Nota do filme:
“Não se sinta mal sobre isso. Parte da jornada é o fim”
Tony Stark/Homem de Ferro
Vingadores – Ultimato segue a equipe após os eventos de Vingadores – Guerra Infinita, dentre eles o extermínio de metade das criaturas vivas de todo o universo. Desolados, Thor (Chris Hemsworth), Rocket (Bradley Cooper), Bruce Banner/Hulk (Mark Ruffalo), James Rhodes/Máquina de Guerra (Don Cheadle), Okoye (Danai Gurira), Carol Danvers/Capitã Marvel (Brie Larson) encontram em Steve Rogers/Capitão América e Natasha Romanoff/Viúva Negra a liderança da resistência contra Thanos (Josh Brolin). Ao mesmo tempo, Tony Stark/Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e Nebula (Karen Gillan) vagam pelo espaço, sem comida, água e perspectiva de resgate. Seus planos para escapar falharam e, até o momento, apenas esperam pelo fim.
É justo dizer que nunca antes na história houve um filme como Vingadores – Ultimato. Há um certo conservadorismo na abordagem do tema, talvez por se tratar de um blockbuster de um gênero que muitos consideram “inferior”, entretanto, tal afirmação está longe de ser um exagero. Isto porque, com todos os seus defeitos, a criação do MCU, cujo início se deu ainda em 2008, com Homem de Ferro, é um feito sem precedentes no cinema. Dessa forma, por mais que não seja o encerramento total desse Universo Cinematográfico, permanece certa melancolia, não em sua despedida absoluta, mas no fim da jornada de personagens que a tanto tempo acompanhamos.
Após onze anos, é natural que haja um certo vínculo entre a audiência e àqueles em tela. A criação de uma linha contínua torna esse acompanhamento quase tão íntimo quanto de uma série televisiva semanal. Anthony e Joe Russo sabem disso e se aproveitam de tal elemento para, já no começo, quando subsiste um sentimento de luto decorrente dos eventos anteriores, lançar nossos heróis em cenários, até então, impensáveis. Nesse sentido, este é, certamente, um dos maiores feitos do roteiro, uma vez que, em um projeto dessa magnitude, faz-se necessário reconhecer certos vícios na fórmula, por vezes para subvertê-los, por vezes para aumentá-los.
Ao mesmo tempo, não há pressa na conclusão de seus arcos, de modo que o filme se utiliza de seu longo tempo de duração com excelência, fazendo com que flua de maneira invejável. Dessa forma, por mais que no decorrer do segundo ato seja nítida a dificuldade no desenvolvimento, este é amplamente compensado pela qualidade geral, que se mantém alta no decorrer da obra.
Nesse sentido, em especial, ressalta-se a excelência do terceiro ato. Perfeitamente balanceado entre avanço narrativo e momentos marcantes, é impossível não se empolgar e, por que não, se emocionar, à medida que o clímax da história se desenrola. Há espaço para todos os personagens, uma vez que os diretores foram competentes em variar tanto entre os protagonistas clássicos, como Homem de Ferro e Capitão América, como aqueles que serão a nova face do Universo Cinematográfico, como Capitã Marvel.
Algumas decisões, contudo, mostram-se equivocadas, dentre a qual se destaca o arco pelo qual passa Thor. Sabe-se, desde a sua concepção, no início do MCU, que é um herói de difícil manuseio por incontáveis motivos. Todavia, em Vingadores – Guerra Infinita, pareceu haver uma sedimentação de sua persona como Rei de Asgard e Vingador. Aqui, infelizmente, ocorre uma regressão, na qual o seu desenvolvimento é extremamente prejudicado em troca de um alívio cômico que, não raramente, destoa completamente do tom do resto do filme. Ademais, acerca do roteiro, é impossível não notar determinados furos, frutos, certamente, da dificuldade de se encerrar, ainda que parcialmente, uma narrativa tão vasto quanto essa.
Entretanto, nada disso é suficientemente prejudicial ao longa, tendo em vista o maior mérito da Marvel no decorrer desses onze anos: o conjunto da obra. Por mais que conte com defeitos, alguns deles, inclusive, sérios, Vingadores – Ultimato se mantém firme em decorrência de sua totalidade. Há excessos e, por vezes, equívocos, mas são situações que a audiência está disposta a perdoar, dado o seu extremo apego aos personagens, saldo geral positivo e, em última instância, catarse emocional decorrente do final de um ciclo tão significativo.
Ciente da importância deste encerramento, o estúdio compreendeu a necessidade de criar momentos icônicos sem, contudo, abrir mão da coesão. Dessa forma, por mais que determinadas situações possam ser atribuídas ao conhecido fan service, o contexto permite a sua inserção de maneira natural. Não se trata de uma cena desconexa, sendo a sua única função servir de aceno aos fãs. Ao contrário, os irmãos Russo encontraram um delicado equilíbrio, cujo resultado irá agradar tanto aos espectadores mais casuais, quanto àqueles mais imersos no MCU.
Sendo assim, chega ao fim um dos projetos mais ambicioso da história do cinema, iniciado mais de uma década atrás. Vingadores – Ultimato tinha a difícil tarefa de concretizar expectativas e desejos em algo palpável e acessível. Sua conclusão, por mais que não seja perfeita, demonstra um dos aspectos mais importantes na criação de um Universo Cinematográfico: controle narrativo. Encerrar um ciclo é algo difícil e melancólico, ainda mais quando consideramos o valor histórico da experiência. Felizmente, o final não será definitivo, e esses onze anos não serão esquecidos.
Carioca, advogado e apaixonado por cinema. Busco compartilhar um pouco desse sentimento.