Nota do filme:
Os desgastes das relações humanas são inevitáveis. As pessoas vão sustentando os relacionamentos na medida do possível até que fique insuportável para uma ou todas as partes, ou, então, não consiga atingir esse ponto por pura sorte, demonstrando a efemeridade da questão.
“Após 25 anos de casamento, Marcos (Ricardo Darín) e Ana (Mercedes Morán) começam a se questionar sobre o amor, desejo e fidelidade, levando-os a tomarem uma decisão que muda suas vidas para sempre.”
Juan Vera apresenta uma história bastante madura, um pouco diferente das comédias românticas convencionais, pois, além de usar dois artistas bastante conhecidos, a questão amorosa se desenvolve após tudo. O casal já teve um filho, conviveram anos juntos e agora não sabem a que ponto relacionamento chegou e, justamente por isso, surge a leveza e o humor que permeia a narrativa.
Para isso, o roteiro é conciso ao estabelecer diálogos adultos, tanto para a dupla principal quanto para os personagens secundários, elevando a outro patamar a profundidade dos assuntos abordados. Além disso, por abordar o tema sob uma ótica mais madura, dá autenticidade à performance dos dois protagonistas.
Ademais, a química de Ricardo Darín e Mercedes Morán é o que move o longa pela seus intermináveis 129 minutos, em que o próprio texto faz questão de fazê-los com personalidades opostas, o que é ressaltado pela atuação das duas estrelas. O primeiro incorpora um homem calejado, sensível, recatado e mais tímido, aliado a todo o talento de Darín que entrega uma performance contida, utilizando muitos olhares para transmitir seu sentimento, além da própria linguagem corporal que se mostra como uma pessoa mais reclusa. Já Morán é mais extrovertida, disposta a conhecer novos horizontes, além de saber o que quer a todo momento, sendo que a atriz irradia essa ternura com seus sorrisos e suas ações, sempre disposta a se arriscar.
Contudo, por mais que o script acerte em cheio na relação do ex casal, as experiências vividas por eles após o término são vazias, com os personagens que se envolvem sendo facilmente esquecidos, além de passar uma sensação de embromação. Ademais, se a intenção do diretor/roteirista era transmitir a efemeridade dessas relações, não teve muito êxito nessa tarefa.
Ainda, a edição trabalha a favor dessa liquidez das relações, pois, ao ditar o ritmo em que os relacionamentos começam e terminam, a audiência não sabe quando começa, onde termina, quanto tempo se passou, criando um sentimento de confusão na linearidade dos acontecimentos, prejudicando ainda mais o que não foi bem trabalhado.
Portanto, Um Amor Inesperado pode ser visto sob uma ótica de uma experiência que poderia ter um resultado melhor, pois, apesar dos seus defeitos, tem inúmeros pontos positivos, além de demonstrar como os argentinos possuem um cinema de primeira qualidade, mesmo que esse não seja o melhor filme realizado por eles.
Apaixonado por cinema, amante das ciências humanas, apreciador de bebidas baratas, mergulhador de fossa existencial e dependente da melancolia humana.