2016, 24 anos depois, percebemos como a obra de estreia de Tarantino influencia o mundo cinematográfico. “Free Fire”, dirigido por Ben Wheatley e produzido por Martin Scorsese, conta uma história similar. Uma negociação de armas envolvendo Chris (Cillian Murphy) e parceiros da máfia irlandesa, sendo intermediada por Justine (Brie Larson) e com o produto oferecido por Ord (Armie Hammer) e Vernon (Sharlto Copley), não dá certo e os personagens passam a brigar entre si pelo dinheiro e pelas armas.
A obra se passa em um curto período do tempo, o que justifica a duração de uma hora e meia do filme (e poderia ser mais conciso, uns 40 minutos seria perfeito), se passa no período da noite, dentro de um galpão e, justamente por isso, a fotografia poderia ser melhor, já que a iluminação não ajuda na hora do espectador visualizar a ação.
O que é uma pena, já que do tempo citado de projeção, mais da metade dele é destinado a troca de tiros, sem quase nenhum dialogo no meio dela, e além da fotografia que não ajuda, a montagem deixa a desejar, já que o excesso de cortes, aliado a tentativa de mostrar tudo o que acontece em cada metro quadrado do galpão prejudica que o espectador identifique o que ocorre. Quase nunca sabemos quem atira em quem, temos uma impressão continua de que todos ali erram a maioria de seus tiros e não sabemos exatamente quem tá do lado de quem, já que não enxergamos os dois lados da batalha de forma igual.
É nesse ponto em que o filme perde para “Cães de Aluguel”, pois, no filme noventista, sabemos as motivações de cada personagem para cada um dos atos cometidos ali e se por um lado, não saber quem ajuda quem é muito bom, pois auxilia na criação da tensão, e graças a um elenco que sabe o que faz a curiosidade de sabermos o final é o que leva a continuidade do filme. Se Brie Larson, como Justine, faz muito bem o papel de intermediaria da negociação, e nunca passa a impressão de querer ajudar ninguém que não seja si mesma (e ela é a única personagem que pode passar a impressão citada acima), Cillian Murphy como Chris, claramente pensa em apenas sair dali, com todos os seus companheiros vivos e para isso, ele tenta investir no dialogo, na conversa, na diplomacia, o que é a decisão inteligente a ser tomada.
Até porque, tudo aquilo (ou quase tudo) poderia ter sido evitado se todos os envolvidos conversassem antes de brigar, se os dois lados tivessem usado a cabeça e não o coração, talvez nada teria acontecido.
Assim como quase tudo em nossas vidas que acabam em brigas e conflitos, se, ambos os lados usassem a diplomacia, tudo ficaria bem. Por isso, “Free Fire” vale a pena ser visto, não é um filme perfeito, mas, se as pessoas enxergarem na situação alheia uma forma pacifica de resolver problemas, porque não tentar?
Formado em Jornalismo e apaixonado por cinema desde pequeno, decido fazer dele uma profissão quando assisti pela primeira vez a trilogia “O Poderoso Chefão” do Coppola. Meu diretor preferido é Ingmar Bergman, minhas críticas saem regularmente aqui e no assimfalouvictor.com