Nota do Filme:
As comédias românticas atraem diversos tipos de público, tendo algumas grande apelo popular que conseguem romper o status de datada, tornando-se mais famosa conforme os anos vão passado. E, quando todos os elementos que caracterizam o gênero se juntam ao charme e humor francês, têm-se algo bastante agradável e charmoso, por mais estereotipado que isso possa soar.
“Nove anos depois de deixá-lo pelo seu melhor amigo, a agora viúva Marianne (Laetitia Casta) volta para o jornalista Abel (Louis Garrel). Porém, o que parece um belo recomeço logo se mostra bem mais complicado e Abel se vê enrolado em um monte de drama, como as maquinações do estranho filho de Marianne e a questão de afinal o que aconteceu com o ex marido dela.”
Louis Garrel assina o roteiro e estrela o seu segundo filme como diretor, mostrando que possui potencial para ser um bom profissional no futuro, visto que, apesar de não ser algo que se destaque, ele executa o básico perfeitamente, o que causa uma sensação agradável para quem está assistindo. Por exemplo, ele não abusa quando utiliza a câmera na mão para não criar uma atmosfera documental sobre o longa e sabe quanto utilizar da câmera no rosto em close, de modo a criar dramaticidade.
Contudo, o grande ponto positivo do filme é o roteiro, que é bem objetivo quanto à conclusão da narrativa, além de empregar narrações em off e voice-overs na trama sem soar piegas ou preguiçoso, deixando tudo fluir de forma bem enxuta. Ainda, é válido ressaltar que, por mais simples que o texto seja, desenvolve os personagens conforme a situação pede, e ainda oferece um momento em que desconstrói um pouco o gênero do longa com a sua cena de abertura.
Além disso, por mais que os personagens não possuam inúmeras camadas para se aprofundar, a atuação do trio principal é ótima para o que o roteiro exige. Louis Garrel encarna o eterno romântico apaixonado, Abel, com seus poucos sorrisos e sua cara fechada, mantendo o mesmo humor desde o início. Laetitia Casta dá vida a Marianne, a rebelde indomável que amou os dois homens de sua vida, priorizando sua liberdade acima deles. E Lily-Rose Depp como Eve, cuja primeira e eterna paixão é Abel, além de ser cunhada de Marianne, “digladiam-se” com ela por seu amor, carregada pela inocência que ela possui com a situação.
Ademais, é necessário ressaltar o trabalho da direção de arte, edição e fotografia, pois esses três elementos criam a atmosfera temporal do longa. A primeira ambienta os personagens em um romance que poderia facilmente se passar nos anos 80, não fosse os poucos smartphones que surgem durante a projeção, deixando-os descolados de alguma época específica. A segunda dita o ritmo durante as passagens de tempo, ocorrendo através de anos e, depois, em dias, sem que a audiência perceba o quanto se passou. E a terceira utiliza tons de cinza e cores frias, de forma a ressaltar o trabalho da direção de arte ao se desgarrar de um período específico.
Portanto, por mais que não seja um filme profundo, Um Homem Fiel é um ótimo trabalho de Louis Garrel, que evita o rótulo de mais uma comédia romântica nos tempos modernos, por mais simples que a narrativa seja, sendo uma excelente escolha para quem procura filmes do gênero que não sejam ultra processados, como os inúmeros longas desse tipo que, por exemplo, a Netflix lança.
Apaixonado por cinema, amante das ciências humanas, apreciador de bebidas baratas, mergulhador de fossa existencial e dependente da melancolia humana.