Estamos acostumados a sempre ver nas telas do cinema histórias excepcionais, personagens que se destacaram na vida e que praticaram feitos inéditos. Mas sabemos bem que esta não é a história de nossas vidas, pelo menos não da maioria de nós. Vivemos vidas ordinárias, comuns. E não tem nada de errado nisso.
Frances Ha é um filme considerado independente, lançado em 2012 e dirigido por Noah Baumbach, o qual conta a história de Frances (Greta Gerwig), uma jovem que está tentando encontrar seu rumo na vida. Frances é uma mulher formada, que divide apartamento com sua melhor amiga, não tem muito dinheiro à disposição, mas busca ser uma dançarina profissional. Porém, Frances evidentemente não possui o dom da dança e por algum tempo recusa-se a aceitar o fato. Aí mora a beleza do filme: ele é lindamente comum. O filme retrata um sonho que, assim como os nossos, às vezes não cabem na realidade.
Vivemos em uma época onde há o anseio do destaque e de sermos competitivos e melhores que os que estão ao nosso redor. Seja fazendo uma boa universidade, estando em um trabalho de prestígio, viajando pelo mundo. Queremos ser notados por nossos feitos e, lá no fundo, queremos que nossas vidas não passem despercebidas.
Mas a mensagem do filme vem no contraponto dessa ideia: apesar dos percalços e contratempos, Frances age com a mesma alegria de quem tem esperança na vida e na melhora das coisas. É como ela age diante das adversidades que causa estranheza. Mesmo perdendo espaço na companhia onde dança, sendo ignorada por sua melhor amiga diante de seu novo namorado, não tendo onde morar, Frances é autêntica e, sobretudo graciosa na desgraça.
Confesso que, à primeira vista, tamanha alegria me perturbou. “Ela precisa crescer, amadurecer”, pensei comigo. E acabei por ansiar o momento do filme onde isso acontece. Contudo, depois refleti – dádiva que bons filmes nos concedem – e concluí que não há nada de errado em encarar os tropeços com esperança e uma certa dose de comédia.
Um ponto de destaque é o fato do filme ter sido produzido em preto e branco, dando um certo charme à produção. Outro ponto extremamente positivo são os diálogos, que são tirados da realidade nua e crua das ruas e das nossas vidas, amizades e conversas de boteco.
Talvez toda essa competição do mundo moderno esteja nos cegando e nos impedindo de vivenciar todos os momentos – os bons e principalmente os ruins – com plenitude. São nas piores experiências que crescemos, dizem. Mas o que se extrai dessa produção é a beleza da vida em si, nas derrotas e no sucesso, que ao fim chega até mesmo para Frances, no seu próprio modo.